Tuesday, September 29, 2009

epílogo*

(...) voltei pro oasis tão feliz. e descendo a ladeira de santa catarina - sempre ela - com o tejo - sempre ele - a me observar, entendi o mais importante:

foram três meses de pura auto-celebração. e agora esse maremoto todo, toda essa fantasia, todas essas lágrimas, todo esse descabelamento... they are not about armin. não são por ele, não são para ele.

é tudo pra mim.






*trecho escrito no (e copiado do) meu diário moleskinal, depois do meu último e espetacular almoço lisboeta.

Sunday, September 27, 2009

130. uma carta que nunca será lida

meu amor,

queria poder devolver pra voce um quinto do que voce me deu. um pouquinho so, que seja, que fosse. como nao sei, e como nao consigo, e como nao eh possivel, comprei pra voce esse livro de eduard munch - a 12 euros na livraria aqui do lado!

tu me dissesse uma vez que eu te apresentei aa luz. eu te digo que tu me apresentou a mim mesma. brigada.

tu me dissesse uma vez que esse nosso encontro aconteceu muitas e muitas vezes antes mesmo da gente se conhecer, e que ele acontera muitas e muitas vezes e de novo e de novo. eh nietzsche, tu me explicasse. eu gosto de nietzsche, agora.

eu gosto de tu, também.

entao eu fico feliz de saber que todas essas manhas em que acordei com teu cabelao espalhado em meu rosto; e todas as vezes que tu fez macarrao de microondas pra mim; e todas as vezes que a gente ficou lendo noticias ridiculas no jornal, na grama; e todas as garrafas de vinho que a gente bebeu; e todas os beijos; e todos os campeonatos de staring at each other eyes que eu sempre perdi porque tu ficava zarolho e me fazia gargalhar e perder; todas as aulas de alemao que tu me deu; todos os jogos de futebol que a gente viu no computador; todas as vezes que tu riu do pelelo; que tu deixou eu te amar; todas as vezes que tu disse que ama; todas as vezes em que viajei e voltei e tu foi me buscar na estacao de trem com os mesmos olhos cor de rio que eu amo tanto...

... vao acontecer de novo. e de novo. em algum lugar. dentro de mim. dentro de tu. e no universo inteiro.


entao eu sugiro o recomeco agora mesmo: "hi. where are you from?"

Saturday, September 26, 2009

129. free

as bird.







diz aquela banda ingresa.






"Can we really live without each other?"

128. nao morrer de véspera é uma arte

e eu simplesmente nao paro de me matar um pouquinho, todo dia, pensando que eu tenho que ir embora.

é que quando eu olho pra esse homem existindo na minha frente, eu fico a me perguntar: é covardia que me faz voltar? é bom senso? é a vida?

que porra.

127. mondrian no museu ludwig...

sentei na frente da tela e fiquei aqui pensando...

parece os quadro fajuto que os pessoal vende na teodoro sampaio perto da benefito calixto. falei.

Friday, September 25, 2009

126. brauhaus e brigadeiro

ontem a gente foi jantar numa brauhaus, casa de rangos alemoa.

eu pedi carne de cavalo (me deixem, eu preciso viver a vida!) com umas bolotas de batata e pure de maca (nao tem cedilha nem til no computador dele, antes que voces pensem que eu comi uma cama de hospital). a coisa mais delicia da vida.

armin pediu uma linguica feita de sangue (ECA), blutwurst, que eu particularmente acho uo. mas quem come carne de cavalo pode falar nada de ninguem, né?

foi uma deli.

agora o bichinho foi trabalhar e eu to aqui ouvindo beatles e criando coragem pra sair de baixo das coberta e fazer brigadeiro pra quando ele chegar amanha de manha abusadinho. o brigadeiro, alias, é um oferecimento de carol, que me deu uma lata de leite moca de presente, em berlim!

