Wednesday, September 05, 2012

os livros, quando nos acham

pra portugal levei hermann hesse. achei que seria apropriado durante uma viagem ler o relato de uma viagem interna. siddharta nao é exatmente meu tipo de leitura, mas tendo a crer que, em momentos de secura emocional, só quem salva sao as coisas piegas.

(hermann hesse é deveras piegas, no seu eterno conflito entre viver a vida como se quer ou viver a vida como se deve).

só que a leitura terminou antes do fim do trajeto, e eu ainda estava a caminho de sagres quando me dei conta de que se nao comprasse um livro novo, ficaria sem ler nada por mais cinco dias. entrei no primeiro sebo que encontrei, numa cidade qualquer no algarve, e fui encontrada por budapeste.

sei lá o que meu deu, pois nao sou nenhuma fa de chico buarque, mas ao ver o livro nem pensei em outros. nao tive controle nenhum sobre minha mao que, sem me obedecer, pegou o livro, se dirigiu ao caixa, pagou, enfiou o livrinho em português de portugal na bolsa e saiu. meio como a gente faz quando pega um boy na pista por instinto e nao pensa se o boy presta.

li em dois dias. budapeste, como siddharta, fala de uma viagem - a primeira, pra dentro de uma língua e a outra, pra dentro de si. o que no fim das contas, acaba por ser o mesmo. sao com palavras que nomeamos nossas descobertas interiores, e a descoberta de uma língua serve unicamente pra se fazer entender - nao pra saber dizer "bom dia", como toda a gente pensa.

entendi, portanto, que assim como o poema búlgaro de chico soava estrangeiro mesmo com o domínio da gramática, minhas emocoes sao em português, mesmo quando nao as vocalizo.

1 comment:

Ricardo Bezerra said...

sempre tenho essa sensação de que os livros chegam até nós no momento certo.