Saturday, August 21, 2010

e se?

uma questão me intriga há muito tempo. o tópico que hoje vou dividir com vocês, aliás, é velho assunto pros ouvidos de alguns poucos amigos com quem posso compartilhar mais a fundo o fato de que passo muito tempo pensando muito em coisas que,
que,
sei lá.

pois sim:

e se?

a questão central da minha indagação versa sobre aqueles 2 segundos entre uma escolha e outra. picture yourself numa bifurcação, tipo aquela d´o mágico de oz. você está à frente de duas (às vezes mais, se a vida for difícil (ou fácil)) possibilidades. você tem que, como dizem, "fazer uma escolha".

são decisivos aqueles 2 segundos entre uma coisa e outra.

sempre me pergunto os elementos cruciais que determinam uma escolha no lugar de outra. e sempre me pergunto, ainda mais dolorosamente, os outros caminhos possíveis que se me estariam disponíveis se eu tivesse escolhido o outro percurso da estrada (os quais nunca vou conhecer).

perguntei isso a armin, na nossa última (eu não sabia que era a última) noite juntos, na beira do rhein:

"sempre me pergunto os caminhos que te fizeram sentar na minha mesa, naquela noite em lisboa".

para o que ele respondeu:

"ivi, eu sentei na sua mesa porque era a única com uma cadeira vazia".

para o que eu pensei, um pouco decepcionada com a falta de visão do bávaro:

"sim, imbecil, mas o que fez com que todas as cadeiras estivessem ocupadas e a única vazia fosse exatamante a minha?".

talvez esse fato (o fato dele não ter conseguido dar continuidade à conversa, ou o fato de eu ter desistido de dar continuidade à ela) fosse o mais contundente sinal de que pouco adiante poderíamos ir.

eu sempre me pergunto:

e se aos 12 anos eu não tivesse tido aquela crise de asma? e se minha mãe não tivesse me levado àquele consultório? e se minha vó não tivesse saído da sala?

aí eu não teria amado hole, não teria feito tatuagens, não teria escrito poemas suicidas com 13 anos. eu teria medo de abordar o menino com cabelo cor de areia de praia molhada, eu teria um namorado dos 15 aos 25.

talvez eu tivesse sido normal.

e se eu tivesse sido normal,

eu não teria me entregue a isso tudo, eu teria mais tédio, eu saberia que tinha coisas a perder e teria feito as entediantes escolhas seguras.

e eu teria sido feliz.

mas se eu tivesse sido feliz,

eu não teria escrito tanto, e fotografado tanto, e amado tanto, e ouvido tanta música boa e tanta música ruim, eu não teria bebido tanto.

e se eu não tivesse bebido tanto,

eu não teria sido brutalmente magoada, e eu não teria que acordar sozinhasangrando e com medo, e não teria que ligar pra clarissa chorando.

e teria vivido pra sempre em recife.

e se eu tivesse vivido pra sempre em recife,

e nunca teria tido a grande depressão que me fez desistir de recife e finalmente viver minha vida em são paulo (que era já onde morava e não aceitava) e me fez querer ir cada vez mais longe.

e se eu não tivesse tido asma e ido ao médico errado e se minha vó não tivesse saído da sala e se eu não tivesse a sensação de que não tinha nada a perder e não tivesse falado com o menino com cabelo vocês-sabem-de-que-cor e não tivesse vivido como num filme e não tivesse bebido tanto e não tivesse acordado naquele quarto imundo e se não tivesse tido minha grande depressão,

eu não teria conhecido armin, e eu não estaria em berlim agora,

ouvindo edith piaf,
tendo a mais absoluta certeza de que eu não gosto de viver assim,
mas de que eu não poderia ser mais dona de meu destino,
e não poderia estar mais orgulhosa de mim mesma:

eu sobrevivi.

21 comments:

fefe resende said...

você VIVE. de verdade e em caixa alta. e se sua vida virar um filme, é cer-te-za de que ele não vai direto pra vídeo - que nem no cartazinho do meu lavabo, sabe?
sinta orgulho. E ARRASE AINDA MAIS. <3

Carol Monterisi said...

a vida pode ser vista como destino ou como uma sucessão de escolhas.

quando a gente escolhe encarar da segunda forma, a gente toma pra si a responsabilidade pela nossa vida: nossas decisões afetam (muito ou pouco, dependendo do caso) o resultado das coisas.

e a gente pode ver isso como uma super responsabilidade ou como uma chance maravilhosa de decidir o futuro. o nosso futuro.

ivi, não te conheço de verdade mas leio seu blog desde sempre. desejo de verdade que todas essas mil coisas que você está vivendo e sentindo (e que a gente só consegue imaginar pelo blog) rapidamente se tornem ferramentas para você ficar mais forte.

sofrer dói demais, mas faz a gente crescer.

beijos

Sazonitos said...

Sou eternamente encantada com seus textos. Ler o Vodka é uma das minhas inspiraçoes diárias!

aline xx

marcospaulo; said...

Ivi, mais do que sobreviver, você vive e inspira. Você é batalhadora e corre atrás do que quer e ainda conseguirá muito e alcançará topos cada vez mais altos. Sabe pq? Porque você merece, porque você é talentosa e porque você tem a alma imensa. Tão imensa, que eu sinto daqui, sem ao menos ter conversado contigo durante muito pessoalmente.

