---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Adelaide Ivánova
Data: 25 de agosto de 2015 01:58
Assunto: volta
Para: William Zeytounlian
1.
a vida facebookiana tá muito sem graça depois que a senhora saiu do FB. ainda tentei dar uma azucrinada em TEXTO CENSURADO hoje, queria TEXTO CENSURADO CENSURADO CENSURADO CENSURADO mas ele não é tia como a gente.
então volta, amiga.
2.
william,
eu sei que teu livro tá pronto e prescinde de pitacos. sei também que elogio não faz ninguém andar pra frente. o problema é que eu sei que tem ali mais coisa do minha leitura consegue ver. não tenho repertório suficiente pra "traduzir" tudo que tem ali dentro, então minha leitura foi bem roberta miranda: não sei o que dizer, apenas sentir.
é muito bonito observar as ondas que diáspora tem, william, tu passando do coletivo pro privado de um jeito tão "soberano" (essa palavra é um pouco exagerada, mas não achei outra mais calma. eu queria dizer algo entre autônomo e soberano). gosto muito de como na primeira parte tu fala de todo mundo; depois tu convida a gente a chorar tuas pitangas, as privadas mas também as coletivas.
ah uma coisa que eu queria dizer: nos agradecimentos do livro tu fala "sem vocês eu não teria corrido o risco" e de fato é muito arriscado esse passo: combinar texto com foto. sempre acho perigoso quando um tenta me dizer com o outro o que devo sentir. como os poemas são muito sólidos, ao final tiram qualquer chance de auto-indulgência. é um exercício corajoso, tem que ter muito cojones pra não ter medo de botar foto em livro de poesia. tu merecia um nude só por isso hahaha
tenho pensando muito no livro de poesia enquanto projeto (tipo os livros de fotografia) e diáspora me fez pensar muito em anna akhmatova tematizando a guerra em requiem ou caetano tematizando exílio no disco que tem london, london (não tô comparando os dois pelamor, tô apenas pensando nesses modos operandi aí).
pensei na máquina emotiva de corbusier, mas não sei se pensei certo quando pensei isso.
também lembrei de joão cabral (capricorniano, claro) que dizia que o material da sua poesia era a memória. tem muita memória no teu livro, as tuas, as que não são tuas. é de novo o risco - nesse caso, o de se misturar aos fatos. numa entrevista com oprah (puro amor), maya angelou disse que os fatos encobrem a verdade, e que a verdade se encontra quando a pessoa se pergunta não o que aconteceu, mas o que ela sentiu quando o acontecido aconteceu. é bonito, né? acho que tu fez isso, ou quis fazer isso. tô certa ou num tô? ALOK.
pensei em john wieners, quando ele diz: "again we go driven by forces/we have no control over", em "a poem for painters" é a gente, william, bicha signo de fogo, escrevendo/vivendo (ainda que john wieners fosse capricorniano como joão cabral).
tu sabia que celan também era sagitariano feito tu?
falando em fogo, eu gosto MUITO que a primeira palavra do livro é "quente" e a última é "entenderemos". um monte de "E". na tabela pitagórica E, N e W (primeira letra do teu primeiro nome, btw.) têm o valor 5, que é o número da liberdade. acho bonito pensar nisso no contexto dum livro que se chama diáspora, em que a palavra "livre" aparece sete vezes e "liberdade", duas. e nenhuma vez "amor" (ainda que a coisa-amor esteja lá; não sou tão burra haha).
o trecho de poema com o gagarin que tu antes tinha mandado começa cantando caetano e fiquei feliz. foi a única coisa que reconheci, além das maiakosvkadas que tu dás no português, obrigada. eu sei que tem mais coisa ainda ali preu descobrir, que passa despercebida na minha leitura analfabeta. desculpa não ter comentários mais inteligentes pra fazer como tu tiveste em relação ao meu!
vai ser bom passar mais tempo com teu livro, vai ser a minha mala educacion hahaha "com o velho dedo que envereda na ferida" (que lindo isso, william, vai tomar no cu).
muitos beijos orgulhosos,
da sua tia.
diáspora é o livro de estreia de de william zeytounlian. vai ser lançado amanhã em são paulo, pelo selo demônio negro e dá pra comprar aqui. no livro, william "traz para sua escrita a experiência diaspórica de sua família, de sua própria avó, sobrevivente dos extermínios do Governo Otomano contra a população armênia do Império no início do século XX. Essa história pessoal, familiar, informa com poder metonímico todo o livro" (trecho do posfácio de ricardo domenek). eu acho importante, ainda, apontar a importância da memória como ferramenta de trabalho, e apontar que a experiência diaspórica é usada também como alegoria para falar de outros contextos, de outras experiências. é um livro muito bonito.
para ler trechos dos poemas, crica aqui.
*o título dessa postagem é roubado do poema "texto em que o poeta celebra o amante de 25 anos" de ricardo domeneck.
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