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Friday, August 25, 2017

uma apropriação pro recifês de poema-stalker de annemarie bostroem


#8

eu nunca vou pedir o teu amor, vou exigi-lo:
que tu me ame é meu direito e teu dever e
ainda que por ele eu quase tenha morrido,

eu sei que tu me adora – só tu não sabe disso.
tu ainda acredita ser capaz de escapar
das algemas que meu desejo usa

para prender tua alma. meus braços querem
te ninar e meus olhos procuram a tua cara.
nenhum deus vai te salvar do meu amor

quando ele recair sobre ti, pegando fogo.
e agora que tu afinal sai do escuro, e
essa brasa noturna em luz se transforma,

eu quero então abrandar teu facho, laboriosa.








Ich werde nie um Deine Liebe bitten,
ich fordre sie, mein Recht und Deine Pflicht.
Obwohl ich fast den Tod um Dich gelitten,

weiß ich, Du liebst mich, und Du weißt es nicht.

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Du glaubst noch zu entrinnen aus den Ketten,
die Dir mein Sehnen um die Seele flicht.

Doch meine Arme warten, Dich zu betten,
und meine Augen suchen Dein Gesicht.
Kein Gott wird Dich vor meiner Liebe retten,

wenn sie in Flammen auf Dich niederbricht.
Du aber tritt nun endlich aus dem Schattenn
und wandle diese dunkle Glut in Licht,

dann will ich dienend Deiner Kraft ermatten.



annemarie bostroem foi uma poeta, dramaturga e tradutora alemã nascida em Leipzig, em 1922. ela morreu em 2015, com mil e duzentos anos, em berlim, onde morava desde 1944.

ela é praticamente uma desconhecida, mesmo tendo uma caralhada de livro vendido. descobri o terzinen des herzens (que é o livro que tem este poema, cujo título “traduzi” como Tercetos de amor) em maio deste ano, por acaso, passeando com ewout, num sebo na wrangelstrasse. me custou um euro. o vendedor nunca tinha ouvido falar da muié, ninguém que eu perguntei depois tampouco conhecia.

o livro tem 38 poemas COMPLETAMENTE OBCECADOS RECIBÃO MERMO, e é dedicado ao primeiro marido dela, um boy famoso, friedrich Eeisenlohr (1889-1954), que era jornalista, dramaturgo, escritor e editor. como ele era bem mais velho e bem mais famoso que ela, annemarie era "conhecida" (nem isso) como a marida de eisenlohr, coisa que frequentemente acontece com mulheres de homis famosos, não ou pouco importando o quão incríveis elas sejam.

o livro foi lançado em 1947 pela Rupert-Verlag e rejeitado ideologicamente dentro da zona de ocupação soviética na alemanha oriental, por ser considerado apolítico e erótico – sem no entanto ter sua publicação censurada. 

já em 1975 (portanto 14 anos após a construção do muro de berlim) terzinen des herzens foi completamente censurado pelo regime da RDA, só voltando a ser editado nos anos seguintes. mesmo com todo backlash, ele teve 100 mil cópias vendidas.  

para esta tradução usei a edição que encontrei no sebo, de 1951, da Insel Verlag. mais três traduções inéditas deste livro vão sair em breve na próxima edição da revista parênteses (obrigada, lubi!).

queria dedicar essa tradução ao meu pobre namorado, que mal sabe onde se meteu. 







-->

Tuesday, May 23, 2017

bio dxs autorxs de MPPF #4


o MAIS PORNÔ, PFVR! #4 é só de poesia traduzida. essa edição foi editada por moá, com a colaboração preciosa dxs tradutorxs and poetas william zeytounlian (co-starring o maravilhoso diálogo de zap que virou capa), regina azevedo, sergio maciel e guilherme gontijo flores.





o zine tem tiragem de 50
cada zine custa R$ 3
o frete sai por R$ 7 
(haha não faz sentido, mas é assim)
para encomendar:
bolagato.edicoes@gmail.com
(hahaha siam!)



aqui vão as bios dxs 15 autorxs desta edição, por ordem alfabética. todas as bios foram tiradas das primeiras linhas dos seus perfis no wikipedia, menos santarosa barreto, christiane quandt e chris daniels.


Audre Lorde  (EUA, 18 de fevereiro de 1934 - 17 de novembro de 1992) foi uma escritora caribenha-americana, feminista interseccional, mulherista, lésbica e ativista dos direitos civis.

Caio Valério Catulo  (Verona, 87 ou 84 a.C. - 57 ou 54 a.C.) foi um poeta romano do final do período republicano.

Carl Phillips (EUA, 23 de julho de 1959) é um poeta afro-americano professor de Inglês e Estudos Africanos e Afro-americanos da Washington University em St. Louis.

