Sunday, May 23, 2010
um corpo sem fim (ou "making of do making of de uma crônica")
me convidaram para integrar a antologia de crônicas, organizada pela fundação de cultura da cidade do recife. vai ser a primeira vez que um texto meu vai sair num livro :~)
decidi escrever sobre a sarna.
eu já tive sarna várias vezes (mamãe é veterinária e pegava dos cachorro véi que ela atendie a passava para mim), mas dessa vez, tive que me virar sozinha.
a sarna me fez pensar muito sobre o espaço ocupado pelo meu corpo. dois corpos não ocupam um mesmo lugar no espaço, OK NEXT, mas um corpo só pode ocupar vários. eu percebi a expansão do meu com essa doença, em que tive que desinfetar tudo o que tocava, e percebi quão grande somos. grandes, não: amplos. eu estava em todos os lugares da casa ao mesmo.
e pensei não somente do corpo que está onde não está, pensei nos corpos simbólicos: sabe quando você não se reconhece? você sabe quem você é, mas não reconhece essa matéria onde você se encontra.
acho até que tem a negação do corpo, mas preciso ler mais sobre isso. uma vítima de estupro passa por rituais de negação da própria matéria, em que você se lava, se lava, se lava, com o intuito de apagar a marca deixada em outro corpo (o espiritual). esse é a expansão em si, e não pode ser lavado nem desinfetado com permanganato de potássio...
egraçado: alma não pega sarna mas é ela que sofre a violência da existência física.
tô pensando muito nesse povo, enquanto escrevo o texto:
1. bionça no clipe de "video phone", que ela vai deixando rastros dela mesma na coreografia;
2. em rubens fernandes junior e o conceito de fotografia expandida. tô pensando em corpo expandido, porque o professor fala da "desarticulação das referências". a gente costuma achar que a existência física está ligada à cabeça-tronco-e-membros+alma e eu acho que tem um outro corpo simbólico ocupando e sendo ocupado...;
3. pensei em silverchair quando ele fala: yeah i'm a freak.
4. penso em ricardo domeneck:
Nossa carne
tantas vezes a caminho da fornalha
ainda sofre
a tentação do homogêneo
assediando os fragmentos
e seu gosto por secreções, perebas, fluidos e reações do corpo em geral;
5. penso em cindy sherman, claro, sempre, e a descontrução da representação da própria existência;
6. penso muito na minha vó. ela é muito bonita, e era muito bonita na juventude, e ela não vê a velhice, a demolição da matéria, como uma coisa ruim. ela até hoje se acha bonita, de uma maneira muito arrogante haha. e faz ioga, como vocês podem ver na foto que abre esse post.
penso em todas as coisas que aconteceram porque eu existo, e em como meu corpo existente superou cada uma delas, e o alma não. às vezes ainda me sinto como um pano de chão de banheiro de bar.
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5 comments:
Lembrei de quando estava na faculdade, e a professora pediu que deitássemos numa folha de papel pardo, e pedíssemos que alguém desenhasse nosso contorno. No meio da confusão perdi o meu desenho e jamais soube distinguir qual era o meu naquele meio.
A gente passa a vida toda dentro de um corpo, e não sabe muito sobre ele.
tassia: essa sua frase é linda. vou te citar e te mandar uma cópia do livro de presente.
brigada! :*
A gente deixa de ser um só quando pega a sarna, e todo mundo a sua volta é obrigado a se unir por isso.
P.S.: E o gato assiste sua vó fazendo Yoga, né?! malelemento!
Ivi, as dimensões do corpo ultrapassam nosso entendimento. Dependendo da sua crença ou do seu nível de questionamento as coisas são desmistificadas, mas somente quando estamos preparadas para essa verdade. Somos seres espirituais e não seres físicos, na verdade essa existência é apenas uma de nossas infindáveis experiências na Terra. Nós somos feitos de todas essas experiências que vivemos, assim como todo mundo, assim sendo, a vida de um permeia a do outro, talvez sendo essa a amplitude do ser.
1. bionça no clipe de "video phone", que ela vai deixando rastros dela mesma na coreografia;
ótimo!
Pelo conjunto da obrog, novo novo novo!
ótimo!
Abraços...
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