Friday, December 28, 2018

o gosto dos homens por máquinas


agora que o desemprego ao mermo tempo aprisiona
e liberta para ajeitar os livros
por cor por tema por ordem alfabética
sei lá o que nos der na telha
vamos falar do que importa

da vida desperdiçada em presentes equivocados
o gosto dos homens por máquinas
coisas que ninguém precisa
ocupa espaço precisa lavar
a vida desperdiçada de poetas constantes
escrevendo pra ninguém ler
padeiros
entregadores de jornal
motoristas
nosso amor pelos amigos
essa angústia pela fome que não sentimos
o medo da pobreza latinoamericana
sempre nos nossos calcanhares
os anos que passamos com nossos queixos
finalmente sobre a água
agora já não se sabe
aqui estamos

jornalistas
poetas
zeladores
costureiros

condomínio é um dinheiro bonito
se for passado aos funcionários
aos varredores
aos porteiros
mas às vezes os síndicos não pagam
os salários
e queixos de varredores porteiros zeladores
sentem a água bater
se respirar pelo nariz a gente
aguenta até janeiro
aí vem outro mês e só deus sabe

a pobreza latinoamericana
que é de mosca no rosto
e cheiro de terra batida
e cheiro de vaca
e cheiro de mastruz
e tudo isso junto era o cheiro de vovô
de gravatá do jaburu
do agreste
meu pernambuco acabado
jogado às traças
o chão o coração partidos

a gente nada cachorrinho e bóia
engole água se confunde se arrelia mas vai
são paulo e brasília sempre acabam
arrastando cada nordestino pro fundo
mas a gente respira pelo nariz e chega
em fevereiro
faz um frila faz um bico
troca o chuveiro da madame
troca o gás pelo álcool
e se essa porra não pegar fogo
a gente come esse cuscuz com ovo
e até manteiga tem
porque moramos em casa amarela
não estamos tão lascadas assim
só não sabemos até quando

a pobreza nordestina
a concreta e a que assombra
tem vários remetentes
elon musk é o ídolo
fudeu
bella tchau
nossos bolsos cheios de pedra
iguais aos de virginia woolf
quem botou essa merda lá?
cadê o fundo?
cadê a revolta?


Sunday, December 16, 2018

aciclovir



peguei no teu rosto com as duas mãos
em concha
uma em cada bochecha eu disse
se cuida
e tu dissesse
tu também
mas eu pensei como assim eu estou ótima quem precisa se cuidar é você
que conversa

peguei no teu rosto com as duas mãos
que na ausência dele
se chocariam
em prece eu dizendo
boy meu que coloco no céu
santificado seja tu todo
irei sempre pra tua casa
e farei pra sempre tuas vontades
onde quer que tua casa seja
a migalha de cada dia me dê hoje

assim como te dou tudo até o que não tenhas pedido
faça tudo o que quiser
mas me livre desse divórcio
amém

peguei no teu rosto com as duas mãos
dois metros de cara ainda sobrando
que a tua cabeça de viking é grande
e quando tu levanta sem dizer bom dia
e vai embora sem deixar rastro
fica no travesseiro a marca

peguei no teu rosto olhando pra cima
como o de costume
heterossexual

enchi com tua barba minhas mãos 
tentando matar uma saudade
que na verdade
já passou faz tempo
mas agora tu volta limpo e de pupilas
dilatadas
dos remédios que substituem
um vício por outro
a medicina fez muitos avanços mas
não há pastilha suficiente pros vírus
que eu carrego
herpes e você
minha nossa que verso adelaide que clichê
se bem que ninguém escreve sobre herpes
então voilà está salvo o verso

peguei no teu rosto com as duas mãos
negociando mais uma vez comigo mesma
se perdia o trem ou se ia
meu deus armin meu deus
nós éramos os maiores
despertamos a ira dos cínicos
dos mendigos dos farmacêuticos
e dos policiais
naquele 2009
forjamos cenas de cinema
teu cabelo voando pra fora do carro
portas batendo tatuagens poemas
até casar casamos







Monday, October 08, 2018

como conversar com um eleitor do bozo, em cinco passos




GENTE, PRESTA ATENÇÃO NISSO AQUI:



1)

o plano de governo de haddad você acha com uma guglada. LEIA. leia tudo hoje.

o plano de governo do fascista você só acha depois de umas três, e o link não funciona (vide foto). mas dá pra achar (link nos comentários). LEIA O PLANO DO COISO. leia tudo hoje.







2)
o principio de organização de comunidade se baseia em 70% de escuta, 30% de fala. o nível de escuta do seu interlocutor por ser dividido em cinco níveis (sendo 1 a pessoa que pensa e age igual a você; 5, seu completo oposto, a pessoa que não somente pensa diferente de você, mas que age contra o que você acredita). NÃO PERCA TEMPO NEM COM O 1 NEM COM O 5.

foquemos nos tipo 2 a 4, ou seja, pessoas que pensam razoavelmente diferente, mas com quem dá pra conversar - os que votaram nulo, os indecisos, os anarquistas (é preciso convencê-los a ir votar em haddad), os bozominions não-violentos (sim, eles existem).

repetindo: o principio de organização de comunidade se baseia em 70% de escuta, 30% de fala. não é sua vez de falar que bozo é racista. é vez de entender porque as pessoas consideram votar no bozo no segundo turno. o que essas pessoas querem? e a partir daí, dar informações a essa pessoa, que facam com que ela própria chegue à conclusão que O BOZO NÃO PODE DAR A ELA AQUILO QUE ELA QUER.



3)
pergunte ao seu interlocutor porque ele votaria no bozo. seja qual for o motivo, a nossa resposta vai ser: "o bozo não tem proposta pra isso". explique como é difícil achar o programa de governo do bozo. não é por acaso: é porque não existe um programa, basicamente. complemente com o que você sabe sobre o plano do bozo, dentro do tema citado pelo seu interlocutor. sugira o que haddad tem pra oferecer nesse mesmo tópico.



4)
a conversa vai ser finalizada, provavelmente, com um dos dois temas: ou da segurança, ou o da corrupção.

4.1) no tema da segurança, ofereça dados que desconstruam as teorias do bozo: a) estudos mostram que armar o indivíduo não tem relação com aumento da segurança coletiva; b) estudos que mostram que nos EUA, em estados COM controle de armas DIMINUI o número de assassinatos; c) estados SEM controle de arma AUMENTA o número de suicídios; d) estados com pena de morte NÃO diminuiu os homicídios; e) estes estados são os que MAIS têm homicídios; f) castração química como condenação de estupro é uma manobra eleitoreira, já que apenas UM POR CENTO dos acusados de estupro recebem qualquer condenação no brasil; g) que um estudo de 2005 mostra que até 10% dos homens condenados a castração química voltaram a cometer crimes sexuais (nos EUA). ofereça links que comprovem essas infos (se a pessoa quiser). aqui tem um e aqui tem outro.

4.2) no tema corrupção, não fuja do assunto, não despreze as capacidades cognitivas do seu interlocutor. deixe a pessoa falar porque a corrupção tanto a incomoda. lembrando que se a conversa chegar ate aqui, você provavelmente NÃO está falando com uma pessoa violenta, então não desista. há chance.

admita os erros cometidos pelo pt, mas apresente de forma clara os graves dados criminais do bozo.

haddad é réu em 2 processos por corrupção, sem ter sido condenado em nenhum. não responde por nenhum processo criminal.

já bozonaro responde por 2 processos criminais, um deles por apologia ao estupro (#elenao), o que inclusive poderia impedir sua posse, caso fosse eleito (já foi uma aberração o TSE aceitar sua candidatura, mesmo ele sendo réu). o bozo é recordista de denúncias no conselho de ética da câmara.

diga que O BOZO NÃO TER PROCESSO POR CORRUPÇÃO NÃO SIGNIFICA QUE ELE SEJA HONESTO - enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, financiamento obscuro de campanha: bozonaro fez. aqui um link com alguns mitos sobre o mito



5) explique, por fim, que um fascista é alguém que chega ou se mantém no poder pelo uso da força (uma coisa que o bozo vem dando sinais de que fará, caso nao seja eleito democraticamente) e que uma outra coisa que une todos os fascistas é que eles nunca dizem que sao fascistas. quando o bozo fala "bandido bom é bandido morto" ele está se referindo a qualquer um que pense e viva diferente dele. assim sendo, não é somente a gay que corre risco, são também aqueles e aquelas que acham que uma pessoa gay tem direito à vida. não são apenas os nordestinos que correm risco, são aquelas que acham que nordestinos têm direito à vida. a justificativa "vou votar no bozo, APESAR DAS COISAS QUE ELE FALA" coloca o próprio eleitor de bolsonaro em risco. discordar de um fascista é ser inimigo do fascista. e o fascista não debate, ele aniquila.