Chris Daniels (Manhattan, 1956) é um tradutor feroz da poesia lusófona global e vive em Oakland, California.

Christiane Quandt (Alemanha, 1982) é tradutora, poeta e co-editora da revista alba.lateinamerika lesen.

Comtessa de Diá (1140 -1212) foi uma trovadora provençal.

Cristina Peri Rossi (Uruguai, 12 de novembro de 1941) é novelista, poeta, tradutora e contista.

Dorothea Lasky (EUA, 1978) é uma poeta e professora.

Gustave Courbet (França, 10 de junho de 1819 - 31 de dezembro de 1877) foi um pintor francês do movimento realista.

Essex Hemphill (EUA, 6 de abril de 1957 - EUA, 4 de novembro de 1995) foi um poeta e ativista afro-americano.

Jean de La Fontaine (França,  8 de julho de 1621 - 13 de abril 13 de 1695) foi um poeta e fabulista francês.

Maya Angelou (EUA, 4 de april de 1928 - 28 de maio de 2014) foi uma poeta, memorialista e ativista dos direitos civis afro-americana.

Nina Simone (EUA, 21 de fevereiro de 1933 - 21 de abril de 2003) foi uma cantora, compositora, pianista, arranjadora musical e ativista dos direitos civis afro-americana.

Rosinha (Portugal, 5 de Janeiro de 1971) é uma cantora pimba.

Santarosa Barreto (Brasil, 6 de agosto de 1986) é artista visual e feminista.

Staceyann Chin (Jamaica, 25 de dezembro de 1972) é uma poeta, performer e ativista LGBT jamaicana.




Saturday, May 13, 2017

ô, marinheiro

(de fiona apple em "extraordinary machine", 2005)

eu tô na dúvida sobre tu, de novo
não estou certa que fosse embora
é complicado, porque fui eu que pus tudo a perder
mas também me salvei porque nunca acreditei em você, querido

tudo o que é bom eu acho que é bom demais pra ser verdade
e todo o resto eu acho um saco
tudo que eu tenho que me anima
ou é muito imponente ou é muito doloroso

ô, marinheiro, por que tu faz isso?
pra que tu faz isso?
dizendo que não é nada demais
e depois deixando o barco afundar

e depois de muito esperar de joelhos
tudo o que sobra se cansa, menos eu
e na vigília surge o toque e o chamado
de uma linhagem nova
que me faça mais sábia e me faça avançar
e que me possua

e que coisa é pensar em como as coisas poderiam ter sido
ai que maldição abençoada, ver
que isso controla minha cama
e fez de mim uma amante alegre

ô, marinheiro, por que tu faz isso
pra que tu faz isso



Saturday, April 15, 2017

a noite dos condenados/o fim do amor, de ingeborg

esse poema foi encontrado escrito num guardanapo. o primeiro verso, o que tá riscado, diz "nichts besonders", que em alemão é tipo "não é nada demais", "sem graça".

as duas palavras do penúltimo verso ("o mundo {--}") são ininteligíveis no manuscrito e aparecem, na transcrição que aparece no livro, assinaladas da mesma forma que aqui.



A NOITE DOS CONDENADOS
O FIM DO AMOR

Uma lua, um céu
e o mar escuro.
Agora, escuro está tudo.
Só porque é de noite
e nada humano
entrelaça a delicadeza.
Ainda me acusas de quê?
e essa amargura,
Faz isso não.
Eu não sabia fazer nada
a não ser te amar, eu não
pensei,
que por causa do suor da pele
o mundo [--] [--]
e que caem uns vinténs





de Bachmann, Ingeborg. “Ich weiß keine bessere Welt.” Piper.


Sunday, March 26, 2017

três poemas de “Ich weiß keine bessere Welt”, de Ingeborg Bachmann



Meus poemas fugiram de mim.
Eu procuro por eles em todos os cantos da casa.
Não sei nada sobre a dor, nem sobre como se deve
escrever sobre a dor, eu não sei de nada.
Sei que não se pode falar das coisas desse jeito
tem que ter tempero, jogar pimenta na metáfora.
ocorreria a alguém. Mas com um punhal nas costas.
Parlo e tacio, parlo, me escondo num dialeto
no qual até em espanhol aparece, los toros y
las planetas, num disco velho e roubado
que talvez ainda toque. Com um pouco de francês
também rola, faça mon amour depuis si longtemps.
Adieu, palavras bonitas, vocês e suas promessas.
Por que vocês me abandonaram? Não tava bom aqui?
Vou guardar vocês dentro de um coração de pedra.
E lá, aguentem, e lá escrevam meus poemas por mim

