Friday, October 30, 2015

uma verdade

chantal akerman disse que ela mesma ia dizer uma verdade




hoje é dia de manifestação contra o PL 5069, em são paulo, amigas. não deixem de ir!

Sunday, October 25, 2015

FACEBOOK DOS DEPUTADOS QUE VOTARAM A FAVOR DO PL 5069

queridas, perdi minha preciosa manhã de domingo procurando os facebooks dos 37 deputados que votaram a favor do PL 5069/13 - e infernizando suas vidas online, até chegar ao deputado nº 15, quando meu facebook foi temporariamente desativado haha. adelaidinha terrorista.

isso foi o que colei nas páginas dos senhores: #naoaoPL5069 https://www.youtube.com/watch?v=Cei1HUf1wHY

por favor, repassem essa lista!



1. Aguinaldo Ribeiro - (PP/PB)

2. Alceu Moreira - (PMDB/RS)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: ESSE FECHOU PRA COMENTÁRIOS!!!

3. BISPO Antônio Bulhões - (PRB/SP)

4. Arnaldo Faria de Sá - (PTB/SP)

5. Arthur Lira - (PP/AL)

6. Bruno Covas - (PSDB/SP)

7. CAPITÃO Augusto - (PR/SP)

8. Covatti Filho - (PP/RS)

9. DELEGADO Eder Mauro - (PSD/PA)

10. Diego Garcia - (PHS/PR)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: APAGOU OS COMENTÁRIOS!!!

11. Evandro Gussi - (PV/SP)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: APAGOU OS COMENTÁRIOS!!!
UPDATE DO DIA 27 DE OUTUBRO: FECHOU PARA COMENTÁRIOS!!!


12. Fausto Pinato - (PRB/SP)

13. Francisco Floriano - (PR/RJ)

14. João Campos - (PSDB/GO)

15. Juscelino Filho - (PRP/MA)

16. Marco Tebaldi - (PSDB/SC)

17. Marcos Rogério - (PDT/RO)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: APAGOU E FECHOU PARA COMENTÁRIOS!!!

18. Pedro Cunha Lima - (PSDB/PB)

19. PASTOR Eurico - (PSB/PE)

20. Pastor Marco Feliciano - (PSC/SP)

21. Rogério Rosso - (PSD/DF)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: APAGOU E FECHOU PARA COMENTÁRIOS!!!

22. Ronaldo Fonseca - (PROS/DF)
esse só dá pra mandar mensagem!

23. Sergio Souza - (PMDB/PR)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: esse começou a moderar os comentários!!!

24. Veneziano Vital - (PMDB/PB)

25. Alexandre Leite - (DEM/SP)

26. Delegado Waldir - (PSDB/GO)

27. Eduardo Bolsonaro - (PSC/SP)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: apagou todos os comentários relacionaos ao PL.

28. Elmar Nascimento - (DEM/BA)

29. Gonzaga Patriota - (PSB/PE)

30. Gorete Pereira - ( PR/CE)

31. Jefferson Campos - (PSD/SP)

32. Laerte Bessa - (PR/DF)

33. Lincoln Portela - (PR/MG)

34. Paulo Freire - (PR/SP)
UPDATE DO DIA 26 DE OUTUBRO: ESSE FECHOU PRA COMENTÁRIOS!!!

35. Renata Abreu - (PTN/SP)

36. Sóstenes Cavalcante - (PSD/RJ)

37. Vítor Valim - (PMDB/CE)
ESSA é UMA FANPAGE HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA NO PUEDO!


poesia negra e simone de beauvoir no enem...

... na mesma semana em que o PL 5069/13 foi aprovado.

