uma tradução esbaforida que fiz em 2016 de corona, poema-tão-lindo que celan escreveu para ingeborg bachmann, publicado em seu primeiro livro, "mohn und gedächtnis", de 1952.
Corona
O outono devora suas folhas em minhas mãos: somos namorados.
Descascamos o tempo de dentro das nozes e o ensinamos a partir:
O tempo volta pra casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca diz a verdade.
Meu olhar desce pro sexo da amante:
Nos olhamos,
dizemos coisas sombrias,
nos amamos como papoula e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o brilho sanguíneo da lua no mar.
De pé abraçados à janela, o povo na rua nos vê:
é tempo que saibam!
É tempo da pedra se preparar para florescer,
que a inquietação faça bater um coração.
É tempo de ser tempo.
É tempo.
Corona
Aus der Hand frißt der Herbst mir sein Blatt: wir sind Freunde.
Wir schälen die Zeit aus den Nüssen und lehren sie gehn:
die Zeit kehrt zurück in die Schale.
Im Spiegel ist Sonntag,
im Traum wird geschlafen,
der Mund redet wahr.
Mein Aug steigt hinab zum Geschlecht der Geliebten:
wir sehen uns an,
wir sagen uns Dunkles,
wir lieben einander wie Mohn und Gedächtnis,
wir schlafen wie Wein in den Muscheln,
wie das Meer im Blutstrahl des Mondes.
Wir stehen umschlungen im Fenster, sie sehen uns zu von der
Straße:
es ist Zeit, daß man weiß!
Es ist Zeit, daß der Stein sich zu blühen bequemt,
daß der Unrast ein Herz schlägt.
Es ist Zeit, daß es Zeit wird.
Es ist Zeit.