Meine Gedichte sind mir abhanden gekommen.
Ich suche sie in allen Zimmerwinkeln.
Weiß vor Schmerz nicht, wie man einen Schmerz
aufschreibt, weiß überhaupt nichts mehr.
Weiß, daß man so nicht daherreden kann,
es muß würziger sein, eine gepfefferte Metapher.
müßte einem einfallen. Aber mit dem Messer im Rücken.
Parlo e tacio, parlo, flüchte mich in ein Idiom,
in dem sogar Spanisches vorkommt, los toros y
las planetas, auf einer alten gestohlenen Platte
vielleicht noch zu hören. Mit etwas Französischem
geht es auch, tu es mon amour depuis si longtemps.
Adieu, ihr schönen Worte, mit euren Verheißungen.
Warum habt ihr mich verlassen. War euch nicht wohl?
Ich habe euch hinterlegt bei einem Herzen, aus Stein.
Tut dort für mich, Haltet dort aus, tut dort für mich ein Werk


NÃO DESCARTAR NENHUM TESTEMUNHO

Não descartar nenhum testemunho, calar, viver
a vida pré-determinada, viver,
o sol durante o dia não muda nada
não ser fardo para o sol, não ser fardo para
ninguém.
É um fardo não esperar nada, não temer nada.

KEIN ZEUGNIS ABLEGEN

Kein Zeugnis ablegen, schweigen, leben,
das vorgeschriebene Leben, leben,
die Sonne, die nichts an den Tag bringt,
die Sonne auch nicht bemühen, niemand
bemühen.
Es ist eine Mühe, zu hoffen nicht, zu fürchten nichts.

PUBLICIDADE,

tento atrair todo mundo
e não consigo ninguém
tento atrair o cobrador do trem
que deixa a porta bater na
minha cara, tento atrair o carteiro
que faz muito
barulho, tento atrair
todo mundo, eu preciso
de um grande homem
para conseguir amá-los,
é perigoso amar
os homens, é um crime
insistir


WERBUNG,

um jeden werb ich
und keinen gewinn ich,
um den Straßenbahnschaffner
der vor mir die Tür einschnappen
läßt, um den Postboten,
der zu laut
läutet, um jeden
werb ich, ich brauch
ein Heer von Menschen
um sie lieben zu können,
es ist gefährlich, die Menschen
zu lieben, ein Verbrechen
sich aufzudrängen

Friday, March 24, 2017

eu vou melhorar, de bon jovi


agora deve ser verdade
tua mala feita não nega
enquanto o meu coração sangra
tu diz "o amor é uma merda"
tu diz "chorei o são francisco
e agora quero a transposição"
me deixasse afogar em lágrimas
e o pior sem salvação
eu só queria um colete salva-vidas, meu

eu vou melhorar, essas palavra tu pode anotar
ao respirar, eu quero ser pra tu o ar
eu vou melhorar
eu vivo e morro por tu
eu roubo o sol lá do céu por tu
palavras não fazem jus
eu vou melhorar

eu sei que lembras de quando era bom
mas até eu me esquecerei
não posso prometer nada
nem melhorar o que piorei
tu sabe as merda que eu fiz (e tu sabe que eu fiz merda)
mas só queria ser teu namorado
serei a água que cura a tua ressaca
e antes disso eu serei a cachaça (oooooo-ow!)

(repete refrão)

na alegria eu fui ausente
e te ignorei quando tarras mal
esqueci o teu aniver baby
mas ao menos sou um boy coerente (uuuuuuuh)

(repete refrão)
(grita na karaokê)

Tuesday, February 28, 2017

a franga e a rola (dois começo de duas tradução-twerk d'o corvo de poe)







a franga
(esboço like a prayer by sergio)

abro do whats a janela pra então flertar com ela
quando pousa na varanda, acabada, uma franga;
e ousada ou falsiane fez a kátia ou a egípcia;
com orgulho no carão, veio adentrando minha mansão,
num alvo busto da madonna, que há na minha mansão,
rebolando e pondo o cu.

(...)


a rola
(esboço roleiro by adelaide)

cá estava aqui flertando, vinte nudes te enviando
quando no meu celu pousa foto estranha e duvidosa
passarinho ou periquito pousando no aplicativo
e se o bicho é tão bonito não vou me fazer de boba
dou um printe sem demora e mando pras miga toda:
vejam que lapa de rola!

(...)






ps: tá tudo errado, mais pra reggaeton do que pra "tetrâmetro iâmbico cataléptico" (SEJA LÁ QUE CARAI ISSO FOR), mas a melhor parte d'eu não saber fazer essas coisa direito é prof. sergio mandando áudio tentando me explicar como é afffff

Sunday, February 12, 2017

as dinâmicas do divórcio e os mecanismo de defesa em 4 traduções-recibo de 4 hinos pop dos anos 90 pro recifês



1) na hora da separação (negação)

não fale
(eric stefani, gwen stefani)

Eu e tu
a gente era um casal
todo dia juntos, sempre
mas me sinto
perdendo meu melhor amigo
não consigo acreditar
que é o fim

Parece que tu tás desistindo
e se for isso
eu não quero saber

Não fale
Eu sei exatamente o que tu queres dizer
Então pare de explicar
Não me diga, porque dói
Não fale
Eu sei o que tu tás pensando
Eu não preciso saber os motivos
Não me diga, porque dói

Nossas lembranças
podem ser convidativas
mas algumas são totalmente
assustadoras

Enquanto morremos, eu e tu,
com as mãos na cabeça
eu sento e choro

Se estamos nos separando
eu tenho que parar de fingir que somos o fomos

Eu e tu
dá pra ver que está morrendo.
Está?

(sssssh, não fale nada, querido).






2) depois, quando a raiva bate e você discute quem vai ficar com as coisas e você finge que quer que se foda (formação reativa)

roxo
(courtney love e eric erlandson)

E o céu tinha a cor da pedra roxa
E todas as estrelas pareciam peixinhos
Você devia saber a hora de ir embora
E a hora de dizer não

Isso podia durar um dia
Mas pra mim é pra sempre
Se bem que quando conseguem o que querem já não querem mais
Então vá em frente, leve tudo, eu quero que você leve tudo

E esse céu todo roxo
Eu quero dar o roxo às ronxas
E eu sou aquela sem alma
Em cima e embaixo

Eu disse a você desde o início como isso ia acabar
Quando eu consigo o que quero, já não quero mais

Então vá em frente, leve tudo, eu quero que você leve tudo
Se eu não me importo, não é você que tem que se importar.




3) na sexta à noite, os eletrodomésticos ficaram, ficou tudo menos o edredom e o homem (isolamento)

sem você eu não sou nada
(steve hewitt, brian molko e stefan olsdal)


Paixão estranha que enfeita minhas marés noturnas
(que eu aguento, se for do teu lado)
Tanta imaginação parece ajudar o deslize do desejo
(que eu aguento, se for do teu lado)
Crush imediato que suga e que gera um monte de mentira
(que eu aguento, se for do teu lado)
Super-saturação que queima e encolhe minha pele
(que eu aguento, se for do teu lado)

(os ponteiros batem)

Sou impura, sem-vergonha
E toda vez que tu dá vazão aos teus brios
parece que perco o poder de fala
Tu saindo do meu alcance
me faz crescer como as sempre-vivas.

Você não conhece a solidão que há em mim.

Eu
pego os planos e jogo fora.
Eu
morro.

Sem você, eu não sou nada.

 
(com bowie, que eu não sou boba)


4) madrugada de sábado pro domingo, falando com a melhor amiga no skype (sublimação)

um dia eu serei tipo um sábado à noite
(jon bon jovi)

Oi miga eu tô viva, vivendo um dia de cada vez
tô me sentindo como uma segunda-feira, um dia eu serei tipo um sábado à noite

Oi, meu nome é ivi, onde foi que eu errei
minha vida é uma zona, tá tudo uma bosta
eu perco todos os empregos, não tenho dinheiro
tô dormindo num colchão velho e sem mola

Oi meu nome é adelaide, meu amor foi usado e abusado
tenho "apenas" trinta e quatro anos mas me sinto como se tivesse cem
meu pai adotivo ex-marido se foi, levando com ele minha paciência
a vida em berlim não é muito melhor, mas pelo menos eu escrevo

Quem sabe na terça-feira as coisas dão certo
pior que ontem não fica
quintas e sextas também não têm sido melhores
"mas às vezes eu saio"

Oi miga eu tô viva, vivendo um dia de cada vez
sim, eu tô triste, mas sei que vai passar
ai miga eu tenho que viver minha vida
como se eu não me restasse nada a não ser a aposta
tô me sentindo como uma segunda-feira, um dia eu serei tipo um sábado à noite

Agora eu não posso dizer o meu nome, e dizer onde eu tô
Eu queria era ir embora mas não sei se posso
Eu queria tá em outro tempo, em outro canto
Ter outra alma, ter outro rosto

É sábado e eu vou sair
que eu tô sentindo que pode ser bom
força na peruca que eu vou ficar bem
pode até não ser amanhã, mas fodase, tudo bem
Eu não vou chafurdar na merda, vou sair dessa.


Wednesday, February 01, 2017

a arte do recibo, transcrição cancerígena de elizabeth bishop para o recibês



The art of recibo isn’t hard to master;
so many recibos are sent to the wrong
referente that the indiferença is no disaster.

