uma questão me intriga há muito tempo. o tópico que hoje vou dividir com vocês, aliás, é velho assunto pros ouvidos de alguns poucos amigos com quem posso compartilhar mais a fundo o fato de que passo muito tempo pensando muito em coisas que,
que,
sei lá.
pois sim:
e se?
a questão central da minha indagação versa sobre aqueles 2 segundos entre uma escolha e outra. picture yourself numa bifurcação, tipo aquela d´o mágico de oz. você está à frente de duas (às vezes mais, se a vida for difícil (ou fácil)) possibilidades. você tem que, como dizem, "fazer uma escolha".
são decisivos aqueles 2 segundos entre uma coisa e outra.
sempre me pergunto os elementos cruciais que determinam uma escolha no lugar de outra. e sempre me pergunto, ainda mais dolorosamente, os outros caminhos possíveis que se me estariam disponíveis se eu tivesse escolhido o outro percurso da estrada (os quais nunca vou conhecer).
perguntei isso a armin, na nossa última (eu não sabia que era a última) noite juntos, na beira do rhein:
"sempre me pergunto os caminhos que te fizeram sentar na minha mesa, naquela noite em lisboa".
para o que ele respondeu:
"ivi, eu sentei na sua mesa porque era a única com uma cadeira vazia".
para o que eu pensei, um pouco decepcionada com a falta de visão do bávaro:
"sim, imbecil, mas o que fez com que todas as cadeiras estivessem ocupadas e a única vazia fosse exatamante a minha?".
talvez esse fato (o fato dele não ter conseguido dar continuidade à conversa, ou o fato de eu ter desistido de dar continuidade à ela) fosse o mais contundente sinal de que pouco adiante poderíamos ir.
eu sempre me pergunto:
e se aos 12 anos eu não tivesse tido aquela crise de asma? e se minha mãe não tivesse me levado àquele consultório? e se minha vó não tivesse saído da sala?
aí eu não teria amado hole, não teria feito tatuagens, não teria escrito poemas suicidas com 13 anos. eu teria medo de abordar o menino com cabelo cor de areia de praia molhada, eu teria um namorado dos 15 aos 25.
talvez eu tivesse sido normal.
e se eu tivesse sido normal,
eu não teria me entregue a isso tudo, eu teria mais tédio, eu saberia que tinha coisas a perder e teria feito as entediantes escolhas seguras.
e eu teria sido feliz.
mas se eu tivesse sido feliz,
eu não teria escrito tanto, e fotografado tanto, e amado tanto, e ouvido tanta música boa e tanta música ruim, eu não teria bebido tanto.
e se eu não tivesse bebido tanto,
eu não teria sido brutalmente magoada, e eu não teria que acordar sozinhasangrando e com medo, e não teria que ligar pra clarissa chorando.
e teria vivido pra sempre em recife.
e se eu tivesse vivido pra sempre em recife,
e nunca teria tido a grande depressão que me fez desistir de recife e finalmente viver minha vida em são paulo (que era já onde morava e não aceitava) e me fez querer ir cada vez mais longe.
e se eu não tivesse tido asma e ido ao médico errado e se minha vó não tivesse saído da sala e se eu não tivesse a sensação de que não tinha nada a perder e não tivesse falado com o menino com cabelo vocês-sabem-de-que-cor e não tivesse vivido como num filme e não tivesse bebido tanto e não tivesse acordado naquele quarto imundo e se não tivesse tido minha grande depressão,
eu não teria conhecido armin, e eu não estaria em berlim agora,
ouvindo edith piaf,
tendo a mais absoluta certeza de que eu não gosto de viver assim,
mas de que eu não poderia ser mais dona de meu destino,
e não poderia estar mais orgulhosa de mim mesma:
eu sobrevivi.