Monday, December 21, 2015
para o capitão do porto, de frank o'hara
Para o capitão do porto
Eu queria ter certeza que ia chegar até você;
mas apesar de meu barco estar a caminho, ele se enroscou
em alguns nós. Eu estou sempre atando nós
e depois decido ir embora. Em tempestades e
no pôr-do-sol, com as cordas metálicas das marés
cercando meus braços infinitos1, sou incapaz
de entender as feições da minha vaidade
ou sou o vento contrário com meu leme2 polonês
nas mãos, o sol se pondo. Para
você eu ofereço meu casco e o cordame esfarrapado
do meu desejo. Os estreitos terríveis pra onde
o vento me empurra contra os lábios marrons
dos juncos3 não estão todos no passado. Ainda assim
confio na sanidade mental do meu navio; e
se ele afundar, pode ser uma resposta
para a sensatez dessas vozes eternas,
as ondas que me impediram de te alcançar.
To the Harbormaster
I wanted to be sure to reach you;
though my ship was on the way it got caught
in some moorings. I am always tying up
and then deciding to depart. In storms and
at sunset, with the metallic coils of the tide
around my fathomless arms, I am unable
to understand the forms of my vanity
or I am hard alee with my Polish rudder
in my hand and the sun sinking. To
you I offer my hull and the tattered cordage
of my will. The terrible channels where
the wind drives me against the brown lips
of the reeds are not all behind me. Yet
I trust the sanity of my vessel; and
if it sinks, it may well be in answer
to the reasoning of the eternal voices,
the waves which have kept me from reaching you.
1. fathomless pode ser traduzido como impossível, insondável. eu acho que chamar braços de fathomless é um dos jeitos mais lindos de pensar o corpo, e apenas mostra o encantamento eterno de o'hara com esse tema. usei infinito, não é a tradução literal, mas achei bonito, aplicável.
2. li recentemente pequeno artigo sobre esse poema, no qual se diz que o'hara seria o mestre de ver o lado copo-cheio da vida. esse poema é sobre vontades, inspirado num romance impossível - um barco furado, como diríamos em hellcife. assim, acho muito lindo o uso da palavra rudder - que tanto é leme na terminologia náutica, como uma metáfora pra princípios, código de conduta.
3. fiquei noiando com isso: "the brown lips/of the reeds". reeds é junco, aquele mato que dá em rio. e os juncos têm aquela "flor" marrom fálica, que em nada se parecem com lábios. fiquei pensando em o'hara pensando na forma fálica do junco, e ele pensando em como montar a metáfora. é bem provável que eu esteja apenas viajando, e ele estava simplesmente chamando as coisas pelos nomes que elas têm pra ele. mas fico aqui inventando a cena em que ele diz "vou chamar essa parte marrom do junco de lábios". eu teria chamado de "aquela parte do junco que parece um pau".
outra coisa lindíssima é que algumas espécies de junco eram usadas na fabricação de papiro. aí você pensa no poeta pensando nessas coisas todas e não consegue mais dormir, achando que ele é um fado madrinho.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment