Thursday, June 13, 2013

morte e vida do meu projeto de conclusão de curso, parte 4

as fotos de helmut, que trabalha como modelo vivo em aulas de arte pra passar o tempo (ele tem 60 e tantos anos!), eu fiz com a yashica. queria 6x6 porque achei que "enjaular" os corpos num foto quadrada fazia mais sentido do que soltá-los na compridez de outros formatos.

usei flash, tripé, disparador de fio, o caralho. fiz tudo direitinho, com paciência e calma, mas graças a deus não deu certo.

eu já contei aqui que minha primeira ideia não deu em nada, mas queria realmente mostrar o que saiu:

porra nenhuma!

no diário

como também já adiantei, meu projeto novo é sobre mulheres vivendo com HIV que não pertençam aos so-called "grupos de risco" (não que esse nome seja atual, mas ainda está no imaginário das pessoas que é assim que o HIV se manifesta: em gays, prostitutas e viciados em drogas). 

minha motivação é como sempre muito simples e muito pessoal: entre 2005 e 2007, perdi três pessoas muito próximas e queridas pra aids. uma delas, a típica pessoa que a gente pensa "ai nunca imaginei que ela teria HIV" (casada, com filho, heterossexual, professora, vidinha burguesa)  foi a que mais sofreu, pois com medo da reação da sua família e da sua comunidade, nunca contou pra ninguém e nunca fez tratamento, tendo uma morte lenta e dolorosa. 

sempre me perguntei se ela morreu de aids ou de preconceito. essa pergunta ficou anos na minha cabeça. tenho um monte de lembranças dela saudável e depois, doente de algo que ninguém sabia o que era. e ainda tenho na cabeça as lembranças das coisas que não vi, que me contaram depois - as humilhações que ela e seus familiares passaram no hospital, a dificuldade de receber atendimento médico digno, a solidão, a demência nos seus últimos dias etc.

entre as novas infecções, o perfil que mais aumenta é o da mulher casada em relação hetero e (ao menos oficialmente) monogâmica. ou seja, se ainda se pode usar hoje em dia o termo grupo de risco, então é pra esse. antes que comecemos aqui a medir quem sofre mais, quero deixar muito claro que EU SEI que o preconceito ainda existe pra todos os hiv-positivo deste mundo, mas a comunidade gay é muito mais engajada e organizada (ie how to survive a plague, documentário maravilhoso com os maravilhos peter staley, jim eigo etc.), tendo assim sendo um certo nível de apoio entre si. já os grupos hetero parecem ainda ter vergonha de ter HIV, sendo completamente desarticulados. ninguém fala abertamente sobre isso - e consequentemente, ninguém se ajuda.

com isso no coração, estou cruzando a alemanha, procurando (e encontrando) mulheres como essa, que eu perdi pra aids e pro preconceito. essa foto é a primeira foto que fiz, no caminho pra wuppertal, onde fotografei manuela, uma mulher de 40 e poucos anos vivendo com HIV desde 1998. 

no trem


depois conto mais.





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