#elenao
#haddad13

Friday, September 07, 2018

mppf! #8_viva la revolursal!




"(...) Se é em nome da pátria que brasileiros queimam serumanos vivos e mortos (Luzia, presente!), então nós renegamos essa pátria, esse conceito que vem destruindo e estuprando há séculos, e declaramos a URSAL como nossa mãe-tria. Olhando nessa direção, publicamos um zine que, apesar das poucas páginas que dispõe, tem a pretensão de celebrar as anarcobucetalistas ursalinas – poetas que não somente são escritoras fenomenais, mas também ativistas políticas e/ou comprometidas com um projeto progressista, emancipatório e de justiça social, em suas comunidades (...).

Estas poetas provam que a URSAL tem um potencial político e poético muito maior do que esse atual projeto neoliberal e com cada poeta bosta que pelamordedeus (a começar pelo presidente golpista).

Daqui a um mês, em 7 de outubro de 2018, teremos eleições. Votaremos à esquerda! Mas não esqueçamos que nem só de passeata, voto e poema revoltado é feito o processo político. A luta é diária!! 


NÃO LAMENTE, ORGANIZE-SE!"

ursal, segundo carla diacov




o mppf! #8 nasce hoje, sete de setembro, e declara a independência do brasil de si próprio. co-editado por mim e carla diacov (que também fez a pintura da capa), com participação especial de bia varanis na curadoria e luma virgínia na tradução, esse mppf! é uma homenagem à URSAL e às poetas ursalinas mais anarcobucetalistas:




poetas:
érica zíngano (ceará, 1980) é poeta, artista visual, performer, tradutora e radialista. vive e trabalha em berlim.

celia alva (argentina, ?) é poeta e fazedora de zines.

eulalia bernard little (costa rica, 1935) é escritora, poeta, diplomata, educadora e ativista feminista. escreve em crioulo de limón, o dialeto costarriquenho. foi a primeira mulher negra a a publicar em seu país.

august/monique morgade (roraima, 1989) é artiste. graduou-se em letras pela UFRR em 2018. é trans não binárie e autiste (TEA). participou como ilustradore e poetise em ANTOLOGIA POÉTICA: I concurso roraimense de poesia universitária. escreve para o blog https://lentesmonofocais.blogspot.com/

maría emilia cornejo (peru, 1949-1972)  é a primeira mulher a publicar poesia erótica no peru. seu único livro, "en la mitad del camino", foi lançado 16 anos depois do seu suicídio. hoje, é considerada uma poetas mais importantes da chamada "geração 70" daquele país.

lourdes casal (cuba, 1938-1981) poeta, psicóloga e ativista, foi a primeira cubano-americana a receber o prêmio casa das américas. mediou as negociações com fidel castro, que resultaram na libertacao de milhares de presos políticos.

sherezada "chiqui" vicioso (república dominicana, 1948) é uma escritora e ativista política dominicana. foi candidata a vice-presidente do partido de centro-esquerda dominicano Alianza País, em 2012.

cecilia vicuña (chile, 1948) é poeta, artista, cineasta e eco-feminista. trabalha com os temas de linguagem, memória, decadência e exílio. vive entre santiago e nova iorque.

malena saito (argentina, 1994) é poeta, estudante de letras e trabalha como livreira na livraria secreta Luz Artificial, junto con a poeta micaela szyniack.

julia de burgos (porto rico, 1914-EUA, 1953) foi uma poeta afro-caribenha, ativista feminista e pela independência de porto rico.

mara rita (chile, 1991-2016) foi escritora, professora e ativista dos direitos LGBTQI+.

mariana ruggieri (São Paulo, 1988), também conhecida como mari alter, publicou em 2018 os poemas de sofrência anzol e o zine a bola é que são elas, para a série "quem é a bola?", ambas pela editora treme~terra. pela edições jabuticaba publicou as traduções de duas poetas cubanas para o 6 poetas / cuba / hoje e as helenas de troia, ny, de bernadette mayer.

valentina viettro (uruguai, 1982) é escritora, jornalista e produtora. publicou camino a la mentira, sexualidades monstruas (compilado de contos eróticos ilustrados por fermín hontou) e participou da antologia “balnearios”. atualmente se define nômade, tendo marselha como um de seus portos mais estáveis.

yolanda rivera castillo (porto rico, ?) é poeta e professora.

georgina herrera (cuba, 1936) é poeta, escritora, roteirista e radialista. antes da revolução cubana, trabalhava como empregada doméstica. depois da revolução, começou a trabalhar como escritora. revolução, né mores.


o valor sugerido é de 4 reais mas você pode doar mais plmdds ;)


equipe topzêra:
carla diacov (são paulo, 1975) embuceta desenhos com sangue menstrual e escreveu alguns livros como A Menstruação de Valter Hugo Mãe e A Munição Compro Depois. Carla Diacov tem fobias, mas mantém os subacos libres!
bia varanis (campo grande, 1997) é poeta, estudante de história da américa latina e educadora. é fundadora da plataforma online as mina da história.
luma virgínia (rio grande do norte, 1992) é poeta, internacionalista, estudante de letras e moderadora do #leiamulheres parnamirim.
adelaide ivánova (pernambuco, 1982) é filiada do psol e do die linke. acha boulos foda, mas lula mais. vai votar em lula + haddad + manuela.







Sunday, September 02, 2018

greve de mulheres*: bora logo fazer



texto de ALEX WISCHNEWSKI e KERSTIN WOLTER
traduzido do alemôo por adelaide ivánova



Na Espanha, Polônia e Argentina, as feministas já fizeram as suas -- agora uma greve das mulheres também está sendo organizada na Alemanha. Por que este é o próximo passo?

Estamos no ano 2018 dC. No mundo todo, a direita e os neoliberais estão encurralando as forças progressistas... Todas elas? Não! Um grupo cada vez maior de mulheres* inflexíveis não para de resistir. Em muitos países, elas organizaram uma greve feminista, em 8 de março de 2018 -- e não foi pela primeira vez. Somente na Espanha, o apelo foi seguido por mais de cinco milhões de pessoas. Por que será que as mulheres estão organizadas e tomando as ruas em tantos lugares? A nova força do movimento feminista não é fruto de uma poção mágica. É fruto do papel específico que as mulheres desempenham em nossas sociedades.

Para começar, as mulheres estão -- ao contrário da crença popular -- no centro da cadeia produtiva. A maioria das mulheres trabalha no setor de serviços, que responde por 70% do PIB na Alemanha. Mesmo fora do trabalho assalariado, as mulheres ainda fazem a maior parte do trabalho de criação, de cuidado e trabalho doméstico, sem o quais ninguém jamais poderia adentrar o mercado.

É aí que está nosso grande potencial de pressão sobre a política e sobre o capital. O lema da greve na Espanha não foi em vão: "se as mulheres param, para o mundo". Pelo seu trabalho, as mulheres não recebem nenhum salário, ou recebem menos. Isso se dá, no capitalismo, por causa dos interesses dos capitalistas: manter o mais barato possível os custos de "reprodução da força de trabalho", ou seja, o cuidado e a manutenção de nossos corpos, e a produção de novos trabalhadores (nossos filhos). Que tantas mulheres aceitem essa situação é consequência do seu status social.  A exploração capitalista não pode ser separada da violência misógina e da discriminação racial. Os novos ataques aos direitos e autonomia das mulheres não aconteceram por acaso, e vêm na sombra da crise econômica que começou em 2008 e que ainda pode, em muitos lugares, ser sentida diariamente. Portanto, as políticas neoliberais e autoritárias afetam mais as mulheres, especialmente as mulheres migrantes.

Em resumo: hoje em dia as mulheres têm muito pouco ou quase nada a perder, em comparação com os homens. Portanto, são elas que podem arriscar um novo rumo. Talvez elas fazem, no presente, aquilo que Marx definiu como "classes com correntes radicais", que são "uma parte da sociedade civil [que] se emancipa e alcança o domínio universal; uma determinada classe [que], a partir da sua situação particular, realiza a emancipação universal da sociedade. Tal classe liberta a sociedade inteira". Um novo proletariado, portanto.

