cheguei na estação de trem usando minha única roupa de domingo: a calça bege de linho, as sandálias de couro made in jaburu, uma camisa branca de botão bem boyfriend, um fedora (mentira, é só pra deixar a descrição do look mais bonita) e meu ray ban vintage (esse eu tenho mesmo). e o anel de coração que jana me deu, é claro.
é que eu achava que viajar de trem ainda era como antigamente - capaz até deu cruzar com catherine deneuve fumando no corredor como naquele filme lá, quem sabe. em córdoba, toda vez que eu comentava que tinha ido pra sevilha ou pra lisboa de autobus, todo mundo fazia cara de "argh que pobre" e depois perguntava: "pero por qué no fuiste de tren? és muy mejor".
então eu realmente achei que era hora de pegar um trem, vamos ser românticos um pouco né galhera, afinal tô indo pra sicilia. e, depois de gastar uma pequena fortuna, peguei um. rumo ao INFERNO.
vê mermo, que eu cheguei na estação termini e vi meu trem todo sujo e pixado, caindo aos pedaços, e eu pensei: "ai que europeu, que lindo". vi um monte de bofe xucro maltratando suas respectivas, falando cuspindo e coçando saco (não preciso dizer que falavam MUITO ALTO, afinal vocês sabem onde estou) e eu pensei: "ai que italianos, que lindos".
e nos primeiros minutos da viagem foi realmente bem romântico. o começo do trajeto é pela área rural, e como a janela tinha que ir aberta (porque não tinha ar condicionado, mas até então eu não estava incomodada) fui sentindo o cheiro lindo de mato e cocô de vaca, e todas aquelas fazendinhas lindas.
depois o trem segue pro litoral, e o cheirinho de sal e todas aquelas cidadezinhas paupérrimas e o mar e a lua crescente! juro, estava tudo indo tão bem...
mas é claro depois tudo virou um inferno, o fato da janela ter que ir aberta significa literalmente comer poeira e fumaça de trilho (no outro dia quando tomei banho a água saiu preta, eu juro por jah). mas isso nem era o pior...
descobri no trem que ser mulher - estrangeira, sozinha, e sem falar italiano, então... nem se fala - na sicília não é a coisa mais fácil do mundo. quer dizer, não que seja fácil em algum lugar, e aqui tampouco. pra ser breve, afinal esse post já tá muito grande, alguns caras (não, eles não eram sexy como os bofe de il padrino, ok?) ficaram me rondando e me fazendo um monte de perguntas, bem simpáticos, num inglês ruim de fuder, e eu sou idiota e respondi um monte delas bem simpática, até que veio uma menina, vittoria, que estava na mesma cabine podre que eu, se apresentou e disse:
eu não quero te assustar mas esses caras vão te roubar.
hahahahahahaha assim! bom, resumindo, na minha cabine só tinha eu e mais duas meninas então as três decidimos não dormir pra cuidar umas das outras. os caras voltaram algumas vezes, mas como nunca dormimos, acho que eles desisitram. vittoria, que é nascida e criada em catania mas mora há uns anos em roma, me explicou que os caras não falavam italiano mas sim dialeto siciliano - pra mim não faz a menor diferença! - e que ela ama a sicilia, mas que as pessoas podem ser bem violentas e desonestas. "mas pense nisso como uma aventura", tentou ela me animar. claro, claro.
tudo que eu queria era voltar pro meu amado autobus. e não a saga não termina aqui. mas conto depois, tô com muito sono. he.
Wednesday, August 05, 2009
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6 comments:
Que delícia Ivi,não desanima não...
Chegou a tua hora de ficar tomando limoncello,beeem geladinho! ;)
Praticamente o conto "Uma viagem indiscreta", da Katherine Mansfield, na sua versão 2009! Que bom que tudo terminou bem.
Está sendo uma delícia acompanhar os relatos da viagem.
Um beijo!
É o melhor guia de turismo que alguém pode querer! Amei!
Parabéns!!!
Bom, descobrí o seu blog tem pouquissimos dias e tô adorando! Como uma outra pessoa disse, parece que estou viajando com vc.
Continua postando que tô louca pra saber as cenas do próximo capítulo!
Um abraço...
http://www.salpimentaeumapitadadeamor.blogspot.com
ai, arranja um mafioso cheio de primos e terno risca de giz com cara de robert de niro!!!
heuheuaheuhae
estou adorando seu relato e compartilho contigo essa sensação de que ser mulher nesse mundo machista não é fácil.
Força e muita energia positiva!
abraços
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