Friday, October 22, 2010

porque sim é resposta sim. quer dizer...

"qual a história por trás dessa música?", pergunta willie nelson pra johnny cash. e ele responde: "que história? está aí, na música".

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eu gosto dessa resposta de johnny, e pensei nela um monte de vezes ontem e hoje, apesar de eu não ser do time que acha que uma foto deva falar por si só.

sobre isso, alec soth disse (hoje fiz um workshop com ele, dentro da programação do forum latinoamericano de fotografia) que não acredita nisso de fotos icônicas, que falam por si. ele acha que uma história é contada por fotos, no plural.

eu acho mesmo que uma foto é um ato de comunicação em aberto, ou seja, nela cabem outras fotos, a palavra, o som, a legenda - enfim, a explicação, mesmo, no sentido de linguagem, no sentido de dialogar, e não monologar.

então e por isso, pra mim, é meio triste não ter uma palavra a dizer sobre as fotos que eu tiro.

eu acho meio chato responder o por quê das coisas, mas também não posso responder às perguntas com respostas incríveis como a de wolfgang tillmans (que diz, quando perguntado do por quê ele fez tal foto: "porque sou fotógrafo" hahaah é demais) ou como a de nan goldin, que diz "porque eu posso".

mas se eu, que só publico minhas foto em revista gringa que ninguém compra, respondo isso, quão arrogante vai soar?

mas o pior é que essa é a resposta que eu queria dar, de todo meu coração.

se me perguntam "ivi, por que você está tirando essa foto de uma plastrada de vômito?!". porque eu posso. porque estava ali, na minha frente. porque o vômito é meu e eu faço o que eu quiser HAHAH A LHÔCA!

hoje, com alec, como eu nao tenho nada a dizer ele também não me disse muita coisa...

mas ele falou que há fotos para a parede, para o livro, para a internet. eu saí do wrokshop pensando em guy bourdin, que nunca publicou nenhum livro nem fez nenhuma expo enquanto estava vivo, porque ele achava que as fotos dele eram pra ser vista nas revistas, e para serem esquecidas no mês seguinte.

é importante descobrir, entender e aceitar o suporte da sua foto. guy entendeu que era de revista; alec entendeu que faz livros.

eu sou amadora, mermo, sou do underground hahaha, eu publico em zine, em revista que ninguém compra. é isso. as fotos que eu tiro são muito pouco pensadas, não têm conceito, eu não tenho o que dizer sobre elas, que são o que são.

claudio edinger comentou, no workshop, qual era o ponto de ser fotógrafo hoje em dia, se todo mundo tira foto e todo mundo pode publicar um livro no blurb (que ele acha muito ruim, por sinal).

bom, não é de hoje que "hoje em dia todo mundo é fotógrafo". todo mundo tira foto desde que as câmeras foram inventadas. fotografar nunca foi um ato exclusivo, sorry.

bom foi: eu entendi que faço parte desse "todo mundo". minhas fotos não são nada espetaculares, e o fato de eu não ter nada a dizer sobre elas (apesar de PENSAR MUITO sobre elas), me aproxima muito mais de todo mundo do que dos fotógrafos protecionistas, ops, profissionais.

a fotografia dos anos 2000, assim me parece, quer analisar ela própria*.

sei lá como se faz isso sem que seja usando palavras. é por isso que eu fotografo: porque não tenho nada a dizer sobre fotografias, usando-as. com fotografias, eu falo sobre outras coisas. mas tampouco quero falar sobre estas coisas usando palavras.

é como o título daquele livro de haruki murakami: "do que eu falo, quando eu falo sobre corrida".

§

*sobre isso, abelardo morel disse, na sua palestra: "jovens fotógrafos estão ficando conservadores, eles se voltam para objetos, para a academia. e dividem a foto como 'isso é arquitetura', 'isso é documental', 'isso é crazy photography'. mas é preciso ter amor pelo que você fotografa, não apenas interesse". achei massa.

a impressão que eu tenho, às vezes, é que também tem muitos fotógrafos querendo explicar mais, mais focados na conceituação do que foto. aí é quando a explicação, o de-onde-vim-para-onde-quero-ir, fica maior do que as fotos themselves.

claro, só estou dizendo isso porque estou com um recalque absurdo do fato de que eu não tenho nada a dizer, mas também não quero ser uma wanker, que passa a vida reclamando das coisas das quais não faz parte.

§

hoje à noite, fiquei acompanhando daqui de casa as discussões sobre fotógrafos alemães, suíços, europeus, americanos, latinoamericanos, e quem tem mais espaço, etc etc.

e eu fico aqui me perguntando:

é importante discutir a nacionalidade do fotógrafo? ou procurar uma identidade nacional para a fotografia de um lugar?

se preocupar com isso é mais besta do que as besteiras que eu escrevo neste blog.

§

estas foram duas fotos que alec apontou:




essa é minha vida, e isso é o que fotografo.

mas eu entendo, sim, que dizer isso é leviano, que não é suficiente.

agora eu preciso pensar.

7 comments:

Juliana Farinha said...

sem muitos pensamentos...fotografe para depois pensar no que falar sobre. A foto vem bem primeiro do que a sua definição na maioria das vezes. Pq sempre temos que ter o que falar??pq cada um não pode tirar suas próprias conclusões?...

Você é muito boa Ivi!!!!

Ricardo Domeneck said...

Que legal que ele apontou a foto da Mendieta!

Visitei o link que você passou, adorei sua roupitcha na oficina do Soth.

Parece que Jorge Wakabara talvez venha ao Berlimbo agora em novembro. Se rolar, vai ser muito legal. Pena que você não está mais aqui. A gente ia, como dizem aqueles pitorescos brasileiros, "tocar o terror".

beijo


Ricardo

Joana Azevêdo said...

Pô...
Sempre q eu tiro uma foto,
olho para ela e
a primeira coisa q me vier na cabeça é o q a foto significa.
Porém mtas outras pessoas podem olhar e
n entender nada daquilo q eu disse.
Complexo dar nome e sentido as coisas.

=**, Jowzinha

Juliana O. said...

adoro ler seus posts de trás pra frente! beijo

Juliana O. said...

adoro ler seus posts de trás pra frente! beijo

Natalia Venturini Pessutti said...

oi Ivi, acho que cada um vai ter uma interpretação quando ver determinada foto, talvez seja totalmente diferente uma das outras, e principalmente a interpretação da pessoa que a tirou. O fotógrafo teve um motivo, no momento, de ter tirado aquela foto. Pra ele significou algo. Sendo o momento bom, ou não. Acredito que seu blog junto com as suas fotos traduzem vc. Seu blog é a legenda das suas fotos. Vc fotografa seu momento. Acredito que suas fotos sejam o seu diário. Acho que vc nem precisa de um. Acho que daqui alguns anos vc pode olhar pra suas fotos e remeter diretamente à época em que as tirou e reviver o momento dentro de si. Desculpa falar bastante aqui, mas realmente acho isso. Quando leio seu blog e vejo as fotos junto, a informação sobre o que escreve é mais completa, entende. É isso. Beijosss. Te adoro.

Lili said...

Adoro vc e seus devaneios = )))
Ivi vc é otima!!
um beijo,
alice