Assim sendo, uma greve de mulheres parece totalmente compreensível e a ideia se espalha por todo lado. Na Alemanha, os preparativos para a greve em 08 março de 2019 já começaram. As ativistas que tiverem interesse podem se juntar ao trabalho de organização, que vem sendo realizado em várias cidades na Alemanha. A greve de 2019 não se destina a substituir as passeatas que, em 2018, tiveram mais 10.000 pessoas participando só em Berlim - a greve vem para complementar e continuar o trabalho até agora feito. As coisas também podem ser vistas desta forma: depois de tanto tempo negociando, estamos prontas para iniciar uma nova etapa da luta.

Assim, uma greve de mulheres é um meio, e não um fim em si mesmo. No fim das contas, estamos preocupadas não somente em dar visibilidade, mas em mudanças fundamentais na sociedade. O formato de greve carrega em si vários valores próprios.





Greve política
A greve das mulheres, por exemplo, desafia a proibição de greves políticas na Alemanha. A validade desta proibição tem sido controversa e repetidamente questionada pelas trabalhadoras. É geralmente aceito que a disputa trabalhista atinge o destinatário errado quando as demandas políticas são dirigidas ao Estado e não ao Patrão. Mas há espaço para interpretação e negociação. Não são só as marxistas que apontam que a política e a economia estão, de várias maneiras, entrelaçadas. No capitalismo, diferentes grupos têm diferentes influências na política - o lobby da indústria automotiva influencia mais as decisões políticas do governo do que uma associação para fortalecer os direitos das trabalhadoras do sexo.

Essas diferentes possibilidades de influência são determinadas economicamente. Outras vozes apontam que a proibição de greves políticas contradiz os acordos internacionais assinados pela Alemanha. Em sindicatos como ver.di, GEW ou IG BAU, a demanda é feita repetidas vezes para incluir o direito a greves políticas na constituição alemã. Esses debates são hesitantes e desapareceram rapidamente. Agora são as mulheres que colocam o tema de volta na agenda. Assim, são elas que agora fazem contribuições ao "proletariado" (sic!) tradicional.


Tarefas domésticas não remuneradas
Outra coisa: faz tempo que as feministas enfatizam que trabalho significa não só o trabalho assalariado, mas também o trabalho doméstico, o de cuidar e o de educar, todos não remunerados; e todos os numerosos serviços de apoio emocional, voluntário e comunitário, que cria redes invisíveis de apoio. Silvia Federici apontou que nunca houve uma greve geral real, já que as mulheres nunca conseguiram parar de executar essas atividades. Portanto, uma greve feminista visa não apenas o trabalho assalariado, mas o não assalariado em todas as áreas. Isso é tão novo que novas formas e expressões da greve precisam ser imaginadas. Ter cuidadores de crianças e de adultos com necessidades especiais, trabalhando voluntária e coletivamente, em locais públicos, são apenas ideias iniciais. As espanholas também fizeram algumas sugestões para as áreas de trabalho assalariado, trabalho doméstico, educação e consumo, que podemos dar continuidade. Aqui, também, a greve serve para dar forma aos argumentos teóricos que debatem a extensão do conceito de trabalho e para melhor compreendê-los.

Além disso, a greve oferece uma nova chance de fazer algo juntas -- independente do histórico que alguém tenha. Geralmente é difícil encontrar uma demanda que una a todas. Isso é compreensível, porque as mulheres têm experiências muito diferentes e, portanto, têm diferentes problemas e preocupações urgentes. Para muitas, a valorização econômica de seus empregos está em primeiro plano; para outras, o direito de permanecer na Alemanha; para outras, a mudança da lei transexual, que é discriminatória; para outras, o direito a aborto seguro.

A greve feminista pode combinar essas lutas, em solidariedade umas com as outras, porque elas têm as mesmas origens. Se argumentarmos como mulheres brancas com um passaporte alemão pela  legalização de todas as mulheres em situação ilegal, isso não é uma luta por procuração. É a luta contra um sistema de exploração e competição, exclusão e desvalorização que nos atinge a todas da mesma maneira - mesmo que não com a mesma consistência. Na greve das mulheres, as diferenças devem se tornar uma força comum na luta contra as políticas autoritárias, neoliberais, sexistas e racistas. Algumas pessoas discutem há dois anos sobre uma nova política -- nós, mulheres, já estamos colocando ela em prática.







* Ao usarmos "mulheres*" com asterisco, nos referimos a todas as pessoas que se definem como mulheres ou que são definidas como mulheres pela sociedade, incluindo pessoas trans* e intersexuais. O asterisco, portanto, não é usado para diferenciar, e sim para mostrar que se trata de uma identidades sem limites definidos, que lida com uma realidade social.


Alex Wischnewski trabalha na rede "Care Revolution". Kerstin Wolter foi co-fundadora da aliança "Dia da Luta da Mulher". Ambas são membras do partido DIE LINKE.

Monday, August 13, 2018

Bela URSAL!




Uma manhã, eu acordei
Bela URSAL! Bela URSAL! Bela URSAL URSAL URSAL!
Uma manhã, eu acordei
E encontrei meu salvador

Ó guerrilheiro eu vou contigo
Pela URSAL! Pela URSAL! Pela URSAL URSAL URSAL!
Ó guerrilheiro eu vou contigo
Se eu ficar eu vou morrer

E se eu morrer nesta guerrilha
É pela URSAL! Pela URSAL! Pela URSAL URSAL URSAL!
E se eu morrer nesta guerrilha
Eu te deixo meu fuzil

Faz minha cova lá nas montanhas
Bela URSAL! Bela URSAL! Bela URSAL URSAL URSAL!
Faz minha cova lá nas montanhas
Sob a sombra de uma flor

Pra que o povo que aí passe
Grite URSAL! Grite URSAL! Grite URSAL URSAL URSAL!
Pra que o povo que aí passe
Gritará: Revolucao!

Essa é a história de um guerrilheiro
Bela URSAL! Bela URSAL! Bela URSAL URSAL URSAL!
Essa é a história de um guerrilheiro
Que morreu por liberdade

Essa é a história de um guerrilheiro
Que morreu por liberdade

Thursday, July 12, 2018

um poema de cícero de souza



bolsonarou ofereceu capim
pra os eleitores de luiz inácio
comer
e eu pergunto aos senhores
se ele chegasse a ser presidente
ao invés de dar capim daria
veneno a gente?

não sei como conseguiu ser
deputado federal
discriminando mulher, negro,
homossexual
e agora quer dar capim
pros eleitores de lula
comer

tu ficou doido, bolsonaro?
tu cheirou cola
ou tá querendo aparecer?

dessa vez, bolsonaro,
tu fizeste um desatino
lave a boca quando for falar mal
de nordestino

e sobre o vídeo do capim
que na internet circula:
quem és tu, pra falar mal
dos eleitores de lula?

tu não passas de um golpista!
de um corrupto, oportunista
e só quem é cego não vê.
e digo a última, seu porra:

eu voto numa cachorra
mas eu num voto em você!

Tuesday, July 10, 2018

mppf! + grego = revista teflon!


gracas à minha amiga e cangaceira érica zíngano saiu uma seleção de poemas que foram (ou serão) publicados no mais pornô, por favor!, na revista grega teflon!

a revista é muito foda, já tem acho que uns oito ou nove anos de existência e se tornou não somente uma das revistas literárias (e de poesia) mais lidas da grécia, com mil cópias por edição, mas também uma das forças de resistência política e uma plataforma super importante da esquerda radical em atenas (#amor!). eles publicam poesia e ensaio, em grego e em tradução - e a parte de tradução tem um desejo de não somente trazer poesia do mundo prxs leitorxs gregxs, como também criar uma comunidade internacional de literatura de esquerda (#amor!).

como diz um dos fundadores da revista, jazra khaleed, nessa entrevista: "não temos patrocinador, não temos distribuidor: temos leitores". ISSAÊ!

para a edição #19, a eleni, uma das editoras da teflon, pediu pra eu fazer uma micro-antologia de poesia erótica brasileira contemporânea, viva e transante. minha seleção foi, como sempre, baseada em quesitos representativos (não preciso nem dizer que a "qualidade" dos poemas, seja lá o que isso signifique, não fica nunca, por causa disso, em segundo plano): misturar omi e muié, sapatão e viado e hts, branco e preto, e poetas do nao-sudeste. assim, chegamos à uma seleção de 19 autores, 11 mulheres e 8 homens. desse total, 14 (73%) são viadxs, 7 (36%) são do não-sudeste e 6 (31%) são negrxs. 

