Tuesday, July 10, 2018

mppf! + grego = revista teflon!


gracas à minha amiga e cangaceira érica zíngano saiu uma seleção de poemas que foram (ou serão) publicados no mais pornô, por favor!, na revista grega teflon!

a revista é muito foda, já tem acho que uns oito ou nove anos de existência e se tornou não somente uma das revistas literárias (e de poesia) mais lidas da grécia, com mil cópias por edição, mas também uma das forças de resistência política e uma plataforma super importante da esquerda radical em atenas (#amor!). eles publicam poesia e ensaio, em grego e em tradução - e a parte de tradução tem um desejo de não somente trazer poesia do mundo prxs leitorxs gregxs, como também criar uma comunidade internacional de literatura de esquerda (#amor!).

como diz um dos fundadores da revista, jazra khaleed, nessa entrevista: "não temos patrocinador, não temos distribuidor: temos leitores". ISSAÊ!

para a edição #19, a eleni, uma das editoras da teflon, pediu pra eu fazer uma micro-antologia de poesia erótica brasileira contemporânea, viva e transante. minha seleção foi, como sempre, baseada em quesitos representativos (não preciso nem dizer que a "qualidade" dos poemas, seja lá o que isso signifique, não fica nunca, por causa disso, em segundo plano): misturar omi e muié, sapatão e viado e hts, branco e preto, e poetas do nao-sudeste. assim, chegamos à uma seleção de 19 autores, 11 mulheres e 8 homens. desse total, 14 (73%) são viadxs, 7 (36%) são do não-sudeste e 6 (31%) são negrxs. 

tá longe do ideal, é sabido, mas a cada publicação tentamos melhorar no que diz respeito à paridade e representatividade (isso dito: para a edição #8, que sai em setembro e está sendo editada por mim e carla diacov, estamos em busca de poetas molieres e trans e viadas de SERGIPE, TOCANTINS, PIAUÍ, RORAIMA, AMAPÁ, ACRE e RONDÔNIA. emails com 5 poemas e mini-bio NUM .DOC SÓ para bolagato.edicoes@gmail.com. deadline é 31 de julho).

enfim, aqui vai umas foto da rivista e o pequeno texto introdutório que escrevi. os poema e o texto foram carinhosa e guerrilhamente traduzidos pelo spyros. 


capa


contra-capa com jarid arraes, katia borges, natalia borges polesso, simone brantes, andré capilé, ricardo domeneck, cecília floresta, ana luiza goncalves, antonio la carne, rafael mantovani, joao meireles, ravena monte, flávio morgado, rita isadora pessoa, gabriela pozzoli, raphíssima, nina rizzi, lilian sais, ismar tirelli neto e william zeytounlian


que leendo


que leendo


A seleção destes poemas para a revista Teflon vem dos textos publicados no zine brasileiro MAIS PORNÔ, POR FAVOR!. Criado em Recife, cidade do nordeste brasileiro, em dezembro de 2016, o objetivo do zine é olhar para o tesão como potência revolucionária, principalmente no contexto do Brasil pós-Golpe. No #2 do zine, a pesquisadora Lori Regatieri escreveu:

“(...) por que nos tornamos tão insuportáveis para o Estado, os patrões e a polícia? Não foi à toa, tiveram que atuar juntos para impedir nossa algazarra festiva e transante. (…) O caos atmosférico dos atrasos dos salários, do aumento tarifário, das medidas proto-fascistas, dos militares nas ruas estão nos atravessando como uma faca de ponta aguda. Exultar o tesão nesse contexto é combater as forças do débito, estancar a sangria e nutrir a resistência micropolítica”.

E por que usar o termo “pornô”, no título de uma publicação que se pretende feminista, sendo que este é um nicho tão misógino? Anna Kristin Koch, em texto publicado na revista alemã Zeit Online, diz: “a indústria pornô não só fere os sentimentos de muitas pessoas, como também reproduz uma imagem de sexo, sexualidade e gênero que não cabem numa sociedade plural”. A autora sugere a aplicação de uma “pornografia ética”, na qual não só diversidade e sexo responsável são mostrados: estereótipos são quebrados e, independentemente do gênero, pessoas são parceiros sexuais iguais.

Essa problemática – to porn or not to porn – foi abordada no editorial da edição #3 (abril de 2017), escrito pela jornalista Carol Almeida:

“(...) se a palavra pornô vem carregada com um sentido tão próximo da ideia de exploração sexual do corpo da mulher, que possamos repetir aqui o que a comunidade LGTBQI fez com a palavra ‘queer’ nos anos 1980. Ou seja, vamos nos reapropriar do termo, vamos confundir e desorientar o inimigo. Com nossas línguas, coxas, pelos e algum sabonete líquido”.

Editado com as organizadoras do #leiamulheres de Recife – Maria Carolina Morais, Priscilla Campos e Carol Almeida – o #3, especial poesia lésbica, foi um divisor de águas na produção do zine (pelo seu conteúdo, mas principalmente pelo teor de mobilização coletiva). A seleção dos poemas funcionou em parte por meio de chamada pública e, com ela, passamos a conhecer o trabalho de jovens poetas lésbicas de todas as regiões do Brasil, ampliando não somente nosso conhecimento da poesia contemporânea de fora das grandes cidades, como também ajudando a criar mais uma rede de conexão entre as poetas fanchas.

Em outubro de 2017, em resposta ao fechamento da exposição “queermuseum” e a retaliação violenta de grupos de extrema direita contra Judith Butler (que estava no Brasil para uma série de palestras sobre democracia), disponibilizamos o #3 gratuitamente na internet, como uma tentativa de ajudar a emudecer os latidos recalcados dos fascistas.

A edição mais recente, a #6, é um especial de poesia caribenha. A motivação do zine é nos aproximar um pouco da poesia feita no Caribe e da situação de pessoas em refúgio vivendo no Brasil. Segundo o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), os países com maior número de solicitantes de refúgio no Brasil em 2016 foram Venezuela, Cuba e Haiti (646), todos países caribenhos. Do total de cerca de 10 mil refugiados no brasil, 32% são mulheres.

O MPPF! é uma publicação independente, anarcofeminista, que se apropria do termo “pornografia” para espalhar no mundo poesia erótica, queer e feminista (em brasileiro, em português e em tradução). Nosso desejo é torcer a lógica misógina, sexista, transfóbica, homofóbica e capitalista do pornô mainstream. Boa leitura!

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