#naoaoPL5069






simone disse que ela mesma ia cair no enem

Saturday, October 24, 2015

(interrompendo a programação)

criei meu primeiro, meme, gente, e ele é genial HAHAH ALOK.



hello ops olar

Friday, October 23, 2015

#naoaopl5069 - algumas formas de se mobilizar

queridas,

é importante a gente se mobilizar e mostrar nas ruas e nas redes o que a gente acha do PL 5069/13. aqui alguns links importantes:

. mude sua foto de perfil

. assine a petição contra o PL 5069/13 (já vamos em 43 mil assinaturas, 13 mil a mais que o esperado!)

. questione o PL no facebook de eduardo cunha e evandro gussi. faça da vida deles um inferninho! : )

. vá às manifestações

em porto alegre  (dia 27 de outubro)

no rio (dia 28 de outubro)

no recife (dia 28 de outubro)

em são paulo (dia 30 de outubro)

em brasília (dia 31 de outubro)


. se não puder ir às manifestações, organize uma em sua cidade!

. se não puder ir, nem organizar, ao menos clique em "eu vou" em todas os eventos linkados acima, para demonstrar apoio!

. pílula fica, cunha sai no facebook (já são quase 20 mil pessoas!!!)

. use a hastag! #naoaopl5069

. repasse pras amigue anti-aborto esse link, em que o dr. drauzio varella explica o que é a pílula do dia seguinte. ou simplesmente copie isso aqui:

"amiga, a pílula do dia seguinte é um CONTRACEPTIVO, como pílula e camisinha. a única diferença é que funciona beeeem mais rápido. ou seja não 'mata um inocente', ao contrário, evita que um aborto tenha que ser feito!".

"amiga, a pílula do dia seguinte é um CONTRACEPTIVO, como pílula e camisinha. a única diferença é que funciona beeeem mais rápido. ou seja não 'mata um inocente', ao contrário, evita que um aborto tenha que ser feito!".

"amiga, a pílula do dia seguinte é um CONTRACEPTIVO, como pílula e camisinha. a única diferença é que funciona beeeem mais rápido. ou seja não 'mata um inocente', ao contrário, evita que um aborto tenha que ser feito!".

"amiga, a pílula do dia seguinte é um CONTRACEPTIVO, como pílula e camisinha. a única diferença é que funciona beeeem mais rápido. ou seja não 'mata um inocente', ao contrário, evita que um aborto tenha que ser feito!".


madonna pró-vida das muié

Thursday, October 22, 2015

in celebration of my uterus, de anne sexton



ontem, o projeto de lei 5069/13, de autoria de eduardo meu cu-nha, que restringe os direitos das vítimas de violência sexual de receberem o atendimento (e acesso um atendimento humanitário e direitos reprodutivos e sexuais básicos), foi aprovado. não é apenas um absurdo, é realmente um passo atrás, um retrocesso, um desavanço, já que retira um direito proposto pela lei 12845/13. (para quem quiser ler mais sobre essas duas leis, por favor clique aqui, é importante saber que não somos soberanas e que existem leis regulando nossos corpos, queridas).

a dificuldade que é alcançar direitos reprodutivos e sexuais é bem clara. o que me dá pavor e saber que um direito alcançado possa ser revogado. é difícil imaginar a construção de uma sociedade menos desigual quando os direitos concedidos começam a ser RETIRADOS.

esse ano, a mobilização popular na alemanha conseguiu fazer com a pílula do dia seguinte passasse a ser vendida sem receita médica - agilizando a decisão e a eficácia do medicamento e, portanto, reiterando o direito da mulher de ter soberania sobre seu corpo. enquanto isso, no brasil, damos esse enorme passo pra trás.

eu mal consegui dormir ontem. preocupada com as 103,5 milhões de brasileiras, que são a maioria da população no país, abandonadas à própria sorte num país governado por coroneis.

eu traduzi esse poema dos love poems hoje de manhã, nas carreiras, com uma tristeza profunda. para celebrar nós mesmas e nosso útero, que é e foi casa de toda gente - inclusive destes vermes em brasília, que esquecem que saíram de dentro de uma mulher.