Passe one recibo every day. Accept a mensagem
visualizada e não respondida, the recibo badly spent.
The art of recibo isn’t hard to master.

Then practice passar recibo farther, faster:
cite motéis, o nome da outra, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s vergonha na cara. And look! my last, or
next-to-last, of three loved maridos went.
The art of recibo isn’t hard to master.

Perdi duas cidades que amava. And, pior,
some paisagens tão minhas, dois rios, um continente.
I miss them, mas não é nenhuma tragédia.

—Even losing you (taurino e novinho as
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of recibo is not too hard to master
ainda que pareça (PASSE O RECIBO!) uma tragédia.



Tuesday, January 31, 2017

"deve ser amor" e "onda", duas traduções-trambique de rihanna pro recifês


deve ser amor

quando tu me tem, me libera
o que tu quer de mim?
eu tentei comprar teu coraçãozinho mas eita precinho caro
tu me deixasse tipo "caralho"
tu adora quando eu me esborracho
pra tu poder juntar os pedaço
e jogar contra a parede

tu me deixasse tipo putaqueopariu
não pare de me comer
não desista de me comer
só pare de me amar

eu sigo brincando com fogo
só pra poder ficar perto de tu
vamo tocar fogo nas coisa juntos?
e eu vou andando na neve de neukölln a wedding só pra te comer
deve ser amor
que me deixa assim
que me deixa toda roxa mas me fode tão bem
que eu não consigo parar
deve ser amor
que fica botando meu nome na boca do sapo
não importa que porra eu faço, sem tu eu faço errado
mas fico querendo acertar então:
deve ser amor

aí tu vai ficar me comendo
só me coma
só me coma
tudo que tu tem que fazer é me comer
me deixar tipo PELOAMORDEDEUS
pare de me enrolar feito baseado
que porra eu tenho que fazer pra tu gostar de mim?


onda
inspirada em MC G15
p/ sergio


esse uísque me deixou convencida
então mal aê se eu tiver oferecida
eu só queria tu aqui
desculpa por aquele dia
eu sei que eu podia ser mais sutil
e mandar um zap melhor que esse
mas eu enchi as fuça e "vem pra cá"
é tudo o que eu tenho pra te dizer

tu me dá onda, mais onda que esse uísque
passa aqui, bora beber
eu espero que tu ainda teja acordado
porque tu me deixa acesa
bora fumar esse beck, passar a noite em claro
como a gente fazia antigamente
mas aqui tô eu sozinha com um cinzeiro cheio
e muito a dizer



(neukölln)



Sunday, December 25, 2016

the fury of cocks, de anne sexton, em tradução pro brasileiro







A fúria das rolas

Lá vão elas
Pingando sobre os pratos do café-da-manhã,
Como se fossem anjos
com uma asa triste
Animal triste,
Sendo que ainda ontem
Lá estavam elas
Dedilhando o violão.
Mais uma vez a luz do dia vem
Com seu sol imenso,
Com seus caminhões,
Suas amputações.
Considerando que ontem à noite
A rola sabia o caminho de casa,
Dura como um martelo,
Batendo em todos
Com sua força terrível.
Que teatro.
Hoje ela está calma,
Um pássaro pequeno,
Macia como a mão de um bebê.
A mulher é a casa.
O homem é a torre da igreja. 
Quando eles fodem eles são Deus.
Quando eles se separam, eles são Deus.
Quando roncam, são Deus.
De manhã passam manteiga na torrada.
Eles não dizem muito.
Eles ainda são Deus.
Todos as rolas do mundo são Deus,
Brotando, brotando, brotando
No sangue doce da mulher.


essa tradução roleira foi feita para o zine mais pornô, por favor!,  editado por moá e ismar tirelli neto e lançado em dezembro de 2016 no museu do tubarão (att. aslan cabral, #amamos), em recife. 

segunda edição do zine tá no forno. mais detalhes soon.

Tuesday, December 06, 2016

kiss it better, em tradução pro recifês




Chupe direito
letra de rihanna, jeff bhasker, john glass e teddy sinclair



(Chupe, chupe direito, gato)

Tô esperando por aquele sol-nascer, menino, preciso dele de volta
Não dá pra fazer assim
Ninguém vai gozar assim
Aí eu reclamo, tu grita
Mas quem liga quando tá uma merda?
Meu filho você sabe que você sempre acerta
Mermão foda-se seu orgulho
Só continue, meu filho, continue
Continue a noite todinha
Continue e continue
Hummmm o que quer que você faça, só me mantenha acordada a noite toda
Me fazendo gemer e doer dentro de mim quando eu te olhar nos olhos

O que você tá pensando em fazer?
Me diga o que você tá pensando em fazer
(Chupe, chupe direito, gato)

