Sunday, July 03, 2011

pros misóginos de plantao, um beijinho

um dos motivos desse blog ter comentários moderados é porque eu modero mesmo: observacoes burras nao entram aqui, porque nao geram debate, apenas raiva ou indignacao. e eu recebi VÀRIOS comentários nos últimos dias, de uma gentinha dizendo "tá vendo? tu defendendo essa camareira e ela é uma cabra safada".

nao publico, e acabou.

eu tenho alguns dizeres pra dizer a respeito:

1. "a camareira é imigrante"
oi? fiquei impressionada como alguns jornais frisaram esse fato. nao bastasse ser mulher e pobre, essa coitada ainda achou de ser da nova guiné - e alguns jornais, que poderiam nao se ater a essa característica insignificante para o caso, repetiram-no várias vezes, como se a nacionalidade de alguém desse mais ou menos credibilidade a uma pessoa. e: mesmo que ela fosse imigrante ilegal (nao é), a lei internacional de direitos humanos prevê que todo mundo tem o direito de nao ser estuprado (pois é, precisa de uma lei que diga isso) e todo mundo tem direito de procurar ajuda da justica - esteja onde estiver.

2. a camareira se envolveu em crimes no passado
nao estou certa das acusacoes contra ela, pois quando li a matéria estava meio nervosa, mas parece que ela se envolveu em crimes de sonegacao fiscal e lavagem de dinheiro. ok, que responda, que a processem, que vá presa por esses crimes. mas alegar que ela nao tem credibilidade para denunciar alguém fere, mais uma vez, os direitos humanos. como falei hoje de manha à mesa do café, para minha mae e meu cunhado, desacreditar no depoimento da camareira e retirar o seu direito a processar um homem, por ela ter cometidos crimes no passado é absurdo, é realmente surreal! "imagine", disse eu pra fred, "tu sonegasse imposto 10 anos atrás, e hoje tás andando na rua e um cara vem, rouba teu carro com uma arma apontada na tua testa, te dá uma coronhada e ainda sai fazendo piada. tu vai na delegacia e o povo diz: 'sinto muito, gato, anos atrás você sonegou impostos, nao vamos aceitar sua denúncia'". como vocês se sentiriam?

3. ela mentiu no depoimento
essa é a parte que me deixa mais NERVOSA. segundo o nytimes, ela teria dito, no primeiro depoimento, que depois do estupro foi correndo aos chefes, relatar a violência. o problema é que, "na verdade" (verdade segundo quem?), ela nao foi imediatamente, ela teria limpado um outro quarto, antes de se decidir ir contar tudo aos chefes. ESSE É O PROBLEMA?! toda a credibilidade da mulher está sendo posta à prova por ela ter se atabalhoado depois de ter sido estuprada? sinto muito, qualquer um fica em choque depois de um estupro (pode perguntar a madonna). esperamos que isso nao seja usado contra ser humano nenhum. a mulher é estuprada e tem o dever de ser prática? isso nao é motivo pra retirar uma queixa. claro que pesa contra ela, no processo, o fato dela ela nao ter relatado o que aconteceu tal qual aconteceu. ela realmente nao foi prudente ao modificar a ordem dos fatos, em seu depoimento. mas daí a retirar a queixa é de um absurdo sem tamanho. de uma injustica sem tamanho.

maaaaaaaaaaaaas deus é bom justo e misericordioso. hoje, o nytimes publicou uma matéria em que revela que é o promotor do caso - o mesmo que teria entregue a carta ao juiz, solicitando o arquivamento do caso devido à credibilidade duvidosa da camareira - é quem tem credibilidade nebulosa. ele foi apontado de ter abafado uma acusacao de estupro contra dois policiais e perdeu 0 processo num caso de terrorismo. uma outra parte das pessoas ouvidas na matéria alega que a credibilidade do promotor devia ser analisada, na verdade, porque ele sequer devia ter acatado a acusacao de estupro contra strauss-kahn (dessa parte eu discordo, mas ao menos é um jornal que ouviu vários lados da mesma história) e que só queria se promover com um caso polêmico.

quem ler em inglês, por favor, leiam e pensem no assunto. é muito importante. e gostaria de lembrar MAIS UKMA VEZ que este sujeito já foi acusado de tentativa de estupro antes, em 2002, pela jornalista francesa tristane banon.

3 comments:

Anonymous said...

Ivi,

faz alguns anos que eu leio teu blog e com o tempo fui aprendendo a gostar de você. Já fomos relativamente próximas pela proximidade de amigos.
Depois que você começou a postar sobre violência sexual foi crescendo em mim a vontade de falar disso. De algo oprimido em mim e de como é parecido com toda essa história que você vem falando.
Na minha adolescência passei por uma situação desagradável, em que me foi oferecida uma bebida. lá naquele lugar que tanto frequentamos, em frente aquele tão querido bar, a rua da guia...
O fato é que depois do gole da tal bebida, cerveja talvez, ou vodca, nao lembro. Perdi rapidamente o senso do espaço e do tempo e só escutava pessoas me falando que iriamos fumar em um lugar mais tranquilo.
5 homens(ou garotos, ou moleques), conhecidos meus, muito próximos, conhecidos seus também, muito próximos, tentaram me levar a um motel, e depois de falho (para minha imensa sorte), pararam o carro em uma rua deserta e um a um tentaram me violar. Graças a Deus, fui apenas abusada.
O mais engraçado, ou trágico, é que eu fui apontada como a culpada daquele dia. Ela, a promíscua, a dada, quis ir ao motel com 5 homens. A história foi se espalhando na nossa provinciana cidade do Recife e ao fim acabou chegando em bocas muito próximas minhas, me causando ainda mais humilhação.
Penso muito em hoje em dia denunciar, estava tao drogada que mal me lembro quem eram, mas lembro de poucos, e esses circulam aí pela cidade como bons meninos, uma pena...
Hoje estou casada, tenho 2 filhos, mas a lembrança daquele maldito dia passa pela minha cabeça sempre...e o pior é que por muito tempo eu achava que fosse a culpada de tudo....

Anonymous said...

enfim, escrevo aqui porque depois de tudo o que publicaste, fiquei com uma pulga atrás da orelha, porque parecia que estavas falando de mim.
Nós, as abusadas, as promíscuas, aquelas que quiseram, podemos nos unir para que aquelas, ainda com o sentimento de culpa e humilhadas, se soltem das amarras e possam voltar a viver.
Pelo menos é isso que espero para o resto da minha vida. Ser um espelho para que outras possam se olhar e, depois de muito conversar, simplesmente abandonar as lembranças em uma caixa fechada e possam viver suas vidas, sem culpa e sem humilhação.

Gabriela Galvão said...

Essa gentalha ñ entende qe ñ importa. Ñ importa até mesmo se ela mentiu deslavadamente (duvideodó, mas).

O qe ñ pode persistir é essa perversão de culpar a vítima.

A nojeira do "Mas também...".

Ai mon dieu, e eu ñ compartilho de 'deus justo' e nem de vida justa e 'aqi se faz, aqi se paga' 'o mundo dá voltas' etc.
Qisera eu.

Beijo procê.