CELEBRAÇÃO DO MEU ÚTERO

Tudo em mim é pássaro.
Bato todas minhas asas.
Eles queriam te tirar de mim
mas eles não vão.
Eles disseram que você é imensamente vazio
mas você não é.
Eles disseram que você estava morrendo
mas eles estavam errados.
Você canta como uma menina.
Você não é em vão.

Querido fardo,
para celebrar a mulher que sou
e a alma dessa mulher que sou
e a criatura central e a sua luz,
eu canto para você. Eu ouso viver.
Olá, alma. Olá, troféu.
Fixo, envólucro. Cobertor e conteúdo.
Olá para a terra destes campos.
Raízes: bem-vindas.

Cada célula existe.
Aqui há o suficiente para satisfazer a nação.
Já chega que essa ralé se apodere desse bem.
Qualquer um, qualquer comunidade diz dele,
“Que bom que esse ano poderemos plantar de novo
e nos alegrar pela colheita.
A vacina contra a praga foi o vaticínio”.
Muitas mulheres, unidas, cantam sobre isso:
ela está na fábrica de sapatos, xingando a máquina,
ela está no zoológico cuidando de uma onça,
ela está triste dirigindo seu Fiesta,
ela está trabalhando no guichê do pedágio,
ela está no desfile da escola de samba,
ela está afinando um violoncelo na Rússia,
ela está mexendo o almoço no Egito,
ela está pintando as paredes do quarto,
ela está morrendo mas lembrando de um café-da-manhã,
ela está fazendo ioga na Tailândia,
ela está limpando a bunda de um filho,
ela está olhando pela janela do ônibus
no meio do Tocantins e ela está
em lugar nenhum e outras estão em todos os lugares e todas
parecem cantar, ainda que algumas sejam
desafinadas.

Querido fardo,
para celebrar a mulher que sou
me deixe usar uma écharpe de 3 metros,
me deixe paquerar os meninos de 19 anos,
me deixe levar as oferendas
(se for o caso).
Me deixe analisar os tecidos cardiovasculares,
e examinar as distâncias entre os meteoros,
me deixe chupar o caule das flores
(se for o caso).
Me deixe ser Iemanjá
(se for o caso).
Por aquilo que o corpo precisa
me deixe cantar
para celebrar o jantar
o beijo
o sim
certeiro.





IN CELEBRATION OF MY UTERUS

Everyone in me is a bird.
I am beating all my wings.
They wanted to cut you out
but they will not.
They said you were immeasurably empty
but you are not.
They said you were sick unto dying
but they were wrong.
You are singing like a school girl.
You are not torn.

Sweet weight,
in celebration of the woman I am
and of the soul of the woman I am
and of the central creature and its delight
I sing for you. I dare to live.
Hello, spirit. Hello, cup.
Fasten, cover. Cover that does contain.
Hello to the soil of the fields.
Welcome, roots.

Each cell has a life.
There is enough here to please a nation.
It is enough that the populace own these goods.
Any person, any commonwealth would say of it,
“It is good this year that we may plant again
and think forward to a harvest.
A blight had been forecast and has been cast out.”
Many women are singing together of this:
one is in a shoe factory cursing the machine,
one is at the aquarium tending a seal,
one is dull at the wheel of her Ford,
one is at the toll gate collecting,
one is tying the cord of a calf in Arizona,
one is straddling a cello in Russia,
one is shifting pots on the stove in Egypt,
one is painting her bedroom walls moon color,
one is dying but remembering a breakfast,
one is stretching on her mat in Thailand,
one is wiping the ass of her child,
one is staring out the window of a train
in the middle of Wyoming and one is
anywhere and some are everywhere and all
seem to be singing, although some can not
sing a note.

