amanhã, dia 01 de junho, é aniversário de 40 anos da morte de dora lara barcelos, integrante da VAR-palmares (a mesma organização de dilma), presa em novembro de 1969 e brutalmente torturada, até ser libertada entre os 70 presos políticos trocados pelo embaixador da suíça no brasil, giovanni bucher, em 1971.
depois de se exilar no chile, ela teve que sair do país após o golpe e a queda de allende, fixando residência na berlim ocidental, em 1974. sem passaporte, com dificuldades de conseguir o asilo no país, marcada pela tortura e pelos abusos sexuais que sofreu na prisão, dora lara barcelos jogou-se diante de um trem na estação de charlottenburg naquele 1° de junho de 1976.
para não esquecer, ricardo domeneck, érica zíngano e eu vamos fazer um pequeno ritual na estação de charlottenburg, onde dora se matou. vamos ler, em sua homenagem, poemas de hilda hilst, wislawa szymborska e ingeborg bachmann - cujo poema eu, pensando em dora, traduzi e publico aqui:
ingeborg amor canceriano da minha vida
Exílio
Eu sou um morto que perambula
em canto nenhum registrado
desconhecido no reino da política
supérfluo nas cidades douradas
e no campo fértil
Eu sou um morto que perambula
em canto nenhum registrado
desconhecido no reino da política
supérfluo nas cidades douradas
e no campo fértil
descartado já há muito
e totalmente esquecido
Apenas vento, tempo e som
que eu, entre pessoas, não posso viver
Eu com a língua alemã
essa nuvem ao meu redore totalmente esquecido
Apenas vento, tempo e som
que eu, entre pessoas, não posso viver
Eu com a língua alemã
que eu
considero minha casa
me arrasto entre todas as línguas
Ai, como ela se eclipsa
a escuridão, o som da chuva
é pouco o que cai
Então é para onde tem luz que ela leva seu morto.
Exil
Ein Toter bin ich der wandelt
gemeldet nirgends mehr
unbekannt im Reich des Präfekten
überzählig in den goldenen Städten
und im grünenden Land
abgetan lange schon
und mit nichts bedacht
Nur mit Wind mit Zeit und mit Klang
der ich unter Menschen nicht leben kann
Ich mit der deutschen Sprache
dieser Wolke um mich
die ich halte als Haus
treibe durch alle Sprachen
O wie sie sich verfinstert
die dunklen die Regentöne
nur die wenigen fallen
In hellere Zonen trägt dann sie den Toten hinauf
me arrasto entre todas as línguas
Ai, como ela se eclipsa
a escuridão, o som da chuva
é pouco o que cai
Então é para onde tem luz que ela leva seu morto.
Exil
Ein Toter bin ich der wandelt
gemeldet nirgends mehr
unbekannt im Reich des Präfekten
überzählig in den goldenen Städten
und im grünenden Land
abgetan lange schon
und mit nichts bedacht
Nur mit Wind mit Zeit und mit Klang
der ich unter Menschen nicht leben kann
Ich mit der deutschen Sprache
dieser Wolke um mich
die ich halte als Haus
treibe durch alle Sprachen
O wie sie sich verfinstert
die dunklen die Regentöne
nur die wenigen fallen
In hellere Zonen trägt dann sie den Toten hinauf
convido minhas leitorinhas queridas a, caso lhes interesse, lembrar da vida e morte severina de dora em suas redes sociais, com a hashtag #doralarabarcelos. podemos linkar seu perfil no wikipedia, ou o documentário "Brazil: A Report on Torture" filmado no Chile em 1971 e no qual dora é entrevistada ou, para quem gosta de textão, esse ótimo artigo (em português!) do centro de direitos humanos de nuremberg. qualquer gesto é importantíssimo porque, nesse momento que o brasil vive, temos que lembrar e valorizar nossas mulheres e nossa her-story. e socê tiver em berlim, aparece na estação amanhã às 19h30 :)