Eu fiquei esperando a noite toda
Me diga o que tá acontecendo
Vá lá e faça as coisas direito
Faça a noite inteira
Mermão foda-se seu orgulho
Só continue, meu filho, continue
Continue a noite todinha
Continue e continue
Hummmm o que quer que você faça, só me mantenha acordada a noite toda
Me fazendo gemer e doer dentro de mim quando eu te olho nos olhos

O que você tá pensando em fazer?
Me diga o que você tá pensando em fazer
(Chupe, chupe direito, gato)




(essa foto cafona é um frame do clipe de kiss it better)


amanhã 7 de dezembro a partir das 20h no museu do tubarão tem FESTA DAS ÁGUAS, com leituras performances shows leituras de tarô concurso de miss yemanjada AND o lançamento do zine
MAIS PORNÔ, POR FAVOR! com curadoria desta adelaide que vos escreve e colaboração yemanjadíssima de ismar tirelli neto, em edição única e tiragem de 50 exemplares.


com poemas de:
rihanna
anne sexton
audre lorde
rita isadora pessoa
maria gabriela Llansol
catulo
allen ginsberg
ricardo domeneck (inédito)
rafael mantovani (inédito)
kavafis
luis miguel nava
jaime gil de biedma
e deus ops hilda hilst




Sunday, November 13, 2016

uma tradução-recibo de um poema de ana martins marques para a língua do ex



fiz essa tradução como se fosse uma conversa no messenger, um recibo da porra passado na madrugada, enfim, como costumam ser com os recibos: enviados sem pensar e sem revisar (haha).

assim, deixei cheio dos erros de sintaxe, costumeiros do meu alemão, que ele dizia que eram um charme (afinal esse recibo é pra ele). tirei também todas as letras maiúsculas dos substantivos (como deveriam ser, em alemôo), engoli letras como na pronúncia da linguagem falada ("habe" vira "hab", "gerade" vira "grad" e assim por diante).

o original não tem nada dessa baixaria, mas como estou me divorciando, tomei a liberdade. peço desculpa a ana de antemão, mas sei que se tem alguém que vai entender, é ela. 

umfall

ich hab diesen gedicht am letzten tag geschrieben
und danach haben wir uns nicht mehr gesehen
am anfang haben wir telefoniert
du klangst als ob du die bahn verpassen würdest
und ich, als ob ich die bahn grad verpassen hätte
ich hab diesen gedicht nach dem ersten telefonat geschrieben
du hast über visa und behörde gesprochen
und über wie man, um ein dokument zu bekommen, ein anderes [braucht
das man nur bekommt, wenn man doch das erste hat
ich hab gesprochen, über die verlorene nächte in der gesellschaft einer [person
die nicht du war
dann langsam hast du mit dem anrufen aufgehört
ich hab diesen gedicht am zweiten sonntag geschrieben
in dem du schon wieder nicht angerufen hast
um das gedicht, wie um einem umfall, 
viele leute haben sich gesammelt
um zu sehen, was war's



(e o original, perfeito, em "o livro das semelhanças", companhia das letras, 2015):

Acidente

Escrevi este poema no último dia
depois disso não nos vimos mais
a princípio trocamos telefonemas
em que você sempre parecia prestes a perder o trem
enquanto eu sempre parecia ter acabado de perdê-lo
escrevi este poema depois do primeiro telefonema
você falava sobre vistos e repartições
e sobre como para conseguir um documento é sempre necessário um [outro
que no entanto só se pode obter de posse daquele
eu falava sobre as noites perdidas na companhia de alguém
que não era você
depois aos poucos você deixou de ligar
escrevi este poema no segundo domingo
em que você de novo não telefonou
ao redor do poema como em volta de um acidente
juntou-se muita gente
para ver o que era


o destinatário

uma tradução de white nights, de paul auster, sábado à noite em são paulo, na rede de gutierrez morrendo de dor nas ancas com chinkungunya, as pessoas devem estar na esbórnia e eu queria estar com elas me esfregando no mundo me pendurando nas barra do metrô e no entanto estou apenas traduzindo e com inveja




Noites brancas

Ninguém aqui,
e o corpo
diz: qualquer coisa dita
não é pra ser. Mas ninguém
é também um corpo,
e o que o corpo diz
ninguém ouve
exceto você.

Neve
e noite. A repetição
de um assassinato
entre as árvores. A caneta
se move
pela terra: ela não sabe mais
o que vai acontecer, e a mão que
a segura
sumiu.

Ainda assim, ela escreve.
Escreve:
no começo,
entre as árvores, um corpo veio andando
vindo da noite. Ela
escreve:
a brancura do corpo
tem a cor da terra. É a terra,
e a terra escreve: tudo
tem a cor do silêncio.