Sweet weight,
in celebration of the woman I am
let me carry a ten-foot scarf,
let me drum for the nineteen-year-olds,
let me carry bowls for the offering
(if that is my part).
Let me study the cardiovascular tissue,
let me examine the angular distance of meteors,
let me suck on the stems of flowers
(if that is my part).
Let me make certain tribal figures
(if that is my part).
For this thing the body needs
let me sing
for the supper,
for the kissing,
for the correct
yes.




ps: existem algumas observações sobre essa tradução que eu gostaria de fazer, mas vou me abster, hoje, de falar sobre isso, porque queria me ater ao assunto da PL 5069/13 e a house of cunha. 

Wednesday, October 21, 2015

medir com os limões a própria febre

queridas leitorinhxs em/de lisboa que não tiverem nada melhor pra fazer amanhã: é o lançamento da versão portuguesa "medir com as próprias mãos a febre" (mariposa azual), livro novo da minha amiga querida ricardo domeneck.

eu acho que vai ser uma noite super linda, com apresentação de miguel martins e leituras das maravilhosas alexandra lucas coelho e matilde campilho, ederval fernandes e ricardo domeneck, mais performance de daniel monteiro. aqui tá link do evento no facebook.

o lançamento no porto vai ser dia 25, ainda não sei onde, mas aviso aqui.

e como se o livro por si só não bastasse, vale dizer que a foto de capa da versão portuguesa é desta que vos amola:



ricardo e a cria


a capa da cria 
e a barriga do primeiro leandro
em 2003 
(gente...)





nos brasil, o livrin já pode ser comprado no site da 7letras. falando em 2003, a dedicatória de ricardo:







Wednesday, October 14, 2015

tire seu collant do armário e save the fate


gente querida, dias 11 e 12 de dezembro eu e jéssica mangaba vamos coordenar uma coreô grupo de auto-ajuda carnificina oficina em são paulo, sobre representação e auto-representação do feminino nas artes contemporâneas.

o nome do negócio é "mrs. dalloway disse que ela mesma ia comprar as flores" (vocês sabem da minha obsessão com virginia woolf, fotógrafa) e o objetivo é aquecer a reflexão sobre esse assunto, e pensar a mulher como construtora da própria imagem. e falar de astrologia. BRINKS.

o público-alvo é todo mundo, mas só tem doze vagas (e mais 3 para bolsistas), então corre! para saber todos os detalhes de preço, inscrição, onde-e-quando etc., clica aqui.



ana mendieta disse que ela
mesma ia chafurdar na neve

Tuesday, October 13, 2015

363 horas



Rimbaud também chegou andando em Paris, Johannes, como eu chego hoje até aqui, e é engraçado lembrar de Rimbaud agora, porque era assim que eu te chamava, porque você parece com Leonardo di Caprio quando ele era jovem e se ele fosse ruivo, e porque você morou na África e porque eu e Paul Verlaine temos você em comum. Johannes, você abriu minhas cartas?





"this route crosses through france"





trecho do texto mais obcecado que eu escrevi na vida, publicado na nova edição do suplemento pernambuco.



Thursday, October 08, 2015

vem aí e mais






Pequena Nota sobre a Dispersão da Língua
Diane di Prima, tradução de Ricardo Domeneck

uau cara eu disse
quando você inclinou meu queixo e nutriu
de cabeça em cuspe a libação de minha língua em fluidos

e uau cara eu disse quando caímos nos trapos e espuma
e uau era a aurora: nós fervemos os cafezais
numa panela batida

uau cara eu disse o dia em que caí de sua graça
(apenas o tom foi outro)
uau cara uai uau eu colhi meu pente
e meus dois livros e sumi e pronto e acabou


com esse post maravilhoso de ricardo domeneck

Wednesday, October 07, 2015

vem aí


eu e jéssica mangaba tamo de colant preparando a pista.


gena








Sunday, October 04, 2015

#ocupeestelita #resisteestelita


quinta-feira passada
em recife
durante uma manifestação
(pacífica)
aí quando vejo uma merda dessa
lembro do que nina simone
dizia
"i'm not non-violent".
tarra certa