tá longe do ideal, é sabido, mas a cada publicação tentamos melhorar no que diz respeito à paridade e representatividade (isso dito: para a edição #8, que sai em setembro e está sendo editada por mim e carla diacov, estamos em busca de poetas molieres e trans e viadas de SERGIPE, TOCANTINS, PIAUÍ, RORAIMA, AMAPÁ, ACRE e RONDÔNIA. emails com 5 poemas e mini-bio NUM .DOC SÓ para bolagato.edicoes@gmail.com. deadline é 31 de julho).

enfim, aqui vai umas foto da rivista e o pequeno texto introdutório que escrevi. os poema e o texto foram carinhosa e guerrilhamente traduzidos pelo spyros. 


capa


contra-capa com jarid arraes, katia borges, natalia borges polesso, simone brantes, andré capilé, ricardo domeneck, cecília floresta, ana luiza goncalves, antonio la carne, rafael mantovani, joao meireles, ravena monte, flávio morgado, rita isadora pessoa, gabriela pozzoli, raphíssima, nina rizzi, lilian sais, ismar tirelli neto e william zeytounlian


que leendo


que leendo


A seleção destes poemas para a revista Teflon vem dos textos publicados no zine brasileiro MAIS PORNÔ, POR FAVOR!. Criado em Recife, cidade do nordeste brasileiro, em dezembro de 2016, o objetivo do zine é olhar para o tesão como potência revolucionária, principalmente no contexto do Brasil pós-Golpe. No #2 do zine, a pesquisadora Lori Regatieri escreveu:

“(...) por que nos tornamos tão insuportáveis para o Estado, os patrões e a polícia? Não foi à toa, tiveram que atuar juntos para impedir nossa algazarra festiva e transante. (…) O caos atmosférico dos atrasos dos salários, do aumento tarifário, das medidas proto-fascistas, dos militares nas ruas estão nos atravessando como uma faca de ponta aguda. Exultar o tesão nesse contexto é combater as forças do débito, estancar a sangria e nutrir a resistência micropolítica”.

E por que usar o termo “pornô”, no título de uma publicação que se pretende feminista, sendo que este é um nicho tão misógino? Anna Kristin Koch, em texto publicado na revista alemã Zeit Online, diz: “a indústria pornô não só fere os sentimentos de muitas pessoas, como também reproduz uma imagem de sexo, sexualidade e gênero que não cabem numa sociedade plural”. A autora sugere a aplicação de uma “pornografia ética”, na qual não só diversidade e sexo responsável são mostrados: estereótipos são quebrados e, independentemente do gênero, pessoas são parceiros sexuais iguais.

Essa problemática – to porn or not to porn – foi abordada no editorial da edição #3 (abril de 2017), escrito pela jornalista Carol Almeida:

“(...) se a palavra pornô vem carregada com um sentido tão próximo da ideia de exploração sexual do corpo da mulher, que possamos repetir aqui o que a comunidade LGTBQI fez com a palavra ‘queer’ nos anos 1980. Ou seja, vamos nos reapropriar do termo, vamos confundir e desorientar o inimigo. Com nossas línguas, coxas, pelos e algum sabonete líquido”.

Editado com as organizadoras do #leiamulheres de Recife – Maria Carolina Morais, Priscilla Campos e Carol Almeida – o #3, especial poesia lésbica, foi um divisor de águas na produção do zine (pelo seu conteúdo, mas principalmente pelo teor de mobilização coletiva). A seleção dos poemas funcionou em parte por meio de chamada pública e, com ela, passamos a conhecer o trabalho de jovens poetas lésbicas de todas as regiões do Brasil, ampliando não somente nosso conhecimento da poesia contemporânea de fora das grandes cidades, como também ajudando a criar mais uma rede de conexão entre as poetas fanchas.

Em outubro de 2017, em resposta ao fechamento da exposição “queermuseum” e a retaliação violenta de grupos de extrema direita contra Judith Butler (que estava no Brasil para uma série de palestras sobre democracia), disponibilizamos o #3 gratuitamente na internet, como uma tentativa de ajudar a emudecer os latidos recalcados dos fascistas.

A edição mais recente, a #6, é um especial de poesia caribenha. A motivação do zine é nos aproximar um pouco da poesia feita no Caribe e da situação de pessoas em refúgio vivendo no Brasil. Segundo o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), os países com maior número de solicitantes de refúgio no Brasil em 2016 foram Venezuela, Cuba e Haiti (646), todos países caribenhos. Do total de cerca de 10 mil refugiados no brasil, 32% são mulheres.

O MPPF! é uma publicação independente, anarcofeminista, que se apropria do termo “pornografia” para espalhar no mundo poesia erótica, queer e feminista (em brasileiro, em português e em tradução). Nosso desejo é torcer a lógica misógina, sexista, transfóbica, homofóbica e capitalista do pornô mainstream. Boa leitura!

Sunday, May 27, 2018

falar aqui rapidaum sobre os caminhonêro


esse textao não tem pretensões de onisciência. ele é um resumo de conversas fundamentais que tenho tido com minhas migas e migos, ativistas ou não, de esquerda ou centro, é fruto da minha vivência em diversos movimentos de organização de base em duas das três cidades que morei, fruto da leitura dos jornais brasileiros na última semana, e da observação do uso das redes sociais, na última semana. a autora (eu) não tem, no entanto, intenção de onisciência no que diz respeito à complexidade do tema e espera animadamente que esse texto, se lido, inspire à mobilização na vida real ou gere debates solidários. 


1. sobre o papel das esquerdas em relação à uma greve "controversa"

em 2013, pela pressa em achar "esses daí são de direita mermo", a esquerda, por arrogância ou falta de visão, não ocupou ou fez melhor apropriação das jornadas de junho, que acaboram sendo cooptadas pela direita, e se tornaram, a longo prazo, um dos componentes que possibilitaram o golpe.

agora, comentário geral, seja ele nas internet ou na vida de carne e osso, é que os caminhoneiro apoiaram o golpe, e querem intervensaum militar, ou fazem da greve uma plataforma pró-bolsonaro. outra crítica que fazem à greve: que ela não é legítima porque tem apoio dos patrão.

uai, não é uma questão de legitimidade - quem melhor do que o trabalhador pra fazer suas próprias reivindicações? e é isso que os caminhoneiro tao fazendo.

agora, se uma greve (qualquer uma) é apoiada pelos patrão, a questão deixa de ser legitimidade. a questão passa a ser que ela não vai ser bem-sucedida para os trabalhadores. devia ser óbvio. os interesse de exploradores e explorados dificilmente serão iguais.

aí é que entra a esquerda, os sindicatos (que já não são mais de esquerda, na maioria, e isso não somente no brasil, mas no mundo), as organizacoes comunitárias de base, os movimentos sociais: para promover educação política. para fazer os trabalhadoras e trabalhadoros enxergarem sua opressão e se organizarem.

assim, com essa ausência da esquerda (POR QUEEE?), o trabalhador apoiar a direita no brasil não é de se espantar, nem é novidade ou exclusividade dos caminhoneiro. é assim: sem educação política de esquerda, e com o capitalismo neoliberal internalizado, o trabalhador acha que a única forma de se emancipar é virando patrão. o que o caminhoneiro quer é ele mesmo ser capaz de comprar seu próprio caminhão, fazer lucro e depois comprar outro e depois outro, para que um dia ele mesmo tenha sua frota (e explore outros caminhoneiros, como ele próprio, atualmente). ele tá errado de querer uma vida melhor? não né!

deve ser por isso que tanta gente de esquerda (principalmente a facebookiana que, no fim das contas, é a que mais tem opinião mas a que mais tá afastada das ruas), cagou pra questão ("eles apoiaram o golpe então fodase").

era pra estratégia da esquerda ser outra. aliás: era pra esquerda ter uma estratégia.

