Friday, May 25, 2018

foi uma arma alemã que matou marielle franco



Arma alemã matou vereadora no Rio de Janeiro

Submetralhadora do fabricante Heckler & Koch foi usada no assassinato
Ativistas anti-armas pedem proibição total de exportação de armas para o Brasil

artigo de niklas franzen, publicado no neues deutscland em 12 de maio de 2018 e traduzido pelo coletivo bolagato edições anarcobucetalistas. para ler o original, clique aqui.



 © reuters


Tiros sacudiram profundamente a esquerda do Brasil. Em 14 de março, a proeminente ativista de direitos humanos e vereadora Marielle Franco foi assassinada, no centro do Rio de Janeiro. Franco estava voltando de um evento quando estranhos atiraram em seu carro. Quatro tiros atingiram a vereadora, ela morreu no local. Agora, as investigações policiais revelaram que Franco foi assassinada com uma submetralhadora do fabricante de armas alemão Heckler & Koch.

De acordo com a imprensa, baseada em informações de um policial, deveria ser uma MP5 [nota da Adelaide: uma submetralhadora 9mm do fabricante acima citado]. Esta arma é usada no Brasil principalmente por unidades policiais especiais. A polícia civil investigadora não quis comentar o caso.

Os fabricantes declararam, em 2016, fornecer armas apenas os chamados "países verdes", ou seja, membros da OTAN ou Estados que são equivalentes aos membros da OTAN. Ainda não está claro se a Heckler & Koch continua a fornecer armas para o Brasil. A empresa não respondeu às perguntas enviadas pelo »neues deutschland«. O que está claro: centenas de milhares de armas alemãs continuam circulando no Brasil.

Armas alemãs no Brasil
O fornecimento de armas ao Brasil tem tradição: centenas de milhares foram vendidas ao maior país da América Latina nas últimas décadas. Durante a supressão de uma rebelião na Prisão do Carandiru, em São Paulo, em 1992, 111 prisioneiros foram mortos pela polícia. A maioria dos tiros foram disparados com metralhadoras Heckler & Koch MP5, que foram exportadas da Alemanha para o Brasil. Mesmo antes da Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, muitas armas de guerra para uma suposta "libertação" das favelas foram exportados para o Brasil.

Alemanha pode vender armas para países como o Brasil apenas em casos excepcionais, de interesse da segurança nacional alemã, ou de política externa. De acordo com o relatório de exportação de armas do governo alemão, de 2017, nos primeiros quatros meses de 2017 foram concedidas 37 licenças individuais de exportação, no valor de quase 11 milhões de euros. A pedido do "neues deutschland", o porta-voz do Ministério da Economia alemão comentou: "Temos uma abordagem responsável e restritiva à política de exportação de armas. Nós decidimos caso a caso, com base em princípios políticos. A situação dos direitos humanos também desempenha um papel importante aqui".

Mas isso é catastrófico no Brasil. O país é um dos estados mais perigosos para os defensores dos direitos humanos e ativistas sociais do mundo. A violência aumentou dramaticamente nos últimos anos. Em 2017, quase 60.000 pessoas foram assassinadas - mais do que nunca. Em uma entrevista com o "neues deutschland", o sociólogo e criminologista Sérgio Adorno advertiu recentemente sobre uma "mexicanização da situação de segurança" [nota da Adelaide: mexicanizacao é um termo racista e eu nao gosto dele, mas voilá, tem acadêmico que usa]. As estruturas estatais no Brasil foram cada vez mais infiltradas pelo crime organizado. Como no México, uma "guerra às drogas" está ocorrendo em muitos estados. Embora haja proibições de exportação de armas em estados mexicanos individuais, as armas alemãs ainda são vendidas ao Brasil. Assim, é provável que as empresas alemãs continuem ganhando pesado com o rearmamento e as condições de guerra em muitos lugares pobres.

"As entregas de armas para o Brasil estão erradas em todos os sentidos. Quem aprova fornecimento de armas de guerra para empresas e governo brasileiros, ajuda a violar os direitos humanos e colabora com os assassinatos", afirma Jürgen Grässlin, porta-voz da campanha "Aktion Aufschrei - Stoppt den Waffenhandel! ("Acao Grito - Parem o comércio de armas!"). "O fornecimento de armas é moralmente condenável e legalmente questionável, ou mesmo ilegal."

Fornecimento de armas para o Brasil nunca é "seguro"
O caso da vereadora assassinada Marielle Franco também revela a falha da política de segurança no Brasil. Investigações recentes da polícia brasileira apontam para uma trama de assassinato em que políticos e ex-forças de segurança estão envolvidos. Segundo informações do jornal "O Globo", uma testemunha teria fornecido informações precisas sobre os mandantes do crime e suas motivacoes. Assim, os mandantes seriam Marcello Siciliano, do partido de centro-direta PHS, e um ex-policial militar e líder de milícia. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, também confirmou na quinta-feira que está investigando os dois homens. Segundo pesquisa da Intercept Brasil, um policial do BOPE poderia ser responsável pelo assassinato. A comissão que investiga homicídios pediu ao BOPE para submeter todas as metralhadoras HK MP5 para uma comparação balística.

A vereadora negra de 38 anos foi uma das vozes mais fortes contra a brutalidade policial e o racismo no Rio de Janeiro. A própria Franco vinha de um bairro pobre, a favela da Maré, no norte do Rio de Janeiro. Também no oeste da cidade Franco estava ativa e criticava repetidamente a polícia e a milícia (associações criminosas, paramilitares, coordenadas por policiais reformados ou ainda ativos,  soldados e bombeiros, que controlam deforma violenta os bairros pobres). De acordo com a testemunha, Siciliano, que teria laços estreitos com a milícia, estava irritado com a crescente influência do partido de Franco, o partido de esquerda Socialismo e Liberdade (PSOL).

Não só recentes investigações mostram que as fronteiras entre política, forças de segurança e crime organizado estão fluindo no Brasil. Um ativista de direitos humanos que não quer ser identificado, vem da mesma favela que Franco, e informou ao "neues deutschland" que grande parte dos traficantes comprar suas armas diretamente de policiais corruptos.

A polícia também comete sérios crimes contra os direitos humanos. Ativistas de todo o país relatam intimidação, tortura e assassinatos. Em nenhum lugar do mundo a polícia mata tão freqüentemente quanto no Brasil. As vítimas geralmente são a população negra e pobre dos subúrbios. Os ativistas falam até mesmo de um "genocídio da juventude negra". Os militares também são criticados por crimes sérios contra os direitos humanos.

Jürgen Grässlin exige: "Precisamos de uma proibição total da exportação de armas para acabar com as matancas, cometidas também com armas alemãs. As armas de guerra existentes devem ser recolhidas e destruídas".

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