Friday, October 02, 2015

carta em que a autora de 33 anos celebra o livro de estreia de sua crush literária (literária, an-ran) de 26 anos*




---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Adelaide Ivánova
Data: 25 de agosto de 2015 01:58
Assunto: volta
Para: William Zeytounlian

1.
a vida facebookiana tá muito sem graça depois que a senhora saiu do FB. ainda tentei dar uma azucrinada em TEXTO CENSURADO hoje, queria TEXTO CENSURADO CENSURADO CENSURADO CENSURADO mas ele não é tia como a gente. 


então volta, amiga.


2.

william,

eu sei que teu livro tá pronto e prescinde de pitacos. sei também que elogio não faz ninguém andar pra frente. o problema é que eu sei que tem ali mais coisa do minha leitura consegue ver. não tenho repertório suficiente pra "traduzir" tudo que tem ali dentro, então minha leitura foi bem roberta miranda: não sei o que dizer, apenas sentir.

é muito bonito observar as ondas que diáspora tem, william, tu passando do coletivo pro privado de um jeito tão "soberano" (essa palavra é um pouco exagerada, mas não achei outra mais calma. eu queria dizer algo entre autônomo e soberano). gosto muito de como na primeira parte tu fala de todo mundo; depois tu convida a gente a chorar tuas pitangas, as privadas mas também as coletivas.

ah uma coisa que eu queria dizer: nos agradecimentos do livro tu fala "sem vocês eu não teria corrido o risco" e de fato é muito arriscado esse passo: combinar texto com foto. sempre acho perigoso quando um tenta me dizer com o outro o que devo sentir. como os poemas são muito sólidos, ao final tiram qualquer chance de auto-indulgência. é um exercício corajoso, tem que ter muito cojones pra não ter medo de botar foto em livro de poesia. tu merecia um nude só por isso hahaha

tenho pensando muito no livro de poesia enquanto projeto (tipo os livros de fotografia) e
diáspora me fez pensar muito em anna akhmatova tematizando a guerra em requiem ou caetano tematizando exílio no disco que tem london, london (não tô comparando os dois pelamor, tô apenas pensando nesses modos operandi aí).

pensei na máquina emotiva de corbusier, mas não sei se pensei certo quando pensei isso. 

também lembrei de joão cabral (capricorniano, claro) que dizia que o material da sua poesia era a memória. tem muita memória no teu livro, as tuas, as que não são tuas. é de novo o risco - nesse caso, o de se misturar aos fatos. numa entrevista com oprah (puro amor), maya angelou disse que os fatos encobrem a verdade, e que a verdade se encontra quando a pessoa se pergunta não o que aconteceu, mas o que ela sentiu quando o acontecido aconteceu. é bonito, né? acho que tu fez isso, ou quis fazer isso. tô certa ou num tô? ALOK.


pensei em john wieners, quando ele diz: "again we go driven by forces/we have no control over", em "a poem for painters" é a gente, william, bicha signo de fogo, escrevendo/vivendo (ainda que john wieners fosse capricorniano como joão cabral). 

tu sabia que celan também era sagitariano feito tu?

falando em fogo, eu gosto MUITO que a primeira palavra do livro é "quente" e a última é "entenderemos". um monte de "E". na tabela pitagórica E, N e W (primeira letra do teu primeiro nome, btw.) têm o valor 5, que é o número da liberdade. acho bonito pensar nisso no contexto dum livro que se chama diáspora, em que a palavra "livre"  aparece sete vezes e "liberdade", duas. e nenhuma vez  "amor" (ainda que a coisa-amor esteja lá; não sou tão burra haha).

o trecho de poema com o gagarin que tu antes tinha mandado começa cantando caetano e fiquei feliz. foi a única coisa que reconheci, além das maiakosvkadas que tu dás no português, obrigada. eu sei que tem mais coisa ainda ali preu descobrir, que passa despercebida na minha leitura analfabeta. desculpa não ter comentários mais inteligentes pra fazer como tu tiveste em relação ao meu!