é fundamental apontar isso. mas o que vamos fazer?

a situação é bem diferente de 2013, mas o plot é parecido: um acontecimento político acontece fora do âmbito organizacional das esquerdas e ninguém sabe muito bem o que fazer.

eu já podia começar perguntando: que caralho estamos fazendo de errado, para que uma greve não tenha sido organizada por nós? e mais: que caralhos estamos fazendo de errado que "Nos grupos de WhatsApp, os manifestantes também se gabam que o apoio ao movimento está ganhando força entre a população por não haver bandeiras da CUT, camisas do PT, gritos de Lula Livre, MST, apoio de artistas"????

a pergunta que importa não é "ai meo deus o que deveríamos ter feito há 20 anos que evitasse estarmos como estamos hoje?" (resposta: organizar, mores), e sim o que temos que fazer agora. o que vamos pensar de nós mesmos, ativistas de esquerda, daqui a 20 anos, quando analisarmos a greve dos caminhoneiros?

a reação dos petroleiros, e escrevo isso sem ter tido tempo de me informar sobre os bastidores da greve, e sem conhecer a fundo (mas simpatizar bastante com) o funcionamento do sindicato dos petroleiros, é, para mim, uma das melhores notícias.

para além disso, precisamos, todos e todas, aderir e nos engajar em movimentos de organização social de base. se filiar a um partido de esquerda também não é má ideia. procure no seu bairro, na sua universidade, entre os amigos. pergunte pra mim!

a resposta é bem padrão e eu já tô me sentindo repetitiva: organizassaum.

resumo: é pra gente sair do FB e se juntar a um grupo de organização de base na vida real. invistir o mermo tempo que se gasta fazendo textao, numa nova rotina coletiva, no qual se tenha contato com uma perspectiva e de educação de esquerda, para que mais pra frente sejamos um vetor para organizar e mobilizar e emancipar mais pessoas.

(eu só posso falar da minha experiência: é extremamente cansativo inserir, num dia-a-dia já cheio de afazeres, uma prática ativista. mas não somente é importante moralmente, como, num sentido bem egoísta, fazer ativismo acabou com metade das mimimi-nhas crises existenciais e acabou com meu desânimo político. me cansa, mas nunca me desanima).



tentei fazer uma colagem véa
da cabeça de marx
em cima da de sula miranda
mas não tenho photoshop
e não consegui fazer no paint
então vão as duas foto assim
separdjinhas
igual o capitalismo quer a gente
(separados)


2. sobre o povo ir pra rua

eu não sou daquelas que acha que ir pra rua é a estratégia que serve pra tudo, nem aquelas que acha que "ir pra rua" é o que constitui a militância (não é, craro).

mas também acho que fazer nada ajuda menos ainda. a sociedade civil no fim das contas foi a mais afetada por essa greve, mas é a que, por omissão, ignorância, ódio, cansaço etc., tem sido a menos participativa, a que tem feito menos intervencoes no andar da carruagem.

qual a primeira preocupação das pessoas? tem gasolina pro MEU carro? tem comida no supermercado da MINHA rua?

essa indeferenca é somada a um ingrediente fundamental pra solar esse bolo, que tinha tudo para ter uma pauta radical, mas mais parece uma novela da globo: alguns caminhoneiros têm pauta uma política conservadora e de direita, e estão usando a greve como plataforma para essas pautas (e porque não deveriam? eles estão na rua, uai): fora temer, e pró-intervenção militar, e pró-bolsonaro.

a greve vai ser apenas um bode-expiatório pra qualquer uma das instância de poder que conseguir ganhar a corrida ideológica, com o projeto que essas instâncias já tinham antes da greve: temer e suas miga, os milicos, bolsonaro, os eua, a bancada evangélica, luciano huck, enfim OS CAPITALISTA. quem ganhar, vai usar a greve de uma maneira oportunista, para justificar o que eles na real já queria fazer.

onde entra nóis, as pessoas?

eu tô convencida de que as pessoa devia era ir pras ruas em manifestacoes, vigílias, passeatas, ocupações. com a legitimidade de ter sido a sociedade civil a que foi a real afetada por essa greve, sendo que as negociações estão sendo feitas ao largo dos seus interesses.

outra questão importante que temos que reivindicar e nos apropriar é a questão ideológica: as ocupações de rodovias estão sendo feitas (não somente, mas também) com faixas de foratemer, pró-milico, pró-bolsonaro, sem representar pelo menos 32% da população que por exemplo votaria em lula.

a pauta, a motivação, caso a gente fosse se meter nesse auê (devia), não pode ser essa escrotidão que a gente tem visto nas redes sociais, tipo "cadê a gasolina pro meu uber?" e sim:

a) fazer um statement de solidariedade: aos caminhoneiros e suas pautas de redução de preços, às lutas pelos direitos de todxs xs trabalhadores (inclusive os de direita);
b) fazer o statement politico: a sociedade civil apoia a greve mas é pro-democracia (ou seja, pró-eleições, anti-intervenção militar);
c) fazer o statement econômico: anti-interesse de patrão (que na real tao cagando pros caminhoneiros e qualquer outra classe trabalhadora) e anti-sucateamento da petrobras (que é, no caso especifico dessa greve, o que aumenta o preço do combustível. por isso, aliás, que a adesão dos petroleiros é uma das coisas mais importantes que aconteceu nesses 7 dias. viva).


3. sobre o discurso míope de que precisamos andar mais de bicicleta e comer menos carne e consumir produtos locais.

eu vou começar citando a grande anarcobucetalista Tithi Bhattacharya, quando ela diz: EU QUERO QUE OS TRABALHADORES QUEIRAM TUDO.

o que ela quer dizer com isso, é: porque é que toda vez que entramos num momento de crise, corta-se do prato e da vida dos trabalhadores? não são mudanças no âmbito pessoal que vão mudar a estrutura, ainda que ajustes no nosso estilo de vida sejam necessárias.

a venda de 4 refinarias da petrobras (sendo que elas geram empregos) e o aumento de preços (sendo que os custos internos não aumentaram), feito para responder a uma demanda econômica internacional, deixam escancarados o projeto golpista de sucatear a petrobras, para depois poder convencer a opinião público de que ela é um problema para depois vendê-la, a preco de banana, para multinacionais.

por que, diante de um cenário desse, é o trabalhador de guaianazes quem deve ir pro trabalho de bike até o anhangabaú? FALA PA MIAM.

é muito fácil para bonitona do leblon dizer que precisamos andar de bike, mas quero ver ela subir o morro, de bike, de noite, depois de um dia inteiro limpando banheiro da globo. NÃO VAI. vai andar de bike em recife na conde da boa vista pra tu ver o que é bom.

e porque é o trabalhador que tem que comer menos carne?

esse modelo de sustentabilidade made in vila madalena ignora que a realidade brasileira é a seguinte: as pessoas têm na carne e na coca-cola do domingo (se é que podem comer carne e coca uma vez por semana! vai lá em gravatá do jaburu ver como é a vida das pessoas!) seu momento de glória. um pedreiro de toritama não quer comer porra de carne de jaca no finde. quer dizer, talvez até queira, mas não é arrogância política. ele tá errado? ele quer é beber seu dolly guaraná e encher a cara com seu litrao (e eu tb). e sim esses produtos precisam de liiiitros de diesel pra chegar no interior de pernambuco sim. so what? a culpa é dele que o capitalismo nos fudeu a todos? me poupe.

mudança individual sem engajamento pela emancipação de todos e todas é bonitinho e tal mas é inútil. a blogueira que ensina a produzir menos lixo, é massa e tal aprender dicas de como reutilizar as coisas, mas daí a elas dizerem que a resolução do problema está no veganismo... eu me pergunto o que essas pessoas anti-lixo têm feito para emancipar as pessoas que dependem do lixo pra viver - catadores de papel, de alumínio, pessoas que vivem nos lixões? o que essa gente tem feito pelo fato de que há estados no brasil (e nao tô falando do nordeste nao, cofcof) apenas 16% das casas têm acesso à rede de esgoto?

PELOAMORDEDEUS.

eu estou ciente de que o brasil tem um potencial de transporte fluvial que é um dos maiores do mundo e que devíamos usar menos combustíveis fosseis e menos rodovias e ser mais fodástico com o meio-ambiente. concordo plenamente que uma das pautas da esquerda deve ser justamente uma abordagem revolucionária em relação ao uso (ou não-uso) de recursos naturais . mas daí a responsabilizar o trabalhador pelo estado atual e/ou esperar dele atitudes isoladas que promovam redução de danos é como achar que a culpa pela poluição do do mundo e pelas foca morrer afogada no pacífico é dos canudinho de plástico e das buceta das mulher que precisam de modess - E NÃO DO CAPITALISMO.

vlw flw.



Friday, May 25, 2018

foi uma arma alemã que matou marielle franco



Arma alemã matou vereadora no Rio de Janeiro

Submetralhadora do fabricante Heckler & Koch foi usada no assassinato
Ativistas anti-armas pedem proibição total de exportação de armas para o Brasil

artigo de niklas franzen, publicado no neues deutscland em 12 de maio de 2018 e traduzido pelo coletivo bolagato edições anarcobucetalistas. para ler o original, clique aqui.



