Sunday, December 16, 2018

aciclovir



peguei no teu rosto com as duas mãos
em concha
uma em cada bochecha eu disse
se cuida
e tu dissesse
tu também
mas eu pensei como assim eu estou ótima quem precisa se cuidar é você
que conversa

peguei no teu rosto com as duas mãos
que na ausência dele
se chocariam
em prece eu dizendo
boy meu que coloco no céu
santificado seja tu todo
irei sempre pra tua casa
e farei pra sempre tuas vontades
onde quer que tua casa seja
a migalha de cada dia me dê hoje

assim como te dou tudo até o que não tenhas pedido
faça tudo o que quiser
mas me livre desse divórcio
amém

peguei no teu rosto com as duas mãos
dois metros de cara ainda sobrando
que a tua cabeça de viking é grande
e quando tu levanta sem dizer bom dia
e vai embora sem deixar rastro
fica no travesseiro a marca

peguei no teu rosto olhando pra cima
como o de costume
heterossexual

enchi com tua barba minhas mãos 
tentando matar uma saudade
que na verdade
já passou faz tempo
mas agora tu volta limpo e de pupilas
dilatadas
dos remédios que substituem
um vício por outro
a medicina fez muitos avanços mas
não há pastilha suficiente pros vírus
que eu carrego
herpes e você
minha nossa que verso adelaide que clichê
se bem que ninguém escreve sobre herpes
então voilà está salvo o verso

peguei no teu rosto com as duas mãos
negociando mais uma vez comigo mesma
se perdia o trem ou se ia
meu deus armin meu deus
nós éramos os maiores
despertamos a ira dos cínicos
dos mendigos dos farmacêuticos
e dos policiais
naquele 2009
forjamos cenas de cinema
teu cabelo voando pra fora do carro
portas batendo tatuagens poemas
até casar casamos