125. Fußballspiel

quando eu falei pra armin que nunca tinha ido num jogo de futebol, ele mal pode acreditar. afinal, ora essa, eu sou brasileira.

pois que ele tratou de resolver a questao em menos de 24 horas: comprou dois ingressos pruma partida de fc köln e outro time aí.

antes da partida ele me ensinou o hino do time, a escalacao, o jogador mais importante (lu-lu-lu lucas podolski!!) e tudo o mais que eu precisava saber.

fomos pro estádio eu, ele e os amigos dele do colégio. foi, depois da cachaca ao pé da torre eiffel e a sessao de queijo e vinho no miradouro de santa catarina, a minha melhor noite na oropa!

claro que a vibe de um jogo na europa é totalmente diferente do que parece ser no brasil, e mermo eu tendo pavores de multidoes nesse dia tive medo nao porque os pessoal da alemanha é tao civilizado! e a torcida é assim: eles aplaudem os lances bonitos, como num show de musica, bem adestradamente! claro que quando os pessoal faz um gol aí eles perdem a finesse, e é massa ver a alemaozada se pendurando uns nos outros.

eu tinha tomado umas kölsch com meu homem e gritei meus pulmoes out, foi uma deli!

o fc köln ganhou de 3 a 2! aí a gente foi nuns pubs e foi massa ver os bebo cantando as músicas dessa regiao com o sotaque kölsch, que é muito engracado!

mas aí armin encheu as fuca e eu tive que trazer esse alemao de doismetro pra casa. o bichinho, ficou tao bebo que nem foi pra aula no outro dia. eu achei otimo! hahahaha

124. ameliepoulanizando a vida dos outros em köln

o outono comecou oficialmente, na alemanha, mas o sol insiste em ficar. coisa boa, porque, com sol ou nao, continua friiiiio.

eu gosto muito daqui, apesar de nao ter falado muito da cidade. armin mora perto do rio e eu sempre vou pra la de manha, quando ele ta na aula e eu nao tenho nada pra fazer.

anteontem eu terminei de ler veronika decides to die. deixei o livro na margem do rio.

no fim da tarde passei pelo mermo lugar e o livro nao estava mais. pode ser que tenham jogado no lixo, hihi, mas espero que ele inspire quem o ler do mermo jeito que ele me inspirou.

facam isso, amigas: deixem num lugar movimentado um livro, uma flor, um pedaco de papel com um poema. quem sabe a gente num alegra o dia de alguém com tpm.

Wednesday, September 23, 2009

123. uma última consideracao sobre paris (ou "num banquinho do jardim de luxemburgo eu sentei e chorei")

é, pois é. pra quem nao gostou de paris é um pouco controverso dedicar tantos posts a ela, né? talvez eu nao tenha entendido ainda.

deixa eu dizer o que já disse: paris é massa. mas deixa eu dizer o que nao disse: o que estraga sao os parisienses. POVO CHATO DO CARALHO!

era meu último dia e eu estava a caca (nao tem cedilha aquiiii) de um mille feuille. entrei numa lojinha e pedi (em frances, que joli me ensinou). mas aí eu queria avisar que era pra viagem, e nao sabia como dizer isso em francês, e falei em inglês: it's to go, s'il vou plait!

e o francês idiota falou (juro em cristo): se você nao fala frances veio fazer o que na franca?

agradeci em ingles, cancelei o pedido em ingles e me despedi em portugues, com um sorriso bem simpatico, dizendo: e pode enfiar esse mille feuille no meio do seu anal.

ah, desculpa. eu tô aqui gastando meus reais no país dos outros pra ser esculhambada por um francês suvaquento? EU MERMO NAO!

§

enfim. há males que vêm pro bem e eu achei, um pouco mais a frente, uma lojinha linda, linda, linda, chamada dalloyau. me trataram como uma princesa, porque lá é caro e eu nao fiz questao de gastar uma pequena fortuna nos doces mais lindo que já vi.

atravessei a rua ansiosa a caminho do jardim, doida pra devorar aquelas coisinhas lindas.

§

no coreto do jardim, uma orquestrinha se apresentava. eles estavam tocando trilhas sonoras de filme.

abri meu mil folhas de devagar. mordi devagar. e uma pequena lágrima de deleite gordo caiu do meu terceiro olho.

§

pra terminar, um trecho do poema jardin du luxembourg, do meu novo poeta preferido, erich kästners:

dieser park liegt dicht beim paradies.
und die blumen blühn, als wüßten sie's.
kleine knaben treiben große reifen.
kleine mädchen tragen große schleifen.
denn die stadt ist fremd. und heißt paris.


§

e pra quem tá com saudade da minha fuca, a única foto de mim em si na europa.

122. 10 motivos pra amar montmartre

1. é uma bagunca
2. parece com olinda (FALEI!)
3. cheira a comida gostosa
4. a placa do metrô é retrô
5. tem a frutaria de amelie poulain e eu sou matuta e entrei e comprei aquelas mini geleinhas porque era barato e porque eu queria poder contar depois que fui lá hahaha
6. vi o bofe mais lindo de toda minha viagem depois de armin
7. pensei muito em gertrude stein, e na autobiografia de alice b. toklas, um dos livros que eu mais amo nessa vida
8. tem um instituto pra salvador dali numa das ruazinhas mais bonitas do bairro (e da cidade, talvez)
9. também pensei muito (mais até, talvez) em picasso, e fiquei imaginando ele e toda aquela patota subindo e descendo aquelas ladeiras
10. montmartre tem um quê de saudade.

121. por quê eu nao amei paris (demais)

paris é que nem hebe: nao tem como nao gostar. mas nao foi aquela paixao avassaladora, aquela tempestade torrencial de amor, como foi entre eu, lisboa e berlim.

enquanto eu perambulava por paris sexta e sábado, pensei várias vezes num trecho do samba da bêncao (vocês sabem como eu amo esse samba, uma vez que tenho ele tatuado nas cadeira):

Mas pra fazer um samba um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não

Senão é como amar uma mulher só linda; e daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade


substitui muitas vezes, na minha cabeca, a palavra mulher pela palavra cidade.

uma cidade linda, e daí? uma cidade tem que ter qualquer coisa além da beleza. é por isso amo tanto sao paulo.

mas entendi o sentido de "qualquer coisa que sente saudade" quando fui pra montmartre sozinha, no domingo. e aí amei paris um pouco mais.

120. vagabundando em paris

de bracos dados com minha amiga joli, a gente simplesmente comecou a andar. o mapa ficou na bolsa. pra que se achar se a gente pode se perder, nao é mesmo, pessoal?

depois de andar horas, entramos numa lojinha charmosa e compramos duas garrafas de vinho de cinco euros (nos demos esse luxo, se voce contar que vinho BOM aqui é um euro e pouco), duas baguettes (que nao carregamos no suvaco porque semo fina) e ementhal.

sentamos no pé da torre.

e enchemos a cara celebrando a nós duas - juntas ali, e separadas, e tudo o que a gente teve que viver, superar, amar, chorar etc etc. a vida nao é um bombom, diz armin, e eu concordo com ele e completo: mas todo dia a mais é um milagre!!

tivemos que comprar mais vinho, e depois nutela e mais pao pra ficar sóbrias (nao adiantou nada!!), passar embaixo da torre, olhar a torre daquele lugar que terry richardson fotografou anja rubik com o fiofó pra cima mas que eu nao sei o nome...

até a hora de dizer xau - porque era mais de meia-noite a gente estava sendo damas vagabundas em paris a mais de doze horas!

e o xau nao doeu nada. porque a gente sabe quando a pessoa vai junto com voce na sua vida mesmo quando ela vai embora.

Tuesday, September 22, 2009

119. estacao glacière, às 11h, por favor.

fui buscar joli na estacao de metro dela porque me senti tao culpada do bolo-nao-intencional que dei nela na noite anterior.

e quando ela veio vindo la embaixo a unica coisa que consegui fazer foi correr na direcao dela.

saudade é que nem fome: você só repara que tava sentindo quando come.

118. e aí, paris

nao, a terra nao tremeu. cheguei la mais de dez da noite e nao consegui encontrar minha pobre amiga, que ficou lá a me esperar e nada de mim.

quando deu meia-noite eu cansei de ficar olhando paris da janela do hotel e fui andar.

desci a xanzelizê inteira andando. até chegar no gran palé. peguei a direita levemente. atravessei a rua. cheguei na beira do rio e tomei um susto.

era a torre, dourada, risonha, cheia de si.

as luzes se derretiam no rio em amarelo, vermelho, branco e azul.


e eu do tamanho de um pinto, perto dela, acendi um cigarro.
e fiquei pensando.




foi um longo caminho.

117. tem um quê de morte na bélgica

de volta pra estrada.

o caminho pra paris teve cheiro de defunto. no acostamento, a quantidade de coelhos e raposas mortas por atropelamento me deixou nerviosa.

depois, na altura de liège, um acidentr envolvendo dois carros e uma moto mandou o motoqueiro sem escala para o outro andar.

ficamos horas parados na estrada, e quando o busao finalmente passou pelo acidente, só vi o corpo coberto no chao.

fiquei pensando naquela música de tim maia: nessa vida a gente tem que entender que uns nascem pra sofrer enquanto o outro ri.

explico:
nesse dia, eu acordei tirando sarro de armin que ele tinha que ir pra escola e eu tinha que ir pra paris, hihi (desencontro #1).

e enquanto eu estava naquela estrada a caminho de paris alguém ia ter que passar pelo mesmo lugar pra morrer (desencontro #2).

sei que é dramático, mas vocês entendem o que eu quero dizer? os destinos se cruzam e so tem um centimetro de distancia entre a bêncao e a tragédia.

a gente nunca sabe...

Thursday, September 17, 2009

116. waiting for my man...

eu demoli meu próprio muro mas às vezes parece que os soldados continuam me seguindo com ordens de atirar pra matar.




eu sou que nem a alemanha: não celebro, mas não esqueço. não tenho auto-indulgência, mas também não me culpo. não ergo bandeira pra mim mesma, mas não deixo mais mijarem no meu mastro.


gente como eu tô sabida hoje.

115. amelie poulanizando a própria vida

amanhã
às 20h
vou encontrar com joli
em paris
no número 56 da rue des trois freres
que vem a ser
a frutaria de amelie poulain.

a gente não vai se ligar nem nada.
é tipo um blind date.


espero que as fundações parisienses sigam de pé no momento desse encontro.

porque eu tenho cá as minhas dúvidas.

114. todo mundo tinha que ter uma marida brasileira

procurei na internet aqueles carros que os pessoal compartilha e paga bem mais barato do que trem, sabe??

viajei com uns alemão que nunca vi na vida e foi uma diversão.

um deles, qu só tinha metade dos dente, me disse que sua última namorada foi pro brasil: "a gente se despediu como se nada fosse. mas ela nunca mais voltou de lá!".

aí fiquei aqui pensando com meus botões: será que eu devia sequestrar armin??

ps: o título desse post é dedicado ao recém-criado blog com o melhor título do mundo!

113. mas que coisa (ou "traindo lisboa")

visitei algumas cidades sobre as quais pensei, depois que fui mimbora: "ai, amei".

hoje peguei a estrada de volta para berlim. são seis horas de casinhas com teto tronxo e vaquinhas marrons.

e a única conclusão que cheguei dessa vez foi: "berlim me amou".

AHAHHAHAHAHA

112. carol

carol é uma mineira bonita de cabelo comprido e fala doce.

aprendeu cedo que a vida é a arte do desencontro, pra depois entender com a vida de novo que quem não procura, acha. e carol achou um motivo de 1.90 pra se misturar que nem garoa nessa e dessa terra fria. que ela ama - e eu também!

a casa dela é uma relíquia da berlim do leste.

e ela em sim é uma dessas relíquias da vida.

eu nmdigo? deus colocou todas as coisas na mais perfeita ordem para que essa viagem fosse cheia de amelie-poulain-nizices.

na minha última noite ela me deu duas garrafas de cerveja da bavária (onde nossos homens nasceram), uma lata de leite moça (milch mädchen) e, ora essa, um pacotinho de farinha de mandioca.

ela é berlim, pra mim, agora.

e ela não gosta de mostrar mas tem um blog ótimo!

111. os meninos de berlim

eles passam por você
completamente alheios

e completamente inconscientes
de sua
m o n u m e n t a l
beleza.

eles passam por você
sem fazer a menor idéia
do estardalhaço silencioso que causam
nimin.

Monday, September 14, 2009

110. hallo aus berlin

peguei um desses carros compartilhados e fiz uma viagem de seis horas ouvindo o let it be repetidas vezes.

berlin.

vim pensando em todas as coisas que não fiz, porque eu me torturo. depois me perguntei o que eu quero carregar quando voltar de viagem: uma alma cheia ou um saco cheio.

não sei se me fiz entender.

o que importa é que os planos mudaram desde o primeiro dia em lisboa e minha alma è piena.

§

to aqui no hostel - amo hosteis - vendo um jogo de futebol muito feio (norwich vs. alguem ai) e tocou silverchair no radio do bar.

eu gosto tanto de ter a sensação de não pertencer a lugar nenhum...

§

pois é, leitorinho, eu também tenho a impressão de que fico muito chata quando to apaixonada. mas eu mereço, discurpe! :)

109. "das ist for you"




Weißt du was du mir bedeutest?
Auf einem Platz in meinem Herz
Steht dein Name an der Wand
Und ich will dass du es erfährst
Ich werde immer an dich glauben
Egal was auch passiert
Manche singen von ihm
Ich sang die ganze Zeit von dir





acreditei não quando ele disse e cantou isso.

depois parou e disse: chega, estou ficando com vergonha.

108. eu to promovendo meu ultimo disco

proxima parada da turne de divulgacao do meu mais recente album: berlim!

essa parte da turne eh um oferecimento da leitorinha carol, que vai receber eu e os membros de minha banda na sua morada!

Sunday, September 13, 2009

107. preeti, eh o nome dela

na minha aula de alemao tem uma indiana linda chamada preeti. preeti, vale dizer, antes de tudo, significa amor numa dessas trocenta lingua que os pessoal tem la na india.

convidei essa mulher linda pra almocar comigo na sexta. e fiz um milhao de perguntas pra ela - comecei pedindo perdao, antes de tudo, pela minha absoluta ignorancia em relacao aos costumes do pais dela. ela respondeu tudo com entusiasmo.

ela me disse que nao usa sari em köln so porque eh frio demais, mas que em todo o resto dos canto mundial ela usa sari.

ela me falou que vem de uma familia relativamente moderna, que deixou ela escolher o proprio marido e - que modernos! - nao se importaram (demais) com o fato de que o marido escolhido por ela era de uma casta inferior aa dela.

ela me falou que la nao tem essa historia de namorar umas nêga e se casar com a que parece que da certo. ela me falou que era amiga do seu atual marido ha quase um ano, quando ele chamou ela pra jantar e perguntou se ela queria casar com ele. so depois de pedi-la em casamento eh que eles comecaram a namorar. se casaram uns anos depois.

ela tem 27 anos, eh casada ha quatro.

perguntei sobre os casamentos arranjados e, sem nenhum resquicio nem de julgamento nem de fanatismo, ela simplesmente disse: "meus pais tiveram um casamento arranjado, todas as minhas irmas e primos tambem. eu acho que os casamentos arranjados podem fazer muito bem a uma pessoa, porque as vezes a pessoa nao encontra um par".

preeti:
eu concordo plenamente! imagine, casamento arranjado no brasil! seria otimo nao ter que esperar trocentos anos pra encontrar um homem decente! os pais fariam uma curadoria mara de um bofe taurino honesto e a menina casaria sem ter que ficar gastando a figura nas mesa de bar!

106. em resumo

dois estranhos a caminho do bar.

tudo que eh demais eh demasia e pesa. amor tambem. chega uma hora em que na estrada aparece uma bifurcacao e a vida, essa moca faceira, solicita uma escolha.

dois estranhos sentaram no bar.

e falaram brevemente.

quer dizer, como o de costume,
ela mais.
ele menos.
mas com que exatidao.

concliu que nao ha o que fazer.
eh isso e pronto:
quem tem medo de mar?

contra mar tem aviao, barco e bóia.

voltaram pra casa bebados e felizes. ja nao se estranhavam mais.

105. brigada, amiga.

eu mandei um email pra ela pedindo conselho porque ela mora do outro lado do mar e entenderia de amore com um mar (real ou cultural) no meio.

ai ela respondeu usando o poeta preferido do homem que ta fumando aqui do meu lado:

Para além da curva da estrada
Alberto Caeiro


Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.


eu li isso e falei: dress up, bavarian, we got a city to love!

ai a gente foi pro bar. resolver as coisas sem tentar prever o que tem depois da curva.

104. uma nova semana

ontem, pela primeira vez que sai do brasil, fiz o shabat. ontem fez, diferente do resto da semana, e foi um momento especial.

e ontem mesmo tudo voltou ao normal.

eu acredito mesmo em jah e no poder da cabalinha, minha gente. acredito mermo.

dia desses eu tive uma crise de choro bem mulherzinha e comecei a rezar pra jah pedindo uma solucao e me lembrei do que minha professora da cabalinha falou: "você é deus, benzinho".

ai quando lembrei disso pensei: "apois bem que se deus sou eu eu merma vou resolver essa situacao".

parece que deu tudo certo.

vale dizer que alem de mim contei com a grande ajuda de gisela.

Saturday, September 12, 2009

103. a mais arbitrária das escolhas

veja só
que coisa simples

que coisinha mais displicente
que é escolher um lugar pra sentar
na grama

grama é tudo igual

e eu sempre penso por quê cada pessoa escolheu sentar
exatamente no lugar que sentou
que eu sento em qualquer canto.

não, mentira.

eu vou pra longe dos punk
porque eles sempre pedem cigarro.

Friday, September 11, 2009

102. sachliche romanze

als sie einander acht jahre kannten
(und man darf sagen: sie kannten sich gut),
kam ihre liebe plötzlich abhanden.
wie andern leuten ein stock oder hut.

sie waren traurig, betrugen sich heiter,
versuchten küsse, als ob nichts sei,
und sahen sich an und wußten nicht weiter.
da weinte sie schließlich. und er stand dabei.

vom fenster aus konnte man schiffen winken.
er sagte, es wäre schon viertel nach vier
und zeit, irgendwo kaffee zu trinken. -
nebenan übte ein mensch klavier.

sie gringen ins kleinste café am ort
und rührten in ihren tassen.
am abend saßen sie immer noch dort.
sie saßen allein, und sie sprachen kein wort
und konnten es einfach nicht fassen.


de erich kästners

§


não tem amor que resista a amor demais.

101. depressão linguística, coisas da vida... e tudo o mais é muita insolência de minha parte

eu simplesmente não consigo aprender alemão. não consigo entender como se constrói essa língua, como eles juntam as palavras, como as frases são formadas. não entendo, quando eles falam, quando termina uma palavra e começa outra.

não entendo como pode eles fazerem essa cara de nada enquanto falam de uma coisa legal. não entendo o alemão. não entendo os alemães.

faço tanto esforço, mas não entra na minha cabeça.

eu aprendi a falar inglês sozinha porque era uma criança infeliz e sem amigos que preferia ficar em casa traduzindo música dos beatles, palavra por palavra, no michaelis que mamãe tem até hoje. eu não entendi caralhos daquelas palavras que se juntava sem nenhum charme e que eram usadas com milhões de sentidos diferentes.

eu me sinto com 10 anos tentando aprender uma língua que não faz sentido. e não tenho os beatles como motivação.



ainda assim, eu sou saliente, e o primeiro e único livro que comprei na europa é de um poeta alemão. estou traduzindo poema por poema, palavra por palavra, e claro que não faz sentido algum.

eu estou tão confusa com tudo. com tudo.

no livro eu aprendi uma palavra muito importante: traurig. mas eu não vou traduzir.

100. mein erster dichtung in deutsche*

ein tag ich wecke
und alles ist verschieden
ich höre: "ich möche allein sein"
ich glaube nicht meiner gehör
aber ist nur ein tag
und alles ist gut wieder.





*ou "assassinando a língua alemã"

Saturday, September 05, 2009

99. um sol, dois sois

eh engracado ver a diferenca entre as pessoas que moram num lugar com sol e num lugar sem sol. nao eh so o fato de elas serem bronzeadas no sul da europa e brancas/rosa no norte. eh a forma como os corpos existem, como as pessoas se espressam e ate sua lingua. eu poderia ter percebido isso antes, uma vez que o nordeste e o sul do brasil sao tao distintos, mas a verdade eh que somos latinos (yes we are) entao eh tudo fogoso igual.

