trecho de email recente pra meu amigo xinaider, crítico literário e ministro das minhas relacoes exteriores.
---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Adelaide Ivánova
Data: 30 de maio de 2012 14:56
Assunto: Re: quando tu barceloneia, carpe
Para: Schneider Carpeggiani
Boa viageeeeeem! Lembra mermo de usar teu caderninho. Nao fique com abuso do coitado só porque ele é de hipster hahahaha Procura as coisas que te inspiram e dá uma escrevidinha de vez em quando e me conta depois.
Tá complicláudio o trabalho com os transzinhos, mas acho que posso aceitar também o tédio como ferramenta. O problema é que eles nao me metem medo - eles me dao pena. Por isso, tenho que lutar com o instinto, contra o automático que sentir-pena traz, que é fotografá-los de cima pra baixo. Entao me lambuzo com eles, no sentido de me sujar emocionalmente, me misturar. Ontem passei horas na casa deles, que fede, é escura, mas é tudo silencioso e entendiante, nao é especial, nao é dramático. Pra nao fotografar de cima pra baixo, eu tenho entrado num processo muito louco de tentar entender profundamente, a gente meio virou buddies, eu quase nao fotografo, só quando eu realmente quero encenar algo. Nao fico mais esperando algo interessante acontecer pra poder fotografar, que nao vai. Ontem a gente se deitou na cama, ficamos conversando, como se toda aquela ladainha sobre a vida ser dificil me interessasse, quando dou por mim tô a mais masculina das meninas, nas palavras e nos trejeitos, fazendo umas perguntas sobre clitóris e cabelos no peito que nunca imaginei que pudessem sair da minha boca. É como se uma entidade tomasse conta de mim ahahha que lunática. De repente, nao me incomodo com as pulgas, com o fedor... Sei lá. Carpe, é muito louco.
Acho que esse trabalho seria muito mais interessante se o resultado final fosse nao as fotos que eu faco, mas um reality show sobre o processo de fazimento hahahahaah Nao to exatamente bem, mas acho que é isso que me move, me obcecar com um tema.
Tua frase "to tentando melhorar" foi mais linda e simples que a que ouvi ontem de Susan Sontag, algo como "if you are comfortable with things and life, you are not free", numa entrevista que ela deu em 2003, quando lancou Diante da dor dos outros.
pra ler o work in progress #10
3 comments:
Poste o link da entrevista da Susan SOntag, por favor?
lavínia aqui o link, a entrevista tá dividida em 4 partes, nao lembro exatamente em qual parta ela fala isso, mas de qualquer forma vale a pena ver tudo!
http://www.youtube.com/results?search_query=susan+sontag+barcelona&oq=susan+sontag+barcelona&aq=f&aqi=&aql=&gs_l=youtube.3...1762397.1771327.0.1771447.21.20.1.0.0.0.150.1920.14j6.20.0...0.0.hx0VAT8uE3Q
Ivi, sou leitora assídua mas quase não comento. Bem, acho que - e me desculpe, acho que estou dizendo o óbvio, mas senti vontade de comentar - a não interessância do casal pode contar uma história, né? os silêncios e ausências dizem algo pra gente; a falta de drama é legal, eu acho. tenho gostado disso. vi alguns filmes recentemente que tratavam de situações trágicas e difíceis sem drama. eu gosto. tenho tentado viver com menos drama. a vida fica menos 'intensa' sem o drama, (talvez menos emocionante? acho que não) mas também fica um pouco mais fácil. enfim, acho que o que eu to querendo dizer é que vc está achando é o "normal" dentro do "anormal", o tédio dentro do que se esperaria que fosse excitante, diferente. quando na verdade a maior parte das pessoas e das vidas deles são assim mesmo, um tédio.
sei lá, pensei nisso. pelo que vc tá falando, a falta de foco, a suposta "falsidade" de que de acusaram, as tuas fotos refletem isso mesmo, esse tédio, essa 'normalidade'. como vc disse, aceitar o tédio como ferramenta (não entendo porra nenhuma de fotos, a propósito)
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