Saturday, November 13, 2010

parece que todos os filmes falam da gente*

se não prestamos atenção, quão pesados se tornam nossos ídolos, quão simbióticos ficamos com nossas referências?

sem nem pensar muito vejo meus dedos iluminados no teclado somente pela luz do monitor, levemente inclinado. e os dedos a galopar sobre as teclas, tão depressa e tão desesperados como nós mesmos, na vida.

parece que foi ontem que voltei de casa de bicicleta, congelando, depois de mais uma noite com almodóvar. ric, eu já não sei mais se sigo vendo e revendo almodóvar por ele, ou por ti, ou por berlim, ou por mim em berlim.

joerg me ensinou muitas coisas - a primeira delas, que referências demais são demasia. ou foi brett quem disse isso? não sei, bebi muito vinho.

mas ric, assim como almodóvar, assim me parece, seguimos fazendo filmes dentro de filmes, inspirados em nós mesmos, criando, aumentando e ratificando o próprio mito.

já não sei mais se minha vida é dramática ou se dramática sou eu mesma, e faço tudo para que assim a vida seja.

ric, está um frio do cão em são paulo, e eu sigo atenta procurando a linguiça da vida, como um cachorro faminto no largo da batata procurando os restos de rabada servida no forró. fora isso, tudo anda tão diferente.

quando la mala educación termina, e explica-se eduardo goded continua fazendo cinema com a mesma paixão, não posso deixar de pensar que não há nada, ou há muito pouco, que nos faça parar. assim como acreditava diane arbus, que não havia nada que acontecesse "externamente" que a pudesse abalar. o seu maior drama era sua vida interna, era o que ela tinha que lidar quando estava em silêncio escovando os dentes.

o mundo não nos ensinou a ter cuidado com nós mesmos, e isso é a coisa mais triste que escrevi na vida.



ainda assim, toquem como me toquem, me molestem chineses como queiram, e que a violência do mundo se me apresente como queira...



eu vou continuar fazendo meu cinema com a mesma paixão.


























*para ricardo, com amor.

3 comments:

Natalia Venturini Pessutti said...

mais uma de Ivi, daquelas na boca do estômago. E quem ganha somos nós, seus leitores. Te adoro.

Sebastião Ribeiro said...

Speechless. Fodeu de tão bom este post.

Abrazos

Ricardo Domeneck said...

Ivi, minha companheira almodovaricada, é mesmo aquele momento de silêncio, enquanto a gente escova os dentes, que tantas vezes me parece muito mais assustador do que ter que enfrentar o Departamento de Imigração Alemã ou a conta zerada no banco. Nada nos pára, a gente come e masca aquela dor junto com a gengiva e cospe um sanguinho e chama a pocinha de sangue no chão de "arte". O problema é quando a gente vicia na dor ou na gengiva ou acha que só pode criar assim. Ai ai, não sei, quis dizer "que vontade de alegria".
beijo grande na parede interna do seu crânio.
ricardo