Saí de Girona no sábado, na ressaca de um cookie de maconha que comi por educação kkk Depois de recusar vinho, cerveja e carne, quando meus anfitriões por me fim me ofereceram o cookie como sobremesa, eu fiquei com vergonha de recusar mais uma coisa ofertada com tanta gentileza, e comi um pedacinho. Mal sabia eu o quão doidona eu ficaria, #prego, e quanto demorou pra passar (ainda acordei zoró), mas quando finalmente peguei no sono dormi feito um bebê foi top kkk
O trem foi testemunhando a seca terrível na Catalunha, depois foi vendo as nevascas nas comunidades autônomas de Aragón e Castilla La Mancha – uma mudança tão doida de clima, em tão poucos quilômetros de distância, ajudou a dar ainda mais sustentação visual à mudança climática. Cheguei em Madri sábado de noite, só o pó.
A capital espanhola deve ser meu lugar preferido de visitar, depois do nordeste brasileiro – mas dessa vez fiquei poucos dias e deu tudo meio errado. No domingo, fui ao Matadero, mas a Casa do Leitor, que tava com uma expo sobre Italo Calvino, tava fechada; corri pra dar tempo de ver a exposição de Picasso no Reina Sofia, mas também não cheguei a tempo (fiquei triste, queria ter visto, é uma expo toda dedicada ao que ele produziu no ano de 1906; eu gosto muito desse tipo de recorte, porque a pessoa se aproxima do contexto histórico e mais do processo do artista, não somente do resultado, e é por isso que queria ter visto, nao nutro idolatrias, até porque Picasso era escroto); aí depois dessas duas caminhadonas já era de tardezinha, só me restou voltar pra casa andando. Na segunda passei o dia trabalhando com Lia, minha anfitrôa, e Amanda, outra amiga de longa data de Recife. Improvisamos um co-working na casa de Amanda e lá ficamos, na labuta. Apesar de ser trabalho, foi ótimo <3
Na terça finalmente deu certo bater perna e foi mais ou menos bem-sucedido kkk. Comprei um cinto na cor – atenção pro momento o #odiabovesteprada – cerúleo num brechó; endoidei com umas taças de café que eram de um vidro bem robusto, numa loja da cruz vermelha (ou era do exército da salvação? Não lembro) mas além de ser 8 euros cada uma, seria difícil de transportar; dei um google em “melhor tortinha de limão de Madri” e ele me levou para uma doceria muito cara onde a tortinha era só OK, nada d+; por fim comprei um jornal impresso (já que meu celular é pré-pago e não tenho dados pra ler jornal na internet, só se tiver wifi, mas eu queria ficar na rua) e me sentei no meu canto mais amado em Madri, a Plaza de Puerta de Moros.
Não é nada espetacular. É uma praça de bairro, sem muito praquêisso, gente comum, poucos turistas, graças a Deus. Eu amo esse lugar porque meu filme preferido de Almodóvar (que é meu cineasta preferido), A flor do meu segredo, tem uma cena icônica aqui, quando Leo (interpretada por Marisa Paredes) pede ajuda a um desconhecido para tirar sua bota, presente do marido, que estava apertada demais. Quando estive aqui com mamãe, em março de 2015 (no aniversário dela de 60 anos), tiramos uma foto na fonte (que deu a gota serena e nao achei, pra mostrar aqui) e toda vez que venho pra Madri, vou lá. Inclusive teve uma vez que deixei um par de sapatos meus do lado da fonte, porque existe aquela simpatia que se deixamos nossos sapatos num lugar, voltaremos para lá. Quem sabe. Se bem que, com a Europa mais disposta a abraçar a extrema-direita do que a fazer qualquer concessão na distribuição das riquezas, esse plano vai ter que ficar pra outra encarnação.
Muito do que estava no jornal, aliás, era sobre isso – não sobre reencarnação kkk mas sobre as eleições para o parlamento europeu na Espanha e a assim-chamda "ascensão" do partido de extrema-direita espanhol, o Vox. Curioso que ainda se fale em ascensão, porque para mim a extrema-direita já ascendeu. A fase da ascensão já ficou pra trás. Em quase todos os países do norte global, a extrema-direita está estabelecida, determinando debates, empatando políticas públicas, sangrando os orçamentos via austeridade ou corrupção. Não tem mais isso de ascensão, esses atores estão dentro do jogo.
Li o jornal um pouco impressionada com o posicionamento editorial que, não sendo exatamente pró-Palestina, era certamente e abertamente a favor do cessar fogo. Enquanto isso, um senhor fazia um desenho da plaza. Fiquei com vergonha de fotografar. Mas fiz um desenho dele desenhando.
(vao lá ver o trabalho dela!)
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