Eu não estou
mais aqui. Eu nunca disse
o que você disse
que eu disse. E ainda assim, o corpo
é um lugar
onde nada morre. E toda noite,
vinda do silêncio das
árvores, você sabe
que minha voz
vai andando até você.

(de paul auster em "wall writing", 1976)



Tuesday, November 08, 2016

uma releitura de joni mitchell pro suplemento pernambuco



para celebrar o 73-gésimo aniversário de joni mitchell, 
o suplemento pernambuco publicou minha releitura 
do poema "song for sharon", que transformei numa carta 

Friday, October 28, 2016

um tipo de perda, de ingeborg bachmann



Juntos usamos: as estações do ano, livros e uma música.
As chaves, os saquinhos de chá, a cesta de pão, lençóis
     e uma cama.
Uma herança de vocabulário, de gestos, trazidos,
     utilizados e gastos.
Obedecidas as regras do prédio. Dito. Feito. E a mão
     sempre estendida.

Sempre me apaixonei pelo inverno, por um quinteto vienense
     e pelo verão.
Por mapas, por uma casinha na montanha, por uma praia,
     por uma cama.
Ritualizo datas, declaro incanceláveis as
     promessas,
idolatro qualquer coisa e sou devota do nada,

( -- do jornal dobrado, do cinzeiro cheio, do papelzinho
      com um recado)
não tenho medo de religião, porque igreja era essa cama.

Da vista do mar nasceu essa pintura incansável.
Da varanda dava pra saudar os povos,
       meus vizinhos.
Perto da lareira, em segurança, meu cabelo tinha
       sua cor mais extrema.
O toque da campainha era o alarme da minha felicidade.

Não foi você que eu perdi,
foi o mundo.



um esboço de fabio maca e o original em alemôo




não conhecia esse poema, que faz parte da reta final da produção em poesia de ingeborg (acho inclusive que esse sequer foi publicado em livro, ela alias só publicou dois de poesia, depois mudou pra prosa e nunca mais voltou). encontrei em "tempo aprazado", as traduções de ingeborg pro português, feitas por judite berkemeier e joão barrento e publicadas pela assírio alvim em 1992. ainda que ache a tradução de berkemeier e barrento muito bonita, não deixa de ser distante da língua falada do lado de cá do atlântico então publico aqui a minha tradução pro português brasileiro.

esse texto me deixou particularmente assanhada porque, ainda que haja aquela coisa véia de exaltação da natureza que ela adora, há aqui também uma perda de controle, é ingeborg histérica, com saudade de transar com o boy. porque claro que não foi o mundo que ela perdeu, ainda que ela diga que foi. foi o boy. e o que é um boy senão o fucking mundo da gente?

tomei a liberdade de mudar algumas coisas do original por achar solene DEMAIS quando em português. 1) "Leintücher" significa lençóis de linho pelamor quem usa essa porra? ficou lençóis na tradução; 2) "Worte" é palavras, escolhi vocabulário por achar que todo casal tem seu léxico particular, não apenas palavras mas um vocabulário próprio que inclui sons, grunhidos, piadinhas internas em comum e toda sorte de bobagens; 3) "der kalten Asche" é cinzas frias e traduzi pra cinzeiro cheio, obviamente não é a mesma coisa no sentido de materialidade, mas é o que a coisa que dizer que minteressa: cinzas frias são os rastros dos cigarros fumados há muito ou as cinzas da lareira há muito apagada - ou seja, o boy que foi simbora - e um cinzeiro cheio também é isso, um tipo de "pegada" emocional, algo ali abandonado.


Wednesday, October 19, 2016

Tuesday, October 18, 2016

sobre fotografia (uma tradução de sara herrera peralta e uma foto véia que eu fiz)


Me mostra as palmas das tuas mãos


Para S.

Na tua frente uma janela.
Um fotógrafo recita um poema
que fala sobre saudade.
Bebem café com os corpos nus.

Olha, te digo, o dia
nasce e é rebelde.

Cansados de tanto vazio,
conhecem as vozes,
o peso do passado,
o cansaço da vida e da beleza.

Quão obsceno o amor na imperfeição,
quão pura a verdade
que é esquecimento para os abandonados
que tentam se amar descalços e sem promessas.

A manhã é a festa sem rumo no céu
e esse espelho quebrado que em pedaços insinua
quem foste, quem hoje pareces ser,
que és tudo o que sobra.

A manhã conhece igualmente dor e abismo.
Vem, me dá a mão,
quero voltar a viver apesar de tudo
com a força do medo e da derrota.

Vem, me mostra as palmas das tuas mãos,
quero que ao me olhares eu saiba
que diferença há
entre um fotógrafo e um poeta,
entre mancha de azeite e água limpa,
entre o horizontal e a curva.