 © reuters


Tiros sacudiram profundamente a esquerda do Brasil. Em 14 de março, a proeminente ativista de direitos humanos e vereadora Marielle Franco foi assassinada, no centro do Rio de Janeiro. Franco estava voltando de um evento quando estranhos atiraram em seu carro. Quatro tiros atingiram a vereadora, ela morreu no local. Agora, as investigações policiais revelaram que Franco foi assassinada com uma submetralhadora do fabricante de armas alemão Heckler & Koch.

De acordo com a imprensa, baseada em informações de um policial, deveria ser uma MP5 [nota da Adelaide: uma submetralhadora 9mm do fabricante acima citado]. Esta arma é usada no Brasil principalmente por unidades policiais especiais. A polícia civil investigadora não quis comentar o caso.

Os fabricantes declararam, em 2016, fornecer armas apenas os chamados "países verdes", ou seja, membros da OTAN ou Estados que são equivalentes aos membros da OTAN. Ainda não está claro se a Heckler & Koch continua a fornecer armas para o Brasil. A empresa não respondeu às perguntas enviadas pelo »neues deutschland«. O que está claro: centenas de milhares de armas alemãs continuam circulando no Brasil.

Armas alemãs no Brasil
O fornecimento de armas ao Brasil tem tradição: centenas de milhares foram vendidas ao maior país da América Latina nas últimas décadas. Durante a supressão de uma rebelião na Prisão do Carandiru, em São Paulo, em 1992, 111 prisioneiros foram mortos pela polícia. A maioria dos tiros foram disparados com metralhadoras Heckler & Koch MP5, que foram exportadas da Alemanha para o Brasil. Mesmo antes da Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, muitas armas de guerra para uma suposta "libertação" das favelas foram exportados para o Brasil.

Alemanha pode vender armas para países como o Brasil apenas em casos excepcionais, de interesse da segurança nacional alemã, ou de política externa. De acordo com o relatório de exportação de armas do governo alemão, de 2017, nos primeiros quatros meses de 2017 foram concedidas 37 licenças individuais de exportação, no valor de quase 11 milhões de euros. A pedido do "neues deutschland", o porta-voz do Ministério da Economia alemão comentou: "Temos uma abordagem responsável e restritiva à política de exportação de armas. Nós decidimos caso a caso, com base em princípios políticos. A situação dos direitos humanos também desempenha um papel importante aqui".

Mas isso é catastrófico no Brasil. O país é um dos estados mais perigosos para os defensores dos direitos humanos e ativistas sociais do mundo. A violência aumentou dramaticamente nos últimos anos. Em 2017, quase 60.000 pessoas foram assassinadas - mais do que nunca. Em uma entrevista com o "neues deutschland", o sociólogo e criminologista Sérgio Adorno advertiu recentemente sobre uma "mexicanização da situação de segurança" [nota da Adelaide: mexicanizacao é um termo racista e eu nao gosto dele, mas voilá, tem acadêmico que usa]. As estruturas estatais no Brasil foram cada vez mais infiltradas pelo crime organizado. Como no México, uma "guerra às drogas" está ocorrendo em muitos estados. Embora haja proibições de exportação de armas em estados mexicanos individuais, as armas alemãs ainda são vendidas ao Brasil. Assim, é provável que as empresas alemãs continuem ganhando pesado com o rearmamento e as condições de guerra em muitos lugares pobres.

"As entregas de armas para o Brasil estão erradas em todos os sentidos. Quem aprova fornecimento de armas de guerra para empresas e governo brasileiros, ajuda a violar os direitos humanos e colabora com os assassinatos", afirma Jürgen Grässlin, porta-voz da campanha "Aktion Aufschrei - Stoppt den Waffenhandel! ("Acao Grito - Parem o comércio de armas!"). "O fornecimento de armas é moralmente condenável e legalmente questionável, ou mesmo ilegal."

Fornecimento de armas para o Brasil nunca é "seguro"
O caso da vereadora assassinada Marielle Franco também revela a falha da política de segurança no Brasil. Investigações recentes da polícia brasileira apontam para uma trama de assassinato em que políticos e ex-forças de segurança estão envolvidos. Segundo informações do jornal "O Globo", uma testemunha teria fornecido informações precisas sobre os mandantes do crime e suas motivacoes. Assim, os mandantes seriam Marcello Siciliano, do partido de centro-direta PHS, e um ex-policial militar e líder de milícia. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, também confirmou na quinta-feira que está investigando os dois homens. Segundo pesquisa da Intercept Brasil, um policial do BOPE poderia ser responsável pelo assassinato. A comissão que investiga homicídios pediu ao BOPE para submeter todas as metralhadoras HK MP5 para uma comparação balística.

A vereadora negra de 38 anos foi uma das vozes mais fortes contra a brutalidade policial e o racismo no Rio de Janeiro. A própria Franco vinha de um bairro pobre, a favela da Maré, no norte do Rio de Janeiro. Também no oeste da cidade Franco estava ativa e criticava repetidamente a polícia e a milícia (associações criminosas, paramilitares, coordenadas por policiais reformados ou ainda ativos,  soldados e bombeiros, que controlam deforma violenta os bairros pobres). De acordo com a testemunha, Siciliano, que teria laços estreitos com a milícia, estava irritado com a crescente influência do partido de Franco, o partido de esquerda Socialismo e Liberdade (PSOL).

Não só recentes investigações mostram que as fronteiras entre política, forças de segurança e crime organizado estão fluindo no Brasil. Um ativista de direitos humanos que não quer ser identificado, vem da mesma favela que Franco, e informou ao "neues deutschland" que grande parte dos traficantes comprar suas armas diretamente de policiais corruptos.

A polícia também comete sérios crimes contra os direitos humanos. Ativistas de todo o país relatam intimidação, tortura e assassinatos. Em nenhum lugar do mundo a polícia mata tão freqüentemente quanto no Brasil. As vítimas geralmente são a população negra e pobre dos subúrbios. Os ativistas falam até mesmo de um "genocídio da juventude negra". Os militares também são criticados por crimes sérios contra os direitos humanos.

Jürgen Grässlin exige: "Precisamos de uma proibição total da exportação de armas para acabar com as matancas, cometidas também com armas alemãs. As armas de guerra existentes devem ser recolhidas e destruídas".

Thursday, May 10, 2018

mppf #7 especial cir-cuzão!


o MPPF! #7 tá no ar! essa edição  nasceu do genial texto “on circlusion”, de bini adamczak, em que a pesquisadora propõe uma nova percepção dos conceitos de passivo e ativo no sexo (e na vida). assim, xs autores deste zine foram convidadxs a escrever poemas inéditos, motivadxs pela leitura deste texto e pelas ideias propostas por bini (com exceção de lilian sais, cujo poema foi escrito anteriormente).

agradecemos a fernanda elias, organizadora do cine sapatão, que deixou a gente usar a tradução pro brasileiro que ela fez de "on circlusion" e à amiga xenia dwertmann, do coletivo female trouble, por ter me mostrado o texto.




o MPPF! #7 tem:

bini adamczak (1979, vive em berlim) é teórica social, escritora, performer e artista visual, vinculada à esquerda radical. escreve sobre teoria política e política queer. seu livro maravilhoso (palavras da adelaide) "Kommunismus: Kleine Geschichte, wie es endlich anders wird" foi lançado pela unrast verlag, em 2004. em 2017 a versão em inlgês foi publicada pela MIT press ("communism for kids") e pro espanhol pela editora akal ("Comunismo para todxs Breve historia de cómo, al final, cambiarán las cosas").

regina azevedo (natal, 2000) é autora dos livros "das vezes que morri em você", "por isso eu amo em azul intenso" e "pirueta".

rafael mantovani (são paulo, 1980) é poeta e tradutor. seu primeiro livro "cão" foi lançado em 2011 pela editora hedra.

antônio lacarne (fortaleza, 1983) é poeta e professor. publicou os livros "elefante-rei: poemas b" (2009) e "salão chinês" (2014).

cecília floresta (são paulo, 1988) é poeta e editora. "poemas crus" é seu primeiro livro, publicado pela editora patuá em 2016.

lilian sais (são paulo, 1985) é poeta, pesquisadora e tradutora.


a versão em ingrêis do zine foi lancada dia 5 de maio de 2018 (dia do b'day de karl marx!) tem xs mesmxs autores, traduzidxs pelas adoradas criaturas: sophie lewis, comunista queer, tradutora e "às vezes professora de política"; francisco vilhena, editor-assistente na revista granta e tradutor; chris daniels, tradutor e guerrilheiro em oakland, califórnia.