vai ser bom passar mais tempo com teu livro, vai ser a minha mala educacion hahaha "com o velho dedo que envereda na ferida" (que lindo isso, william, vai tomar no cu).

muitos beijos orgulhosos,
da sua tia.




diáspora é o livro de estreia de de william zeytounlian. vai ser lançado amanhã em são paulo, pelo selo demônio negro e dá pra comprar aqui. no livro, william "traz para sua escrita a experiência diaspórica de sua família, de sua própria avó, sobrevivente dos extermínios do Governo Otomano contra a população armênia do Império no início do século XX. Essa história pessoal, familiar, informa com poder metonímico todo o livro" (trecho do posfácio de ricardo domenek). eu acho importante, ainda, apontar a importância da memória como ferramenta de trabalho, e apontar que a experiência diaspórica é usada também como alegoria para falar de outros contextos, de outras experiências. é um livro muito bonito.

para ler trechos dos poemas, crica aqui.


*o título dessa postagem é roubado do poema "texto em que o poeta celebra o amante de 25 anos" de ricardo domeneck.

o sismógrafo


um sismógrafo não gira em torno de
si mesmo como faria um compasso
(objeto sincero que demarca território ou
ritmo) um sismógrafo vai em frente como faria
uma pessoa decente e entregue como
(não) são as pessoas bernardo que não
são como eu eu sigo bernardo
me movendo em círculos em torno
disso e de você dessa busca
o sismógrafo mede terremotos
no chile e olha para o futuro e para
a segurança de todos os envolvidos
os culpados os absolvidos
seria o sismógrafo bernardo capaz
de medir os batimentos cardíacos e
aquilo que é imprevisível aquilo
que ele mesmo causa?
seria o sismógrafo ignorante de si mesmo
capaz de medir os abalos sísmicos
que a visão de você procurando a nota
de cinco euros no fim da noite
causa em mim? eu poderia bernardo
traduzir em escalas richter todas as desgraças
deste mundo sem nunca poder
traduzir em algarismos romanos ou
arábicos os efeitos desse terremoto
interno causado exclusivamente pela
existência dos seus músculos
bernardo
eu poderia esvaziar esse bar
levar seus donos a falência
pelo puro desejo insaciável
de te ouvir falar.

Thursday, October 01, 2015

todos conhecem a história da outra, de anne sexton

TODOS CONHECEM A HISTóRIA DA OUTRA

É um Walden particular.1
Ela está sozinha na cama
enquanto o corpo dele se ajeita e dispara,
decidido como uma flecha.
Mas isso tá mal explicado.2
A luz do dia não é amiga de ninguém.
Deus chega como se fosse cobrar o aluguel
e acende a luz quando não convém.3
Agora ela está assim-assado.4
Ele põe seus ossos de volta no lugar,
atrasa o relógio em uma hora.
Ela conhece a carne, o balão feito de pele,
os membros partidos, o assoalho,
o teto, o teto removível.5
Ela é meio-período sua eleição.
Você conhece essa história. Fique olhando:
quando termina ele a coloca,
como um telefone, no gancho.6




YOU ALL KNOW THE STORY OF THE OTHER WOMAN

It's a little Walden.
She is private in her breathbed
as his body takes off and flies,
flies straight as an arrow.
But it's a bad translation.
Daylight is nobody's friend.
God comes in like a landlord
and flashes on his brassy lamp.
Now she is just so-so.
He puts his bones back on,
turning the clock band an hour.
She knows flesh, that skin balloon,
the unbound limbs, the boards,
the roof, the removable roof.
She is his selection, part time.
You know the story too! Look,
when it is over he places her,
like a phone, on the hook.


notas
#1Walden é o livro de Thoreau sobre vida simples, isolada, em conexão com natureza (é sobre outra coisa, na verdade, mas esse é o cenário do livro). ao contextualizar a ação do poema citando Walden, Anne faz alusão a um lugar idílico, onde "dentro" é que se passam os conflitos (dentro da casa, no poema; dentro do sujeito, em Thoreau).