Quero saber se nesta manhã cabe
um lugar de júbilo inventado a base de ternura
para nos olharmos depois.

Quero saber se um fotógrafo sabe olhar
sem uma câmera com a qual capta
momentos tristes.

Quero saber o que responderias
se te digo
que esta manhã me parece
uma lenta batalha entre o amor e a fuga,
uma luz tênue que se apazigua.




berlim, verão de 2010


Friday, October 14, 2016

uma tradução de amie siegel (e a vida sem ensaio e por isso um poema de rita e um poema de wislawa)


Cenário #9

Estou falando por meio de rasuras
removendo cada coisa à medida que ela é
pronunciada. Mas você é contra
isso, para além de método ou rotina.
Com todo esse meu fazer e desfazer

de repente fica difícil dizer
o que nos une
ou o que nos divide

no quarto escuro
onde você me toca
como tocaria a luz.
E eu estou aberta
para você, esperando o dia nascer

e percebendo que você é o tempo
me pressionando, se movendo suavemente
na minha direção. E eu sou agora.










amie siegel é uma artista estadounidense e ainda que ache que o trabalho poético dela deixa muito a desejar pelo seu tom de pregação, simplesmente acho esse poema belíssimo e queria mostrá-los pras senhoras. ele tá no livro "the waking life" (berkeley: north atlantic books, 1999).

o poema começa com ela falando do ato de escrever um roteiro (que é, afinal, aquilo que toda relação se torna) e o que me comove nesse texto é, considerando que a autora é uma artista audiovisual, a reflexão que ela tem sobre a mídia com a qual trabalha, e como ela transporta isso não somente para o poema mas para uma percepção de mundo. 

o jogo de "realidade vs. ficção" que ninguém aguenta mais falar (eu pelo menos num guento mais) parece naturalmente superado por amie, que entende muito bem que a vida em si é uma performance, um eterno luzcâmeraação sem diretor pra ajudar nóis. 

(pausa: isso me fez lembrar de dois poemas:



síndrome de estocolmo, de rita isadora pessoa, do livro
pelas foto)

a vida na hora, de wislawa szymborska em tradução de regina przybycien





amie sabe do que escreve mas sabe também que é necessário haver fendas no plot, como há na vida; não entende se há, entre o casal, atração ou repulsa; e isso não é impedimento, para a autora. o entendimento está justamente em abraçar o caráter plano-sequência da vida. 

o último verso é especialmente maravilhoso, "and I am now", uma dessas pequenas charadas da língua inglesa que me deixam tresloucada (como o "she is all there" da tradução de anne sexton). pode-se traduzir essa frase de várias maneiras, considerando ou contexto, ou entonação, ou a (ausência de) pontuação. 

deixei "igual" (nunca é) ao original ("E eu sou agora") porque para mim pareceu a entonação mais próxima da ideia de continuidade - literalmente aquele "to be continued..." dos filmes, sabe? -, do final em aberto. se ela fosse O Agora, o poema estaria resolvido e terminado. mas considerando que nos versos anteriores há uma ideia de movimento e de incerteza (de edição, afinal), achei que esse final poderia ser um aceno para cenas do próximo capítulo, quase um "cenário #10". 

não sei, pode ser que não, pode ser que tudo seja resolvido com a chegada do boy (que é meu modus operandi na vida real AHAH BRINKS) mas pra este texto achei que ficava melhor assim.

(esse post é dedicado ao italo que no dia do meu aniversário me deu o livro, que é meio ruim mas que tem uns versos muitos bonitos, como estes aí "and i am open/ to you, waiting for the day to close in/ an realizing you are time". aliás leiam italo que é muito bom, e aproveitem leiam a rita também, eles são melhor que amie).


Saturday, September 10, 2016

duas traduções de frank o'hara e umas image



traduzi dois poemas do frank o'mára pro suplemento pernambuco, bem rápido e emocional como o de costume, pensando nos acontecimentos de 31 de agosto de 2016. foi foda porque foi exatamente este o dia em que li estes dois poemas (que estão na coletânea lançada em 2009 pela borzoi poetry), no trem, indo encontrar manuel e bernhard, toda atordoda com o grand finale do golpe, esse teatro, li os poemas e fiquei toda cagada. enfim.

aqui umas fotos e os os scans do livro, com os originais.


essa foto eu mandei pro meu editor
tentando convencer ele que estava trabalhando
(ainda que estivesse de biquini tomando sol
na sala de casa)

essa é pintura à qual frank se refere no poema 
"Depois de ver Washington crossing the Delaware, 
de Larry Rivers, no Museu de Arte Moderna"



poema 1



poema 2