ontem, o projeto de lei 5069/13, de autoria de eduardo meu cu-nha, que restringe os direitos das vítimas de violência sexual de receberem o atendimento (e acesso um atendimento humanitário e direitos reprodutivos e sexuais
básicos), foi aprovado. não é apenas um absurdo, é realmente um passo atrás, um retrocesso, um desavanço, já que retira um direito proposto pela lei 12845/13. (
para quem quiser ler mais sobre essas duas leis, por favor clique aqui, é importante saber que não somos soberanas e que existem leis regulando nossos corpos, queridas).
a dificuldade que é alcançar direitos reprodutivos e sexuais é bem clara. o que me dá pavor e saber que um direito alcançado possa ser revogado. é difícil imaginar a construção de uma sociedade menos desigual quando os direitos concedidos começam a ser RETIRADOS.
esse ano, a mobilização popular na alemanha conseguiu fazer com a pílula do dia seguinte passasse a ser vendida sem receita médica - agilizando a decisão e a eficácia do medicamento e, portanto, reiterando o direito da mulher de ter soberania sobre seu corpo. enquanto isso, no brasil, damos esse enorme passo pra trás.
eu mal consegui dormir ontem. preocupada com as 103,5 milhões de brasileiras, que são a maioria da população no país, abandonadas à própria sorte num país governado por coroneis.
eu traduzi esse poema dos
love poems hoje de manhã, nas carreiras, com uma tristeza profunda. para celebrar nós mesmas e nosso útero, que é e foi casa de toda gente - inclusive destes vermes em brasília, que esquecem que saíram de dentro de uma mulher.
CELEBRAÇÃO DO MEU ÚTERO
Tudo em mim é pássaro.
Bato
todas minhas asas.
Eles queriam te tirar de mim
mas eles não
vão.
Eles disseram que você é imensamente vazio
mas você
não é.
Eles disseram que você estava morrendo
mas eles
estavam errados.
Você canta como uma
menina.
Você não é em vão.
Querido fardo,
para
celebrar a mulher que sou
e a alma dessa mulher que sou
e a
criatura central e a sua luz,
eu canto para você. Eu ouso
viver.
Olá, alma. Olá, troféu.
Fixo, envólucro. Cobertor e conteúdo.
Olá para a terra destes
campos.
Raízes: bem-vindas.
Cada célula existe.
Aqui
há o suficiente para satisfazer a nação.
Já chega que essa ralé
se apodere desse bem.
Qualquer um, qualquer comunidade diz
dele,
“Que bom que esse ano poderemos plantar de novo
e nos
alegrar pela colheita.
A vacina contra a praga foi o
vaticínio”.
Muitas mulheres, unidas, cantam sobre isso:
ela
está na fábrica de sapatos, xingando a máquina,
ela está no
zoológico cuidando de uma onça,
ela está triste dirigindo seu
Fiesta,
ela está trabalhando no guichê do pedágio,
ela está
no desfile da escola de samba,
ela está afinando um violoncelo na
Rússia,
ela está mexendo o almoço no Egito,
ela está
pintando as paredes do quarto,
ela está morrendo mas lembrando de
um café-da-manhã,
ela está fazendo ioga na
Tailândia,
ela está limpando a bunda
de um filho,
ela está olhando pela janela do ônibus
no meio
do Tocantins e ela está
em lugar nenhum e outras estão em todos
os lugares e todas
parecem cantar, ainda que algumas sejam
desafinadas.
Querido fardo,
para celebrar a
mulher que sou
me deixe usar uma écharpe de 3 metros,
me deixe
paquerar os meninos de 19 anos,
me deixe levar as oferendas
(se
for o caso).
Me deixe analisar os tecidos cardiovasculares,
e
examinar as distâncias entre os meteoros,
me deixe chupar o caule
das flores
(se for o caso).
Me deixe ser Iemanjá
(se for o
caso).
Por aquilo que o corpo precisa
me deixe cantar
para
celebrar o jantar
o beijo
o sim
certeiro.
IN CELEBRATION OF MY UTERUS
Everyone in me is a bird.
I am beating all my wings.
They wanted to cut you out
but they will not.
They said you were immeasurably empty
but you are not.
They said you were sick unto dying
but they were wrong.
You are singing like a school girl.
You are not torn.
Sweet weight,
in celebration of the woman I am
and of the soul of the woman I am
and of the central creature and its delight
I sing for you. I dare to live.
Hello, spirit. Hello, cup.
Fasten, cover. Cover that does contain.
Hello to the soil of the fields.
Welcome, roots.
Each cell has a life.
There is enough here to please a nation.
It is enough that the populace own these goods.
Any person, any commonwealth would say of it,
“It is good this year that we may plant again
and think forward to a harvest.
A blight had been forecast and has been cast out.”
Many women are singing together of this:
one is in a shoe factory cursing the machine,
one is at the aquarium tending a seal,
one is dull at the wheel of her Ford,
one is at the toll gate collecting,
one is tying the cord of a calf in Arizona,
one is straddling a cello in Russia,
one is shifting pots on the stove in Egypt,
one is painting her bedroom walls moon color,
one is dying but remembering a breakfast,
one is stretching on her mat in Thailand,
one is wiping the ass of her child,
one is staring out the window of a train
in the middle of Wyoming and one is
anywhere and some are everywhere and all
seem to be singing, although some can not
sing a note.
Sweet weight,
in celebration of the woman I am
let me carry a ten-foot scarf,
let me drum for the nineteen-year-olds,
let me carry bowls for the offering
(if that is my part).
Let me study the cardiovascular tissue,
let me examine the angular distance of meteors,
let me suck on the stems of flowers
(if that is my part).
Let me make certain tribal figures
(if that is my part).
For this thing the body needs
let me sing
for the supper,
for the kissing,
for the correct
yes.
ps: existem algumas observações sobre essa tradução que eu gostaria de fazer, mas vou me abster, hoje, de falar sobre isso, porque queria me ater ao assunto da PL 5069/13 e a house of cunha.