nada me autoriza muito a editar esse zine a não ser desejo de ser menos ignorante em relação aos nossos vizinhos e vizinhas poetas caribenhos. a ideia de fazer essa edição nasceu da minha ignorância. tudo o que eu sabia sobre o caribe era que rihanna é de barbados. e já que transar é a medida de todas as coisas no meu mundo, fui atrás de desconhecer menos o caribe por meio de sua poesia erótica contemporânea.
capa
contra-capa
(tubinhos, gente!)
encontrei um livro chamado caribbean erotic (da editora peepal tree), de contos, ensaios e poesia, de onde tirei 9 dos 11 poemas dessa edição (menos rihanna e raquel salas rivera). um dos ensaios desse livro é o de imani m. tafara ama, “normas e tabus da sexualidade” no qual, entre outras coisas, ela trata das relações de poder e gênero dentro da cultura popular na jamaica – mais precisamente do dancehall. imani aponta como as “dancehall queens” distorcem conceitos burguês de decência, ao mesmo tempo em que tentam se ajustar às demandas sexistas e misóginas dos “rudeboys” – espécie de gangue masculina dentro do dancehall e que eu só conhecia por causa da música de riri (orgulhosamente traduzida nessa edição).
capa do zine, com ilustração de gerard fortune (haiti)
durante as pesquisas, descobri que 1/3 das caribenhas já sofreu violência sexual e que, segundo a ONU, os índices de violência doméstica no caribe estão bem acima da média mundial, com 3 países do caribe na lista dos 10 com maiores índices de estupro do mundo. aí fiquei me perguntando: qual a relação da mulher caribenha com o brasil? ela existe?
pois existe: segundo o CONARE (comitê nacional para os refugiados), os países com maior número de solicitantes de refúgio no brasil em 2016 foram venezuela (3.375), cuba (1.370), e haiti (646), todos países caribenhos (também estão na lista além angola e síria). não encontrei dados sobre a quantidade de mulheres por país solicitante mas, do total de cerca de 10 mil refugiados no brasil, 32% são mulheres. o caribe está entre nós. as mulheres caribenhas estão entre nós.
pode parecer disparatado eu estar falando disso num editorial de um zine véi de poesia pornô, mas não é: não bastasse eu ser mulher, esse zine tem uma preocupação civil. seria impensável publicar o trabalho de mulheres caribenhas sem abordar um pouco questões atuais das vidas dessas populações, além da literatura (até porque literatura e política não são coisas separadas). são conexões difíceis de traçar, mas que fazem parte da preocupação minha e das pessoas que ajudam esse zine a existir.
VENDAS ENCERRADAS! :)
uma vez que você receber seu zine, pode imprimi-lo, xerocá-lo, fazer o que quiser com ele, quantas vezes quiser. essa edição do zine foi feita em formato retrato A4 exatamente para que você possa imprimir as páginas avulsas e colá-las nas paredes do seu mundo.
não acreditamos em copyright, só em human rights.
beijos,
adelaide
a edição #6 do MAIS PORNÔ, POR FAVOR! tem poemas de afua cooper (jamaica), aurora ferguson (bahamas), colin robinson (trinidad y tobago), lelawattee manoo-rahming (trinidad y tobago), omi j. maya taylor-holmes (não achei país nem ano), raquel salas rivera (porto rico), rihanna (barbados), rosamond s. king (não achei país nem ano), sajoya (jamaica), sandra garcía rivera (porto rico/eua) e paula obé (trinidad y tobago) traduzidos por rafael mantovani (caruaru brinks são paulo), andré capilé (barra mansa), carol morais (recife), angélica freitas (pelotas), mafalda gomes (porto), j. carlos teixeira (porto), chris daniels (oakland), cecília floresta (são paulo), nina rizzi (campinas) e adelaide ivánova (recife).
o MPPF! é um zine independente, anarcobucetalista, que se apropria do termo "pornografia" para espalhar no mundo poesia erótica queer e feminista (brasileira, portuguesa e em tradução), com o objetivo de torcer a lógica misógina, sexista, transfóbica, homofóbica e capitalista do pornô mainstream.
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