#2
"tá" porque no poema ela escreve "it's" em vez de "it is". como sabemos o apreço de Anne pela língua falada, deixei assim.


#3
no original, ela prefere adjetivar a luz do que a ação de deus. como não achei nenhuma traudção pra brassy que me agradasse, e pra manter a musicalidade que aparece aí (nobody's friend/brassy lamp), ficou assim, adjetivando não a lâmpada, mas a própria ação de acender a luz.

quando a luz é acesa ou o dia amanhece (deus acendendo a luz), é quando somos pegos no flagra, é a hora de sentir culpa.

#4
como o poema tem duas perspectivas (a do homem e a da "outra"), confesso que não sei se ela diz
she is so-so no sentido de estar de humor mais ou menos, ou de estar apenas marromeno bonita. tipo: depois que se acende a luz (ou seja, acabou a festa), o humor dela fica abalado - que nunca? - ou depois de se acender a luz (ou seja, acabou a festa), ele a pode ver e já não acha tão bonita assim, acha ela apenas "mais ou menos". então a tradução ficou meio neutra, embora neutra de cu é rola. mas tive que ficar em cima do muro porque não sei o que fazer. por ora, essa é a solução, mas vou continuar pensando nisso. aceitamos mastercard e sugestões.

#5
esses três versos são muito bonitos, como ela mistura descrição de corpo com contexto.
teto removível é uma alusão clara àquelas casas de barbie que se pode retirar o teto e manipular e olhar a boneca desde cima. e quando a brincadeira acaba, metemos a barbie dentro da casa, tampamos com o teto e tchau, até que se tenha vontade de brincar de novo (enquanto isso a boneca fica lá...).

#
6
 o original tem o
look!, que é um recurso não raro de anne (aparece inclusive em o nado nu). quem diz look! aponta um dedo pra alguma coisa, e é disso que esse livro inteiro trata. eu demorei muito pra decidir como traduzir essa estrofe, porque "fique olhando" tem essa denotação voyeuristica também, mas é menos acusativa, é mais sutil do que "olha!". mas como queria respeitar a musicalidade de look/hook, optei por essa solução, porque tampouco não consegui pensar em nenhum sinônimo para 'colocar o telefone no gancho' que rimasse com 'olha'.

outro comentário
eu acho o título desse poema tão triste, no sentindo do autoesculacho que ela mesma se impõe. primeiro porque é importante lembrar que o amante também era casado, mas apenas 
ela tinha o papel de criminosa. cabe apenas a Anne o estigma, porque ela vivia a sexualidade fora do contrato social. já para o amante (casado e que seria "o outro" em relação ao marido de anne) não cabe nenhum julgamento, já que o casamento privilegia a figura masculina em seus acordos (ou seja, ter uma amante faz parte do pacote, tudo ok). 

eu sei, o poema foi escrito na década de 60 nos EUA - mas estamos falando dele hoje. a "outra" é uma personagem a quem ainda não foi conferido nenhum status social. como a sexualidade feminina, regulamentada pelo Estado, é legitimizada unicamente através da figura da esposa, todo tipo de sexualidade experimentada em outros contextos, em outros papeis sociais ("a outra", "a solteira sexualmente ativa (gay ou hetero)", "a assexuada" etc.) é visto como rompimento com o contrato social e é, portanto, marginal, digna de condenação.


pronto, termino afinal essa tradução-ladainha - desculpem o incômodo, mas de que serviriam os poemas se não nos fizessem pensar em outra coisa além do poema em si?




outras traduções de anne sexton:
o beijo
o nado nu