lançado em março de 2018 durante o festival feminista de lisboa, agora o .pdf do MPPF! #7 em português está à venda em forma de doações, via paypal. com o dinheiro arrecadado cas vendas de uma edição, a gente financia a próxima (que no caso é o mppf! #8: MARX PORNÔ, POR FAVOR!). o valor é sugerido é a partir de R$ 4 (ou seja, 1 euro, que é a moeda na qual compro papel, tinta de impressora etc.), mas se você puder doar mais é claro que nóis aceita HAHAHA

depois que você fizer a doação, eu recebo uma notificação por email e mando o pdf pro seu email. uma vez que você receber seu zine, pode imprimi-lo, xerocá-lo, fazer o que quiser com ele, quantas vezes quiser. ele deve ser impresso em papel A4, frente-e-verso, em formato retrato (vertical).




o zine mais pornô, por favor! nasceu em dezembro de 2016, em recife, nordeste do brasil. é um zine independente, anarcobucetalista, que se apropria do termo "pornografia" para espalhar no mundo poesia erótica queer e feminista (brasileira, portuguesa e em tradução). nosso o objetivo é torcer a lógica capitalista, misógina, sexista, transfóbica e homofóbica do pornô mainstream. 



Wednesday, February 14, 2018

Precisamos de um feminismo para os 99%. É por isso que entraremos em greve neste ano



. tradução do manifesto "We need a feminism for the 99%. That's why women will strike this year", de Linda Alcoff, Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya, Rosa Clemente, Angela Davis, Zillah Eisenstein, Liza Featherstone, Nancy Fraser, Barbara Smith e Keeanga-Yamahtta Taylor, publicado no The Guardian em 27 de janeiro de 2018
. traduzido por adelaide ivánova na série "é doutrinação esquerdista suficiente ou tá pouco?", inventada e liderada por ela mesma




marcha de 8 de março de 2017 em são paulo
em foto de santarosa barreto


Em 8 de março, entramos em greve contra a violência de gênero, contra os homens que cometem violência e contra o sistema que os protege 


No ano passado, no dia 8 de março, nós, mulheres de todos os tipos, fizemos passeatas, paramos de trabalhar e tomamos as ruas em 50 países em todo o mundo. Nos EUA, nos reunimos, marchamos, deixamos os pratos para os homens lavarem, tanto nas principais cidades do país, como nas menores. Nós fechamos três distritos escolares para provar ao mundo, mais uma vez, que, se somos nós que sustentamos a sociedade, também temos o poder de parar tudo.

8 de março está chegando e as coisas pioraram para nós como mulheres neste país.

Em um ano da administração do Trump, nós não somente sofremos abusos verbais e ameaças misóginas em declarações oficiais, como também o regime Trump implementou políticas que continuarão a nos atacar de maneira profundamente institucional.

A Lei de Cortes Fiscais e Emprego acaba com isenções que beneficiam trabalhadores com baixos salários, dos quais a grande maioria são mulheres. A Lei almeja acabar com o Medicaid e Medicare, os únicos dois programas que sobraram nesta cruel paisagem neoliberal, programas estes que apoiam os idosos e os pobres, os doentes e pessoas com necessidades especiais, o planejamento familiar e as crianças - e, portanto, as mulheres, que sao as que fazem o trabalho de cuidar destas pessoas. E enquanto a Lei retira o direito à saúde para crianças imigrantes, introduz o conceito de poupança para que "crianças não nascidas" possam ir à uma universidade no futuro [nota de Adelaide #1: nos EUA o ensino superior é privado e caríssimo], uma forma sorrateira de estabelecer por lei "direitos" da "criança não nascida", agredindo nosso direito fundamental de tomar decisões sobre nossos corpos.

Mas isso não é tudo.

Com estas múltiplas declarações de guerra abertas contra nós, não nos acovardamos. Nós lutaremos.

Quando, no fim do ano passado, mulheres com visibilidade pública e acesso à mídia internacional decidiram quebrar o silêncio sobre assédio e violência sexual, as comportas foram finalmente abertas e um fluxo de denúncias públicas inundou a web. As campanhas #Metoo, #UsToo e #TimesUp tornaram visível o que a maioria das mulheres já conhecia: seja no local de trabalho ou em casa, nas ruas ou nos campos, nas prisões ou nos centros de detenção, a violência de gênero, com seu impacto diferencial racista, assombra a vida cotidiana das mulheres.

O que também ficou claro é que o silêncio público sobre algo que sempre conhecemos, sofremos e lutamos contra, não existe simplesmente porque temos medo ou vergonha de falar: o silêncio é uma imposição. É imposto pelas leis do Congresso que fazem com que as mulheres passem por quase um ano de aconselhamento e mediação obrigatórios, se elas se atreverem a fazer uma queixa oficial. É imposto pelo sistema de justiça criminal que rotineiramente descarta a palavra das mulheres, usando camadas adicionais de intimidação e violência. Nas universidades, os administradores encontram jeitos espertinhos e "legais" para proteger a instituição e o estuprador, enquanto jogam as vítimas para os lobos. As bases racistas destes procedimentos legais exigem solução.

#Metoo, #UsToo e #TimesUp não expõem apenas indivíduos estupradores e misóginos, eles rasgaram o véu que esconde as instituições e as estruturas que protegem esses indivíduos.

A violência de gênero racial é internacional, e internacional deve ser também a luta contra ela. O imperialismo, o militarismo e o colonialismo dos EUA promovem a misoginia em todo o mundo. Não é por acaso que Harvey Weinstein usou a empresa de segurança Black Cube, composta por antigos agentes do Mossad e outras agências de inteligência israelenses, em seus longos anos tentando silenciar e aterrorizar as mulheres. Sabemos que o mesmo Estado que envia dinheiro a Israel para brutalizar o palestino Ahed Tamimi e sua família também financia as prisões nas quais mulheres afro-americanas como Sandra Bland, dentre outras, morreram.

Então, em 8 de março, vamos entrar em greve contra a violência de gênero - contra os homens que cometem violência de gênero e contra o sistema que os protege.

Acreditamos não ter sido por acaso que foram nossas irmãs em [mais alta] posição social que tornaram visível o que todas nós já conhecemos. Elas têm mais meios para fazê-lo, do que a nossa irmã de baixo salário, muitas vezes mulher de cor, que limpa os quartos dos hotéis chiques em Chicago ou a irmã agricultora nos campos californianos.

A grande maioria de nós não pode falar porque não temos poder coletivo em nosso local de trabalho, nem temos, fora do local de trabalho, acesso a apoio social, como por exemplo serviços de saúde. O trabalho, mesmo com seu salário baixo, com colegas e chefes abusivos, com suas longas jornadas, torna-se a única coisa que tememos perder, já que é o único meio que temos para colocar comida na mesa das nossas famílias e cuidar de nossos doentes.

Nós não mantemos a boca fechada [por vontade própria]. Somos obrigados a manter nossas bocas fechadas pelo capitalismo.

Então, no dia 8 de março, falaremos em primeira pessoa contra os agressores individuais que tentaram arruinar nossas vidas e falaremos coletivamente contra a insegurança econômica que nos impede de falar.

Vamos entrar em greve porque queremos expor nossos abusadores, um a um. E vamos entrar em greve porque precisamos de bem-estar social, empregos e salários para alimentar nossas famílias, bem como o direito de sindicalizar, caso sejamos demitidas por confrontamos os abuso.

Assim, em 8 de março, vamos entrar em greve contra o encarceramento em massa, a violência policial e os controles nas fronteiras, contra a supremacia branca e as guerras imperialistas dos EUA, contra a pobreza e a violência estrutural escondida que fecha nossas escolas e nossos hospitais, envenena nossa água e comida e nos rejeita a justiça reprodutiva.

E entraremos em greve por direitos trabalhistas, a igualdade de direitos para todos os imigrantes, a igualdade de remuneração e um salário digno, porque a violência sexual no local de trabalho aflora exatamente onde faltam esses métodos de defesa coletiva.

8 de março de 2018 será um dia do feminismo para os 99%: um dia de mobilização de mulheres negras e de cor, mulheres cis e bi, lésbicas e trans, dos pobres e da baixa renda, de cuidadores não remunerados, de profissionais do sexo e migrantes.

