Sunday, August 14, 2016
as roupas, de hans magnus enzensberger
traduzi esse poema hoje de tarde, deitada na rede, mais feliz do que triste, depois de lavar e estender as roupas de um outro menino, que passeava.
As roupas
Lá estão elas, quietas e felinas
no sol, meio-dia,
tuas roupas, folgadas,
reais como um acidente.
Elas cheiram a você, de leve,
se parecem com você.
Elas entregam tua sujeira,
teus maus costumes,
teu cotovelo na mesa.
Elas têm tempo, não respiram,
são sobras, moles, cheias de botões,
funções e manchas.
Nas mãos de um policial,
uma costureira ou um arqueólogo,
elas lhes dariam seu preço de custo
e teus segredos mais fúteis.
Mas onde tu tás, se tás triste,
as coisas que tu queria ter me dito
e nunca dissesse
se as coisas que aconteceram, se foram por amor
ou por necessidade ou por esquecimento
e os motivos das coisas
terem sido assim
como foram
como fatalmente morreram
se tu tás morta, ou se
tu tás deixando o cabelo crescer,
isso tuas roupas não dizem.
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