Um beijo, linda!

Natalia Venturini Pessutti said...

Sabe Ivi, o "se" não existe, por isso não pergunte por ele. Ele deixou de existir no dia que vc escolheu o caminho que escolheu. Acredito que tudo o que passamos nessa vida é uma mistura de destino com livre arbítrio. Determinadas coisas conseguimos manipular da nossa maneira, outras não. E não nos cabe perguntar porque, e sim agir da maneira mais correta segundo nosso bom senso na hora da escolha. Beijosss.

Anonymous said...

lindamente explicito seus autos e baixos cheios de fé.. por isso venho aqui admirar suas escritas sem tu se importar.. isso pouco me importa.
voltarei mais vezes..
beijos brava!!

Anonymous said...

Ah e ainda vou escrever um post em meu blog sobre você... do pouco que sei, só preciso de inspiração, pq ela me tem faltado.
beijos de novo..
vou dormir.

Polinha said...

e se...
ñ houvesse adelaide, aka ivi, e se ñ houvesse carol, aka carolitas...
vcs ñ estariam dando asas uma pra outra p/ voar...
e eu q sou normaloide ia ter quem p/ admirar?
e se...ñ houvessem nós normaloides em quem vcs iam provocar a mudança?
e se...e se...ivi, essas questão sempre vai nos acompanhar e a esposta pode demorar a vir entre um gole e outro mas sempre sera a mesma, temos orgulho de quem somos pq só nós sabemos o que é ter a nos mesmos como companhia e saber que somos ponta firmes com a gente mesmo, isso ñ segue p/ solidão ñ, segue p/ um dia apos o outro onde novos sonhos surgirão, e esses sonhos ñ vao ocupar a cadeira vaga, ou a parede branca da galeria, vão ocupar a parte que lhe cabem.
com orgulho de ti e amor,
polinha

Unknown said...

Orgulho de vc!
Viva cada dia de uma vez, sendo feliz!

Talita*.* said...

Caralho vc é foda.
Só isso que tenho pra te falar hoje.
Tenho orgulho de ti como teria de uma amiga bem próxima e querida.

Paulo Mamedes said...

É incrível a sua sensibilidade, tanto com a escrita quanto com as imagens...

Adoro ler os seus textos!

Beijos

Tati said...

Ivi querida, hoje, a primeira vez que entrei no seu blog e li este último post... então vi a mim mesma aí do outro lado em termos de sentimentos e então devoreis tooooooodos os posts desde 2009 podendo visualizar cada dia e curiosa com oq acontece com armin, foi qdo num post eu entendi... assim como eu vc tb é leonina.
Obrigada por existir. Estarei sempre aqui desde agora e espero q continue aí e um dia me conte sobre armin.
Bj

Tati said...

Ivi, meu bem, foi incrível ter te conhecido hoje e mesmo assim te conhecer desde 2009. Mas já passam das duas da manhã e preciso parar de pensar onde você está agora e quanto seu coração deve estar doendo e a cabeça explodindo... Mas não morra agora, não morra hoje ainda não, pois me encontrei dentro de você e quero continuar vivendo isso...
Assim como os pacientes com doenças imunossupressoras, a febre ou uma dor de cabeça são sinais positivos de que o corpo está reagindo... Essa dor de coração é necessária, indica que você está se defendendo, que algo está cicatrizando, o sofrimento é necessário...

Miss X said...

Perder-se tb é caminho, não é?

dramaqueen said...

a dor da gente não sai no jornal
beijos da sua leitorinha que


sofre mesmo.

muito.

dramaqueen said...

A dor da gente não sai no jornal

bjos da sua leitorinha que também

sofre mesmo.

muito.

Unknown said...

Caraca!!!
Essa parte do orgulho de estar viva é alg fantástico.
Aí eu continuo os "e se" p dizer q e se vc nunca tivesse feito nada disso q vc faz, como eu ia te conhecer?
Será q ia ser feliz sem ler textos q todo dia me fazem mto feliz pq é algo q sempre penso,
mas n tenho essa sensibilidade p traduzir?
Questione sempre.
O conhecimento é fantástico e
são esses tipos de questionamento q nos levam as descobertas mais legais da vida.

=**, Jowzinha

Natalia Venturini Pessutti said...

Oi Ivi, passei aqui pra te deixar um link de um vídeo que minha irmã postou no blog dela e quando assisti lembrei de vc! Achei lindo! Vou deixar o link, caso assista me diz se gostou. Beijosss.
http://www.youtube.com/watch?v=k7X7sZzSXYs

Emanuela said...

você é ótima

My Dear Messy Days said...

Nossas escolhas desenham nossos caminhos.
e se? e se tivessemos feito outras escolhas?
bem... não teríamos vivido tudo de bom que vivemos até hoje. E nem passado pelos momentos tristes que nos fizeram crescer.
Força, Ivi.
Isso vai passar.
Quero que encontres alguém que te preencha de amor e que, assim, te faça esquecer o Armin.
Um broken heart se cura com um novo amor. :)
Permita-se. ;)
Beijas!

Unknown said...

é isso aí, ivi !
aponta pra fé e rema ;)