nasce uma feminista

dona ivanise é a empregada doméstica que trabalh na casa da minha mae. esses dias ela chegou aqui em casa reclamando de uma dor, resmungando que só a peste, e quando insistimos pra saber o que era, ela confessou que seu namorido havia dado um chute nas costelas dela.

- nao acredito que ele deu em tu, dona ivanise!

- oxe, menina, deu nao, foi só um chutezinho!

OI?

aí a pobre da dona ivanise, que nao sabe que porra é lei maria da penha nem simone beauvoir, me explicou o que é "dar", na concepcao dela: é espancar até quase matar. um chute nas costelas, dentro dos parâmetros de dona ivanise, que vê suas colegas e vizinhas sendo espancadas quase todos os dias, nao é nada.

sentei na mesa do café e disse meus dizeres. expliquei pra ela que chutezinho é igual a espancar; que um "cala a boca, rapariga" é igual a espancar; que proibi-la de vir trabalhar é igual a espancar: todas essas sao coisas que namorado nenhum pode fazer. e que ela nao pode deixar ele fazer isso com ela.

pois alguns dias depois, dona ivanise me conta que, depois da nossa conversa, foi à delegacia.