Monday, January 15, 2024

dia 3, marselha

Quando os nazi vieram para cima dos comunistas, eu fiquei quieta: eu não era comuna.
Quando eles foram pra cima dos sindicalistas, eu fiquei quieto: eu não era sindicalizada.
Quando eles vieram pra cima dos macumbeiros, eu fiquei quieta: eu não era macumbeira.
Quando eles vieram pra cima de mim, não tinha sobrado ninguém que pudesse lutar por mim.

 

Esse é o talvez o trecho mais famoso de “Zuerst kamen sie”, texto de 1946 do pastor alemão Martin Niemöller, traduzido para o recifês por moá. Deu muito tempo para pensar nele enquanto batia uns 13 km de trilha com Renata.

Pensei no texto hoje porque lembrei de e estou na terra dela, Annie Ernaux, a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura que poucos dias atrás se juntou aos mais de 500 artistas, cineastas, escritores e trabalhadores da cultura de todo o mundo, que anunciaram uma campanha contra a posição da Alemanha na guerra de Israel em Gaza, convocando a comunidade a boicotarem associações financiadas pelo Estado alemão.

Mas Annie é uma exceção entre intelectuais europeus brancos. E o texto de Niemöller é justamente sobre o silêncio dos intelectuais e do clero alemães após a ascensão dos nazis ao poder e a violência subsequente que cometeram contra inúmeras comunidades europeias – de desempregados a trabalhadoras sexuais, de moradores de rua a judeus, de homossexuais a romanis, de comunistas a testemunhas de jeová.

No original, Niemöller não fala de macumbeiros, fala de judeus, mas se trata acima de tudo de solidariedade com as comunidades perseguidas pelo fascismo e pelo nazifascismo, através dos tempos. 

Hoje não tem metáfora de encerramento do post, kkk, já basta o poema. E aqui, umas fotos da trilha:







Renata e uma cratera misteriosa


Eu pensando em Niemöller, Annie e na vontade de mijar que eu tava




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