hoje a tarde armin tirou uma soneca e eu me embonequei pra dar uma volta sozinha, mas estava muito nublado e logo depois comecou a chover - entao achei melhor ficar em casa, uma vez que ontem ja tomei um banho de chuva e contando que esta um frio do cao, i´ve had enough de agua no meu juizo.

fiquei em casa um pouco emburrada esperando que o sol saisse de novo pra eu poder sair tambem, e mimadamente esculhambando essa terra gelada.

o que eu nao me dei conta logo eh que fazia sol aqui dentro: quando eu olhei pra cama, nem acreditei na burrice dos planetas que preferem o sol oficial.

armin dormia abracado no meu pelelo.



antes que vcs pensem que pelelo eh um parte do meu corpo hahahaha devo explicar que pelelo eh o travesseirinho rabujento que eu tenho ha 27 anos.

Friday, September 04, 2009

98. um mói de homi lindo, incluindo o meu

ontem a gente foi pruma festa no otimo museu ludwig. foi chato, claro, porque festa em museu eh sempre chato, mas tinha kölsch e tinha meu benzinho. ele ate me apresentou pra uma professora dele, e eu fiquei me achando muito importante, mas ela nao me deu a menor bola.

ja os amigos de armin sao otemos, e sao todos lindos, tudo lôro, ave maria quanto homem bonito.

alias, na alemanha como um todo parece que abriram a porta da esperanca: agora eu sei de onde sairam tudo os galego lindo que eu via em barcelona. but i dont care, porque eu tenho meu fränkische de coracao de gelo pra chamar de meu.

97. a ordem das coisas

os pessoal da alemanha sao bem obedientes aas (nao tem crase no computador do menino, sorry) regras.

todo dia quando vou pra escola nao entendo por que estao parados carros e pessoas - o sinal esta vermelho pros dois, mas pra que? e todo mundo espera ficar verde. eh engracado ver os pessoal parados, e os carros parados tambem.

hoje ele foi buscar na mayersche um livro que ele encomendou e nao percebeu que havia uma fila e foi direto pro caixa. as mulheres da fila comecaram a gritar com ele e eu nao entendi as palavras mas entendi o drama.

ele ficou bem envergonhado e eu tentei fazer piada da situacao: i bet those bitches are asking you to marry them but you better let them know that i could kill them all.

ele gargalhou alto demais pros padroes germanicos, e pela cara daquelas alemoas pareceu muito dificil entender por que aquele alemao mal educado de um e noventa e aquela sulamericana de meio metro se divertiam tanto.

nao, elas realmente nunca entenderiam. tem regras demais antes do entendimento.

96. bier trinken

por mais que eu nao goste (muito) de cerveja eh impossivel nao gostar da kölsch, a breja que os pessoal daqui de köln (got it, baby?) faz.

quando a gente nao tem nada melhor fazer simplesmente compra umas e vai pra beira do rhein olhar pra cara um do outro porque, ora ora, tem coisa melhor pra se olhar nessa vida?

e armin abre as garrafas com o isqueiro, eh tao sexy.

95. do desespero

e todos os seus pensamentos sobre a inevitabilidade dos fatos; e todos os seus pensamentos sobre a definitiva distancia; e todos os seus pensamentos sobre o afastamento compulsorio sao interrompidos. de repente.

porque ele esta bem aqui, cabeca no esquerdo, tronco no direito, e parece profundo, mas de repente se mexe. e voce acha melhor parar de pensar para afastar a possibilidade de que qualquer coisa - nem mesmo um pensamento - possa ser capaz de perturbar o sono dessa pessoa tao linda.

94. oracao pra sao armin (ou "manifesto sobre uma mala sumida")

eu andarei vestida com as roupas de armin.

Tuesday, September 01, 2009

93. poeminha escrito numa pagina de palavra cruzadas

se apaixonar eh como pegar um aviao:
voce pode ate saber para onde quer ir
mas nao faz a menor ideia de onde esta.

se apaixonar eh como passar com o aviao
dentro de uma nuvem:
eh uma turbulencia do cao
e voce nao ve nada que esteja a mais de um palmo a sua frente

mas veja so, galhera
que coisa

dentro de uma nuvem de coisas intangiveis
e sem visibilidade alguma
ainda assim
o sol ilumina tudo
e eh tudo tao claro.


§

no aviao a caminho de cologne.