Em 8 de março, #WeStrike.

assinam Linda Alcoff, Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya, Rosa Clemente, Angela Davis, Zillah Eisenstein, Liza Featherstone, Nancy Fraser, Barbara Smith, Keeanga-Yamahtta Taylor

Monday, January 22, 2018

mas pelo menos o capitalismo é livre e democrático, néam?



. trecho do texto "but at least capitalism is free and democratic, right?", de erik olin wright (é um omi, foi mals) publicado no livro "the abcs of socialism"
. traduzido por adelaide ivánova na série "é doutrinação esquerdista suficiente ou tá pouco?", inventada e liderada por ela mesma



essa foto nao tem nada a ver
com esse texto mas pus aqui
pra atrair cliques



nos eua, muitos têm certeza que liberdade e democracia estão inevitavelmente conectados com capitalismo. milton friedman, no seu livro "capitalismo e liberdade", chegou a dizer que capitalismo era uma condição necessária para [a existência de] ambos.

sim, é verdade que o aparecimento e dispersão do capitalismo trouxe consigo uma expansão tremenda de liberdades individuais e, eventualmente, lutas populares por mais formas democráticas de organização política. assim sendo, dizer que o capitalismo obstrui tanto liberdade quanto democracia soa estranho para muitas pessoas.

dizer que capitalismo restringe o crescimento desses valores não significa dizer que capitalismo é contra liberdade e democracia em tooodas as instâncias. É o contrário: no funcionamento de seus processos mais fundamentais, o capitalismo gera déficits severos tanto para a liberdade quanto para  a democracia, danos esses que o capitalismo tampouco pode remediar. foi o capitalismo que promoveu o surgimento de certas formas, ainda que limitadas, de liberdade e democracia, mas foi também o capitalismo que impôs muitas limitações ao desenvolvimento de ambas.

(...)

há cinco formas em que essas limitações se tornam aparentes:

1) "trabalhe ou morra de fome" não é liberdade

o capitalismo está ancorado na [relação entre] acumulação privada de riqueza e procura por salários. as desigualdades econômicas que resultam dessas atividades "privadas" são intrínsecas do capitalismo e criam outras desigualdades que o filósofo philippe van parijs chama de "liberdade real".

o que quer que signifique "liberdade", dentro de sua definição deve estar inserida a habilidade de dizer "não". uma pessoa rica pode livremente decidir se ela quer ou não trabalhar em troca de um salário; uma pessoa pobre sem um meio independente de subsistência não pode tomar essa decisão tão facilmente.

mas o valor de liberdade é mais profundo que isso. também é a habilidade de agir positivamente para a realização de seus próprios projetos -- ou seja, não somente poder decidir quais repostas, mas também quais perguntas você quer fazer.

os filhos de pessoas ricas podem fazer estágios não-remunerados para avançar nas carreiras; os filhos de pais pobres, não.

nesse sentido, o capitalismo tira sim muita liberdade das pessoas. pobreza e abundância existem por causa de uma equação direta entre recursos materiais e os recursos necessários para a autodeterminação. [nota da adelaide #1: o que ele quer dizer é: só tem a tal da autodeterminação quem tem dinheiro pra comprar ela haha]

2) capitalistas decidem

no capitalismo, a forma como o limite entre público e privado é criado impede que decisões cruciais, que afetam grandes quantidades de pessoas, sejam decididas democraticamente. talvez o direito mais fundamental que as empresas privadas têm é o direito de decidir investir ou desinvestir com base estritamente no seus próprios interesses.

a decisão de uma corporação, de investir em um lugar e não investir em outro, é uma questão privada, muito embora essa decisão tenha um impacto radical nas vidas de todas as pessoas, em ambos os lugares. mesmo que uma pessoa argumente que essa concentração de poder na iniciativa privada é necessária para a alocação eficiente de recursos, excluir esse tipo de decisão do controle democrático dizima a capacidade de autodeterminação -- exceto para aqueles que possuem capital.

3) jornada de 8 horas é tirania

empresas capitalistas estão autorizadas a terem ambiente de trabalho ditatoriais. uma parte essencial do poder do dono da empresa é o direito de dizer aos seus contratados o que fazer. essa é a base do contrato de trabalho: o candidato concorda em seguir as ordens de um dono de empresa em troca de um salário.

claro, um dono de empresa pode dar aos trabalhadores autonomia, se ele quiser, e em algumas situações essa é a forma de aumentar mais ainda os lucros. mas essa mesma autonomia é dada ou retirada de acordo com o bel-prazer de um dono de empresa [nota da adelaide #2: aquela balelinha do silicon valley de jornada de cinco horas de trabalho e ambiente de trabalho mais amigável com mesa de pingue-pongue e blablabla não é pensada pra melhorar a vida do trabalhador ATE PQ AS MUIE CONTINUA SENDO PAGA 30% MENOS NEAM, nem tem como objetivo dividir a riqueza produzida pelo trabalhadores, entre os trabalhadores. essa balela é pensada para a) aumentar a produtividade para que b) aumente-se os lucros que c) NAO SERAO divididos entre os trabalhadores que aumentaram os mesmo lucros. mais sobre isso no livro "the new spirit of capitalism", que eu nao li ainda haha]. ora, uma concepção real de autodeterminação não permitiria que autonomia dependesse da preferencia das elites.

um defensor do capitalismo poderia responder que um trabalhador que não goste das regras do seu chefe tem sempre a possibilidade de pedir demissão. mas já que trabalhadores, por definição, não são donos de formas independentes de subsistência, se ele pedir demissão terá que procurar por um novo trabalho, onde terá que se submeter a regras de um outro dono de empresa.

4) governos estão a serviço do interesse de capitalistas

controle das empresas em decisões importantes sobre onde serão feitos investimento cria uma pressão constante nas autoridades publicas, para que estas tomem decisões favoráveis aos interesses dos capitalistas. a ameaça de desinvestimento e mobilidade do capital é sempre um pano de fundo para discussão das políticas públicas e assim, políticos, qualquer que seja sua orientação ideológica, são forcados a se preocupar em sustentar um "bom clima para os negócios". [nota da adelaide #3: mais para frente, em parte deste texto que não traduzi, wright escreve: “um setor publico forte e investimentos estatais podem enfraquecer a ameaça de retirada do capital” ;) #lula2018].

valores democráticos tornam-se vazios enquanto uma classe de cidadãos tiver prioridade sobre a outra.

5) elites controlam o sistema político

por último, gente rica tem mais acesso ao poder politico do que outras. esse é o caso em todas as democracias capitalistas, ainda que esse fenômeno seja maior em alguns países do que em outros.

os mecanismos específicos para conseguir mais acesso ao poder político variam: contribuição em campanhas políticas, financiar lobbies; formas variadas de network das elites; propinas e outras formas de corrupção.

nos eua, tanto indivíduos ricos como corporações capitalistas, não encontram qualquer restrição para a forma como usam recursos privados com objetivos políticos. esse acesso diferenciado ao poder político anula o princípio mais básico de democracia.

essas consequências são endêmicas do capitalismo enquanto sistema econômico.

(...)

as características antidemocráticas e anti-liberdade do capitalismo podem até ter paliativos, mas não podem ser eliminadas. domar o capitalismo com paliativos foi o objetivo central das políticas dos socialistas dentro de economias capitalistas. mas se liberdade e democracia são nossos objetivos, o capitalismo não pode ser apenas domado. tem que ser eliminado.


FIM!


Thursday, January 11, 2018

calendário bucetoterrorista educacional antifeminicida 2018



gastone, presente!



a bolagato edições anarcobucetalistas
(vulgo eu)
fez um calendário com aniversários
e biografias de 14 ativistas brasileiras da pá-virada
que foram assassinadas pelo Estado brasileiro.
são mulheres que lutaram contra a ditadura militar,
ativistas camponesas,
sindicalistas e quilombolas.
me foquei nas bucetalistas esquecidas
dessas histórias, o que significa 
basicamente
as nordestinas e as não-brancas.
o calendário pode ser adquirido
com doações de R$ 10,
via paypal,
e você recebe um pdf pra imprimir
em casa (e um vídeo com
orientações de como
montar seu calendário).

nós encorajamos 
você a xerocar e a dar de presente
pra todas as suas migas.
o valor de R$ 10 é pra
ajudar a manter meu trabalho
de ativista e de editora terrorista de biquíni.





se você não tiver paypal,
mande email para bolagato.edicoes@gmail.com
e eu passo os dados da minha cuenta.

screen shot do pdf
tudo meio magenta
tudo meio tosco
que é como tem que ser


bucetalismos