Tuesday, May 14, 2013

morte e vida do meu projeto de conclusão de curso, parte 2

... eu então dividi o uso do corpo em duas categorias: "trabalhos que elevam" e "o corpo a serviço".

no primeiro, está o corpo como ferramenta de conexão com o divino e é apresentado ou utilizado de forma metafórica: são os artistas.

na segunda categoria, estão todos os outros. mas todos os outros também têm subcategorias, já que existem conexões mais complexas. por exemplo: uma estátua-viva não é artista, já que trabalha com associações e não com criação (coisa da arte), mas é entretenimento, como é às vezes o artista. o mesmo vale para um cover de elvis presley. já um pedreiro, por exemplo, entra em outra subcategoria de "o corpo a serviço", pois é o ápice do trabalho corporal, mas em nada associativo nem entretenimento, apesar de "criar" algo.

significa dizer que, na minha categorização, elvis presley cover, o engolidor de facas, a barriga-de-aluguel e o operário da construção civil desempenham o mesmo papel.

uma coisa muito importante na categoria do corpo a serviço é o exibicionismo. quase todo trabalho que tem o corpo como capital tende a ser exibicionista, mas o trabalho do artista se aproveita do paradoxo entre superfície e interior, em vez de sucumbir a ele. enquanto no outro grupo, o corpo é meio e fim. e é aí que estava meu buraco-negro: falar do corpo dos outros sem ter que "descrevê-los", abstraindo sua superfície, mostrando mais do que sua materialidade.

(quero dizer que pra falar de um engolidor de faca, não tenho que necessariamente mostrá-lo em ação. mas, se não assim, como?).

lutei semanas com essa pergunta.



august sander e roger ballen

e jens roetsch e seu realismo patético
(termo perfeito criado por garcía marquez)


(e antes que vocês me perguntem o que o vendedor que vende 
bugingangas de porta em porta tem de performer, eu devolvo a pergunta)

fui ao circo aliás atrás de ver essa gente, e a aplicação do corpo no desempenho de funções que não são mais "contemporâneas". foi chocante, pois meus olhos "contemporaneizados" viram tudo com uma surpresa que a "era da internet" tirou há muito, e parecia que na minha frente todos os personagens de diane arbus tinham saido da jaula. mas não eram eles os culpados, somos nós em nossas jaulinhas limpinhas burguesas que não vemos mais as coisas e nos impressionamos com toda a sorte de merda, e ficamos indiferentes com aquelas que realmente importam.


circo aron, em berlim mitte.



(miscelânea)



sobre os artistas falo outro dia.




pra ler a parte um da série.

1 comment:

Tassia said...

Já disse que vc é genial? Gosto de pensar em como as pessoas se utilizam do próprio corpo, mas vc acaba de me dar nova perspectiva :))) <3