à procura de um título pro meu trabalho, pensei em "autotomia". porque, segundo o wikipedia, autotomia é a capacidade que alguns animais têm de se auto-mutilar pra se proteger do mundo.
e me lembrei desse poema de wislawa szymborska, escrito em 1972, que fala de mim e de você, querida leitora.
autotomia
diante do perigo, a holotúria se divide em duas:
deixando uma sua metade ser devorada pelo mundo,
salvando-se com a outra metade.
ela se bifurca subitamente em naufrágio e salvação,
em resgate e promessa, no que foi e no que será.
no centro do seu corpo irrompe um precipício
de duas bordas que se tornam estranhas uma à outra.
sobre uma das bordas, a morte, sobre outra, a vida.
aqui o desespero, ali a coragem.
se há balança, nenhum prato pesa mais que o outro.
se há justiça, ei-la aqui.
morrer apenas o estritamente necessário, sem ultrapassar a medida.
renascer o tanto preciso a partir do resto que se preservou.
nós também sabemos nos dividir, é verdade.
mas apenas em corpo e sussurros partidos.
em corpo e poesia.
aqui a garganta, do outro lado, o riso,
leve, logo abafado.
aqui o coração pesado, ali o Não Morrer Demais,
três pequenas palavras que são as três plumas de um vôo.
o abismo não nos divide.
o abismo nos cerca.
pra ler o work in progress #18.
Friday, July 06, 2012
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4 comments:
Obrigada por compartilhar essa coisa maravilhosa. Vou ler 700 vezes e tentar absorver a dualidade da vida como algo natural (parar de guardar as duas partes para mim apenas)
Achei lindão e fodão.
E por você ter me apresentado esse poema, agora fiquei com vontade até de casar contigo (de mentirinha, seu bofe pode ficar tranquilo)!
bjo!
Lindo de morrer. Eu justo o que eu precisava hoje. Obrigada
Oh, Adelaide, que coisa linda e precisa e conveniente! Obrigado!
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