Wednesday, May 29, 2013

morte e vida do meu projeto de conclusão de curso, parte 3

não faz tanto tempo que o mundo me fez mudar meu TCC, mas desde então eu vivi tanta coisa que parece que foi há milênios e não lembro de mais nada, quase.

meu problema era exatamente minha teimosia: eu queria fazer um projeto "fotografável", "visual". não queria me ocupar mais uma vez de algo invisível, de mais uma metáfora. queria ser igual todo mundo: descomplicada. queria um projeto no qual meu objeto, fosse concreto, real, material. pra facilitar bem muito minha vida.

só que, na minha profunda ignorância, desconsiderei o corpo como sendo o que ele é: símbolo. vi o corpo e seus afluentes como estrutura, matéria. coitadinha. e deu no que deu, mesmo eu tendo começado a série com artistas (um músico e uma dançarina), com quem tenho mais empatia. depois, quando parti pros trabalhos braçais, aí é que as foto ficaram ruins mermo haha!

ao mostrar a ute e werner as primeiras tentativas, ute disse logo: "não dá nem pra acreditar que a mesma pessoa que fez uma série como 'autotomy (...)' pode fazer umas fotos dessas". essas:





e ainda teve até um shooting em que minha yashica simplesmente não funcionou. mal acreditei em meus olhos quando terminei de revelar, tirei o filme da química e vi o negativo lisinho, sem nada. mas tive uma epifania, e percebi o sinal dos deuses pra aceitar minha inapetência pra fotografar "as coisa".



claro, ute tem razão. nas fotos dá pra ver que eu, andando na direção errada, tratei corpo como uma bola de basquete, um cone de sorvete, um descascador de cenoura. por isso deu errado.

mais do que isso, eu fui contra meu próprio instinto. se eu sou uma neurótica, que gosta de usar a mídia errada pro resultado procurado, então pronto, é assim. eu gosto de fotografar coisas que não dá pra ver; coisa que em teoria (ou ao menos na minha escola) não dá pra fotografar. e eu reclamo que eu só fotografo tema complicado, mas a verdade é que eu gosto.

então depois da epifania no laboratório, sentei na grama do parquinho perto de casa com catarina e, sendo guiada pela sua imensa sabedoria, aceitei que meu projeto atual não era ruim, mas não sou a pessoa apropriada pra fazê-lo. aceitei uma ideia que queria pôr em prática faz tempo, mas que ficava refutando, pra poder viver em paz.

mas é que não gosto de viver em paz.

então comprei filme, fiz uma malinha, peguei um trem e vim pra wuppertal fotografar mulheres heterossexuais vivendo com hiv. dói, mas é o que eu sei fazer.



pra ver a parte 2.
pra ver a parte 1.


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