traduzi esse poema nas carreiras hoje de manhã, mal-dormida depois de ontem; dilma, imensa, tendo que dar satisfação àquela cambada de ladrão, e a gente aqui, suspenso, sem entender nada. e traduzindo esse texto de celan (de die niemandsrose, 1963) me lembrei de outro, de italo diblasi ("gaia ciência", tirado de no limite da navalha, seu primeiro e tão-lindo livro), que copio logo abaixo.
Havia terra neles, e
eles cavavam.
Eles cavavam e cavavam, assim passavam
o dia, a noite. E eles não davam glória a Deus,
esse, ouviam, que queria que tudo fosse assim,
esse, ouviam, que sabia que tudo era assim.
Eles cavavam e não ouviam mais nada,
eles não ficavam mais sábios, não compunham canções,
não inventavam mais nenhuma linguagem.
Eles cavavam.
Veio o silêncio, veio também a tempestade,
todos os mares vieram.
Eu cavo, tu cavas e o verme também cava,
e aquele cantante ali diz: cavem.
Ai de algum, ai de nenhum, ai de ninguém, ai de ti:
Para onde foi, já que não foi a lugar algum?
Ai de ti que cavas e eu cavo, cavo até você
e no nosso dedo desperta a aliança.
(paul celan em tradução minha com colaboração de jakob ganslmeier)
Gaia Ciência
é proibido
cuspir
no prato
é proibido
dormir
no asfalto
é proibido
trepar
no mato
é permitido
açoitar
as massas
é permitido
erigir
as farsas
é permitido
morrer
às traças
paremos, portanto, de fingir
que Nietzsche estava errado
quando enlouqueceu às portas
de explicar esse caralho
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