Friday, October 29, 2010

2. o corpo, o número, a foto: as fotos do corpo que os números fazem

para cada letra do alfabeto hebraico se atribui um valor numérico. assim, se dá às palavras um poder matemático-metafórico, e explica-se, com essas letras-números, tudo o que tem no mundo.

isso é a torá. segundo meu pai, judeu, não há nada no mundo que a torá não explique. segundo madonna e eu, cabalistas e amigas, não há nada no mundo que a torá não explique.

mas, madonna, a torá não explica isso:

se letra pode virar número, e fotografias podem nascer de letras (organizadas em poemacrônicasletrasdemúsica ou whatever), poderia então uma fotografia nascer de um número?

a fotografia analógica nasce de sais de prata que se machucam com a luz. já a imagem digital nasce da luz, que ofende o ccd, que cria um código binário (ou algo assim. aceito correções).

a fotografia nasce assim de um monte de zeros e uns.

no nosso alfabeto latino, letras têm um valor e números, outro. a fotografia digital é uma interseção possível desses dois elementos:

poeminha concreto
111111111111111111
000000000000000000
101010101010101010
100100100100100100

1

(auto-retrato)


adelaide de campos,
outubro de 2010

§

foi no dia da abertura do projeto incubadora que joão kehl me explicou, para minha imensa surpresa, que uma foto digital é feita de combinações de zeros e uns (nem adianta me xingar, eu não sabia mesmo). é o tal do código binário, esse negócio que rege do MS-DOS ao mais fino clique de antoine d'agata.

se as palavras de ricardo, escritas em alfabeto latino, criam imagens na minha cabeça de um corpo loiro e lindo em bruxelas, o corpo de um monte de baianos derreteandos atrás de ivete sangalo são, em alguma dimensão dessa existência, um monte de zero e de uns.

para mim, isso sempre será um mistério: uma câmera para mim apontada vai me fazer virar

um 1
um 0

e o mistério é o fato de que não tem nada mais oposto nesse mundo do que um um e um zero.

(leoninos e aquarianos, talvez).

assim como são díspares o um (a presença) e o zero (a ausência/nada), e ainda falando sobre o corpo representado e suas disparidades, a fotografia veio para des-literalizar a representação do corpo - ironia, uma vez que desde seu nascimento é conhecida como "registro da realidade".

no renascimento, a representação do corpo era a morfologia (anatomia, dissecação): captava-se os corpos nus e depois, os "vestia" em circunstâncias.

mas a fotografia des-literalizou a representação do corpo, a rapidez com que podia ser feita mudou a relação fotógrafo-retratado (ok, 20 minutos de exposição é muito, mas nada comparado aos duzentos meses que gioconda teve que posar para da vinci) e mostrou-o com novas camadas de discurso.

§

números não me dizem porra nenhuma.
lo siento.

é um alívio que existam mecanismos que devolvam a foto para mim do jeito que eu acho que elas são bonitas:





entretanto está em cartaz na galeria vermelho e eu não entendi nada do conceito mas, anyways, as fotos continuam sendo lindas de ser ver. um monte de códigos binários bonitos.

2 comments:

Dani Portela said...

...e tomando a pílula vermelha, você descobre o que é matrix!

Bjs!

Ass: código binário baiano

Anonymous said...

Só vim dizer um Oi, dps de mto tempo sem te ler... devorei entao, todo atraso e me perdi em seus posts antigos.
Ainda aguardo algum contato seu, como forma de salvacao de td q tenho tido que engolir sem permissão.
Um bjo,
Marina