no momento que li o sms me deu muita raiva. primeiramente porque sempre rola a ansiedade, expectativa do novo encontro, e cancelar assim, ou qualquer outro contratempo, desgasta emocionalmente. e também porque, porra, achei meio falta de educacao hahaha #sinhazinha-ofendida. saí de casa toda cheia de cacarecos (câmeras, filmes, objetivas etcetc), comprei a sobremesa, a porra toda, e em cima da hora dizer que nao vai rolar é fueda.
mas acontece, né. aí respondi: "nao rola da gente entao fazer alguma coisa?". aí eles explicaram que se eu quisesse podia acompanhá-los à ginecologista (!) e ir pegar a receita do antidepressivo no psiquiatra. claro que sim, respondi. apesar de ter achado deveras esquisito eles terem marcado comigo na casa deles, mesmo sabendo que tinham outros compromissos marcados para mesma hora naquela tarde. enfim, fomos juntos.
e passamos a tarde andando pra cima e pra baixo resolvendo as pequenas coisas que eles têm que resolver. uma coisa que notei é que as pessoas olham muito pra eles, às vezes com hostilidade, e fiquei sem saber se era por serem punks, ou por serem gays, ou porque as pessoas conseguem sacar que sao duas meninas.
perguntei como eles se sentiam com o povo olhando, se incomodava. michael respondeu que as pessoas olham ou comentam mais pelo fato de serem punks, do que por serem um casal de gays (contextualizando: por serem dois meninos por dentro, eles nao se vêem como duas lésbicas, e sim como dois gays) e como isso é uó e tal e tal e tal. kai, que fala bem menos - quase nada - mas é bem mais inteligente, respondeu apenas: "uai, nao me incomoda, entendo que as pessoas olhem, nao somos duas figuras comuns".
nesse dia sentamos nas escadas da sub-prefeitura de neukoelln e ficamos umas duas horas olhando as pessoas, conversando, conversando com outro punk sem-teto e tal. sempre me dá uma tristeza quando os encontro, nao somente pela tragédia pessoal de cada um (já expliquei, famílias destrambelhadas, solidao, nenhuma aceitacao; além das coisas que nao sei, só sei que há coisas graves sobre as quais eles nao querem falar), mas também como eles dois têm um nível de autopiedade nada nada nada saudável, e um apatia que meu deus. uma falta de ambicao, nao ambicao de ficar rico e poderoso, mas de fazer qualquer coisa, uma ausência de paixao, uma ausência do que fazer que nao ajuda ninguém. eu entendo tudo, só me irrito um pouco com a autopiedade, as desculpas, tudo é complicado. essa é uma característica que me irrita em geral, em qualquer pessoa, vale dizer, nao somente nos dois.
nessas horas me lembro de grete, que nao tinha nada de autopiedade (pelo menos nao era um traco visível na sua personalidade), tinha lutado pra se incluir, fez facu, trabalha, mora só e ganha sua grana. mas nao posso ficar comparando, nem me dar oportunidade pra ter abuso, porque preciso vivenciar essa história como ela é, e nao como eu queria que ela fosse. grete ficou tao forte em mim que a sensacao é como se eu nunca mais venha a encontrar ninguém como ela. e eu nao posso sentir isso, o mundo é enorme e cheio de gente.
mas enfim, miki e kai apareceram por algum motivo. nao sei ainda qual, mas uma hora eu descubro.
5 comments:
que delícia ler tudo isso, ivi!
muac
Que lindo. Gostei muito deste ponto de vista. E as fotos estão ótimas. Lindo lindo lindo
Que trabalho lindo!
Concordo com voce ivi, os meninos nao entraram na sua vida por acaso.
Adoro ler os work in progress, sao inspiradores.
Oi Ivi! Comentei uns dias atrás sobre um programa que tinha entrevistas com umas muié bonita, lembra? hahaha, cada leitorinha chata, né?
Então, no episódio de ontem teve entrevista com uma transgender! Lembrei de você na hora! O link é esse http://www.theconversation.tv/episodes/missed-last-nights-conversation-watch-in-full-here/, mas, se quiser, pôe em 27:55 pra ver só a entrevista com ela!
Beijo!
Ah, e tô torcendo aqui pra que Miki e Kai desabrochem pra você logo logo! :)
(ps: não precisa aprovar esse comentário, tá? )
monica, eu vi já o outro episódio, com a maravilhosa diane von furstenberg. esqueci de te dizer, mas curti. quer dizer, diane brilha muito mais que qualquer entrevistador, mas achei divertido. mas gente, miley cirus, quem aguenta, que pena que o episódio comecou com ela!
vou ver esse novo e te conto depois - juro que vou tentar lembrar! brigada! :*
beijos em todas
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